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Em outubro de 1855, Soren Kierkegaard sofreu uma queda na rua e foi hospitalizado, com paralisia nas pernas. Recusando-se a receber assistência religiosa, faleceu quarenta dias depois, em Copenhague, em 11 de novembro de 1855.
“Victor Eremita”, “Johannes de Silentio”, “Constantin Constantio”, “Hilarius Bogbinder”, “Anti-Climacus”. Por trás desses pseudônimos curiosos escondeu-se o grande filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard. Conhecido por levar uma vida solitária e isolada, Kierkegaard foi um dos fundadores da filosofia existencialista.
Filho de um próspero comerciante e de uma empregada doméstica, Kierkegaard nascido em 5 de maio de 1813 em Copenhague, recebeu desde cedo formação religiosa luterana. Em 1830, ingressou no curso de teologia e filosofia da Universidade de Copenhague, interrompido com a morte de seu pai, em 1838.
Antes, em 1837, conheceu Regine Olsen, com quem viveu uma história fabulosa. Logo após tê-la pedido em casamento, Kierkegaard desistiu de casar-se. Para justificar o rompimento, elaborou um complexo conjunto de razões, que incluíam suas crises depressivas e um histórico familiar de infortúnios e desgraças. Com o pretenso objetivo de salvar a reputação de Regine, fez com que parecesse à sociedade ter sido ela a romper o noivado. Fugiu então para Berlim, onde passou seis meses.
Descobriu mais tarde que Regine casara-se com o alto funcionário Johan Schlegel, mais tarde nomeado governador das Índias Dinamarquesas Ocidentais.
Em 1841, Kierkegaard concluiu o curso universitário com uma tese sobre o filósofo grego Sócrates, intitulada “Sobre o Conceito de Ironia”.
A partir daí, Kierkegaard tornou-se um filósofo e um escritor prolífico. Escreveu centenas de textos, a maioria ensaios, sobre variados assuntos, entre os quais ataques à filosofia de Hegel e escritos sobre ética, estética e política.
Entre seus primeiros escritos estão “Temor e Tremor”, “A Repetição” e “A Alternativa”. O pensamento de Kierkegaard não foi sistematizado numa grande obra, mas disseminou-se num grande conjunto de prefácios, ensaios, sátiras, novelas, resenhas e sermões.
Em meados da década de 1850, Kierkegaard tornou-se um reformador religioso. Atacando a prática religiosa vigente, que sobrepunha o poder estatal ao poder religioso, advogou um cristianismo autêntico, baseado na fé e na conversão.
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Alguns pontos fundamentais do pensamento de Kierkegaard podem ser assim sintetizados:
A) Ser e Existir – ser é permanecer idêntico a si mesmo; é permanecer o mesmo. Só Deus é sempre o mesmo. O homem, ele não o é; ele evolui, torna-se, ele existe. Existir é tornar-se, mudar, se transformar, se procurar. O homem existe, Deus não existe, Deus é. O homem busca seu ser: ele é o não-ser à procura do ser ou o eu em busca do eu absoluto.
B) Angústia e Desespero – síntese dolorosa de dois princípios opostos, o temporal e o eterno, do que passa e do que dura. O homem “desperto” tem a vontade da duração, a vontade do absoluto, desejoso de perfeição – o que traz à tona precisamente sua imperfeição –, e por isso sofre e conhece o desespero. O desespero é sempre a experiência do limite: o que eu posso ser não o sou e o que eu sou não quero ser. Busco o plus-ser mas não conheço concretamente o caminho; muitas vias se oferecem a mim e não sei qual escolher. Vertigem do indivíduo ao qual se apresentam diversas possibilidades contraditórias: angústia da condição humana. Para Kierkegaard, angústia e desespero não comportam a princípio aspectos negativos. Desesperar é útil e desejável pois desperta o homem para a consciência de seu valor eterno.
C) Estágios da vida – o estágio estético em que o homem busca o desfrute e o prazer, carnal ou intelectual, na paixão momentânea. Um grande desejo, jamais satisfeito, mudando sem cessar de objeto: desejo selvagem, individualismo romântico, amor, música e fantasia sobre um fundo de melancolia desesperada. E então, salvo se soçobrar diante da apatia e do suicídio, o homem pode passar a uma outra maneira de existir. No estágio ético, o homem busca um princípio de unidade para dar sentido e valor à existência. À irresolução fantasiosa do esteticismo sucede a decisão, a vontade de cumprir seu dever. O homem ético é aquele da escolha séria, do engajamento.
D) Liberdade de escolha – cada homem carrega a responsabilidade de seu próprio destino; corresponde-lhe a escolha e a necessidade de se transformar. Eu escolho o quero ser, eu escolho agindo. E ajo na condição de esteta, de ético ou de homem religiosos. E essa escolha não é dada pela reflexão, é ato de vontade: o pensamento pensa a escolha, ele a precede ou a segue; o pensamento a precipita ou retarda, mas não é a escolha. O desespero pode me empurrar para a escolha, aos “saltos”, de uma esfera a outra.
Também nessa data:
1417 – Martinho V é eleito papa e reunifica a Igreja Católica
1821 – Nasce o escritor russo Fiodor Dostoiévski
1918 – Alemanha assina armistício que põe fim à I Guerra Mundial
1975 – MPLA proclama a independência de Angola
2004 – Morre Yasser Arafat, Nobel da Paz e líder da Autoridade Palestina