Herman Melville, escritor, poeta e ensaísta norte-americano, morre em Nova York em 28 de setembro de 1891, aos 72 anos, em total obscuridade. O obituário do jornal The New York Times registrava o nome como “Henry Melville”. Embora tenha obtido grande sucesso no início da carreira, sua popularidade foi decaindo ao longo dos anos. Faleceu sem conhecer o sucesso que sua mais importante obra, o romance “Moby Dick”, alcançaria no século XX. O livro foi publicado em 1851 sob o título de “A Baleia”, não obtendo sucesso de crítica.
Herman Melville foi o terceiro filho de Allan e Maria. Quando criança teve escarlatina, o que afetou permanentemente sua visão. Mudou-se com a família, em 1830, para Albany, onde frequentou a Albany Academy. Após a morte do pai, em 1832, teve de trabalhar inicialmente como bancário, depois professor e fazendeiro.
Em 1839, embarcou como ajudante no navio mercante St. Lawrence, com destino a Liverpool e, em 1841, no baleeiro Acushnet, a bordo do qual percorreu quase todo o Pacífico. Quando chegou às ilhas Marquesas, na Polinésia Francesa, decidiu abandoná-la para viver junto aos nativos. Suas aventuras como “visitante-cativo” da tribo de canibais Typee foram registradas no livro “Typee”, de 1846.
Ainda em 1841, embarcou no baleeiro australiano Lucy Ann e acabou se unindo a um motim organizado pelos tripulantes. Melville foi preso, tendo fugido pouco depois. Todos esses acontecimentos são descritos em seu segundo livro “Omoo”, de 1847. No final de 1841, embarcou como arpoador no Charles & Henry, em sua última viagem, retornando a Boston como marinheiro, em 1844. Seus dois primeiros livros lhe renderam muito sucesso de crítica e público e certo conforto financeiro.
Em 1849, lançou seu terceiro livro, Mardi, que se inicia como uma aventura. No entanto, se desenvolve de modo mais introspectivo, desagradando o público. Retomou à antiga fórmula, lançando duas novas aventuras: “Redburn” (1849) e “White-Jacket” (1850). Em seus novos livros já era possível reconhecer o tom visivelmente mais melancólico que adotaria a seguir.
“Moby Dick” é publicado em Londres, em 1851. O fracasso de vendas fez com que seu editor recusasse o manuscrito, hoje perdido, “The Isle of the Cross” (A Ilha da Cruz).
“Moby Dick” foi vítima de todo tipo de interpretação, mas os elementos culturais da obra deixam claro o tipo predominante de abordagem.
Pode-se perceber na mistura de etnias da tripulação do baleeiro, a presença de culturas distintas que chegaram aos Estados Unidos desde o ‘boom’ da industrialização. Com os imigrantes vieram também suas crenças. Esta era a realidade em 1891. A interpretação do narrador gira principalmente em torno de uma característica da baleia – sua brancura a qual o autor dedica um capitulo inteiro, simbolizando a própria pureza da vida cristã da nação norte-americana.
Os temas abordados representam as condições humanas: aventura, ciência, metafísica, filosofia, a sujeição do homem a lei do mais forte, a fúria da natureza, bem como o juízo divino sobre o homem. “Moby Dick” serve também como critica aos preconceitos da época visto que o país estava perdendo sua “identidade nacional”, devido à mistura de culturas. Portanto, o universo de “Moby Dick” não une os homens do navio baleeiro mas os aparta levando-os a ruína total.
Paola Orlovas
Herman Melville, escritor, poeta e ensaísta norte-americano, morre em Nova York em 28 de setembro de 1891, aos 72 anos, em total obscuridade
O livro foi revolucionário para a época, com descrições intricadas e imaginativas das aventuras do narrador Ismael, suas reflexões pessoais, e trechos de não-ficção, sobre assuntos, como baleias, métodos de caça, arpões, detalhes sobre as embarcações e funcionamentos, armazenamento de produtos extraídos das baleias.
A obra foi inicialmente mal recebida pelos críticos e pelo público, mas com o passar do tempo tornou-se uma das mais respeitadas da literatura em língua inglesa, e seu autor é agora considerado um dos maiores escritores norte-americanos.
A história começa quando Ismael resolve trabalhar na marinha mercante, se instalando na hospedaria “O espiráculo”, onde conhece Queequeg. Embarcam no navio The Pequod, mas antes Ismael recebe um aviso que o capitão, Ahab, é louco, possui “demônios”. E anuncia que tem um único e verdadeiro ódio: a baleia Moby Dick. Quando Ismael dá o seu primeiro olhar fica espantado: descobre que o capitão perdeu uma perna pela mordida do monstro.
A viagem dura três longos anos de relação com o capitão Ahab. E não só, havia tripulantes de todas as origens. Starbuck, pertencente à religião Quacre tenta convencer o velho Ahab que Moby Dick é um animal irracional. As relações de Ahab e Starbuck são de amizade e ambição. Incidentes ocorrem com os dois.
A hora da batalha entre a razão humana e animal começa. No fim da batalha, o Pequod é destruído. Ismael é o único sobrevivente e não tem mais nenhuma atração em voltar ao mar à procura de baleias. Em Moby Dick, a loucura obssessiva de Ahab contagia toda a tripulação, até os mais prudentes e cautelosos. Era assim que Melville via a América, uma nação democrática e progressista, sendo arrastada às trevas e à loucura coletiva por causa da demência e obsessão de um só homem.
Melville lançou “Moby Dick” aos 32 anos. Nesta obra investiu todo o talento e erudição, buscando resgatar sua reputação literária. De acordo com seu biógrafo, o dia do lançamento foi o mais feliz da vida de Melville.
Contudo, chegavam a Boston as primeiras resenhas dos jornais da Inglaterra, onde o livro havia sido publicado um mês antes. A obra foi destroçada pelos críticos. Depois de Moby Dick nem mesmo a reputação de escritor resistiu. Sepultou a carreira literária do autor. Passou os 40 anos seguintes no anonimato. Quando morreu, ninguém dele se lembrou. Afinal, “Moby Dick” não era tão ruim quanto disse a crítica inglesa nem tão bom quanto diz a inteligentsia norte-americana hoje.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.