A cruzada anti-imigração do premiê britânico David Cameron, do Partido Conservador, que prometeu em campanha reduzir para 100 mil o número de ingressos anuais no país até 2015, já gera reflexos negativos na competitividade do ensino superior do Reino Unido, que teme perder alunos estrangeiros para Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Em seu último pronunciamento, a ministra do Interior, Theresa May, anunciou um endurecimento nas regras para emissão de visto de estudante em países considerados de “alto risco” pelo governo britânico – entre eles está o Brasil. Cerca de 100 mil estudantes, ou metade do número total de pedidos de visto, serão sabatinados nos consulados britânicos de seus países antes de obter permissão de entrada no Reino Unido.
Agência Efe
Em campanha, o conservador Cameron prometeu reduzir para 100 mil o número de estrangeiros que entram no país para estudar
A iniciativa acendeu o sinal amarelo na Universities UK, entidade que congrega os serviços de ensino superior no Reino Unido. O setor é notadamente deficitário e depende das matrículas de estudantes estrangeiros, que geram caixa para manter as taxas em níveis mais baixos para alunos britânicos e europeus.
Para cursar um mestrado de um ano, por exemplo, o estudante não-europeu paga pelo menos três vezes mais do que um britânico ou europeu – algo em torno de R$ 32 mil ante R$ 10 mil. A diferença nos valores equilibra a balança e movimenta um mercado de 8 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 26 bilhões).
No entanto, o endurecimento das regras para obtenção de visto “está afugentando os estudantes estrangeiros”, segundo o chefe da Universities UK, Nicola Dandrige, um crítico feroz das políticas anti-imigração do governo conservador britânico. As estatísticas mostram que a tendência é de forte queda no número de matrículas para os próximos anos.
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“Os verdadeiros estudantes internacionais deveriam ser bem-vindos, e não dissuadidos de virem ao Reino Unido. Isso é bom para as universidades, bom para os negócios”, afirmou Dandridge, em resposta à aplicação da sabatina. “Mais uma vez, é temerário que o Reino Unido esteja projetando uma mensagem inconsistente no exterior”, escreveu.
Ele continuou: “O que as universidades precisam é de apoio do governo para um crescimento sustentado no número de estudantes legítimos. Há um potencial real para que estudantes internacionais contribuam para o crescimento econômico no Reino Unido. Essa é uma história de sucesso no Reino Unido e os benefícios dos estudantes legítimos vão muito além dos campi universitários.”
Porém, dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas britânico mostram que houve uma queda de 26% no número de vistos concedidos para estudantes em 2012, especialmente para alunos de mercados considerados interessantes pelo Reino Unido, como China, Índia, Arábia Saudita e Paquistão.
Até março de 2011, eram 175 mil estudantes não-europeus imigrando para o Reino Unido. Um ano depois, em março de 2012, o número havia caído para 163 mil. “Os números são particularmente duros dado o rápido crescimento do mercado internacional de ensino”, comentou Dandridge. O Reino Unido, por enquanto, só fica atrás dos Estados Unidos como principal destino dos estudantes internacionais.
'Rotas de abuso'
O cabo de guerra entre as universidades britânicas e o governo conservador teve seu ápice em agosto do ano passado, quando o Departamento de Imigração do Reino Unido decidiu revogar, durante o ano letivo, a licença da London Metropolitan University para receber alunos estrangeiros.
A decisão criou um limbo para centenas de pessoas, entre eles vários brasileiros, que já estavam matriculados na universidade, com o curso pago, mas não sabiam se conseguiriam obter o visto. Outros, que já estavam na metade de seus cursos na London Metropolitan, ficaram sem saber se seriam diplomados.
A repercussão do caso foi bastante negativa e gerou revolta na Universities UK. Até que a situação legal dos estudantes fosse resolvida, os danos foram considerados irreversíveis para a credibilidade do sistema de ensino superior britânico.
O governo Cameron afirma que o endurecimento nas regras pretende reduzir as “rotas de abuso” do sistema de vistos para estudante. Até março de 2012, a imigração para o Reino Unido havia caído para 183 mil pessoas em 2012, de um total de 242 mil dos 12 meses anteriores. Segundo o Institute for Public Policy, mesmo com as novas medidas o premiê não vai cumprir a promessa e derrubar os números para 100 mil até 2015.