No mesmo dia em que a polícia espanhola confirmou a condição de detido do maquinista do trem da empresa Renfe que descarrilou na quarta-feira (24/07), em Santiago de Compostela, matando 78 pessoas e deixando mais de cem feridos, o presidente da Adif, empresa que administra as ferrovias, acusou-o de ser o responsável pelo acidente, dizendo que “deveria ter freado quatro quilômetros antes”.
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Gonzalo Ferre afirmou hoje (26) que “quatro quilômetros antes do lugar onde o acidente ocorreu, [o maquinista] recebe a notificação de que deve começar a reduzir a velocidade porque tem que sair do túnel a 80 [kilômetros] por hora”.
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Ele afirmou ainda que todos os sistemas de segurança funcionaram e que, em todo caso, o condutor tinha um mapa com indicações porque “esse é o papel do maquinista dentro do trem”, ou seja, “controlar a velocidade”, porque “senão, seria um passageiro”. Ferre afirmou que a curva onde o acidente aconteceu não era perigosa e negou que houve negligência da empresa.
Agência Efe
Francisco José Garzón, o condutor acusado pelo acidente, se recusou a responder interrogatório da polícia hoje
Hoje, Francisco José Garzón, o condutor, usou seu direito de permanecer em silêncio e se recusou a responder às perguntas da polícia durante um interrogatório no Hospital Clínico de Santiago, onde está internado por também ter ficado ferido no acidente. Ontem à noite, ele recebeu voz de prisão por “imprudência”, segundo o chefe superior da polícia da Galícia, Jaime Iglesias, segundo o qual o maquinista é “acusado por um fato delitivo vinculado com a autoria do acidente”.
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Entretanto, apesar das acusações por parte da polícia e de Ferre, os companheiros de trabalho de Garzón afirmam que ele sempre foi um condutor prudente e até diziam, em tom de brincadeira, quando sabiam que um trem estava atrasado: “aí vem Garzón”. O secretário de organização do setor ferroviário da UGT (União Geral dos Trabalhadores) da Galícia, Ángel Rodríguez, disse à Agência Efe que conhece o maquinista desde que ele entrou na Renfe, em 1982, e que “não era dos que corriam”, sendo sempre “muito sensato”.
“Ele talvez seja até muito calmo”, acrescentou Rodríguez, a quem “custa acreditar que cometeria uma imprudência”, tanto por seu caráter quanto porque tem “muita experiência”, já que trabalhava no percurso onde ocorreu o acidente desde que a linha começou a funcionar, há um ano e meio. “É um homem exemplar”, disse, informando ainda que o histórico de Garzón é “impecável”.
Sobre o fato de Garzón ter dito, em uma conversa telefônica logo após o acidente, que estava a 190 kilômetros por hora quando deveria estar a 80, Rodríguez argumenta que, em estado de choque, “não se sabe nem o que diz”. Ele ainda lamentou que estejam “satanizando” e “pré-julgando” Garzón com informações como a de seu perfil no Facebook, onde aparecem fotos de um velocímetro marcando 200 kilômetros por hora, que, segundo ele, não são atuais e poderiam corresponder à parte de alta velocidade do percurso.
Por sua vez, o presidente da Renfe, Julio González Pomar, assegurou que a tragédia “não é um acidente da alta velocidade espanhola” porque “não ocorreu em uma via de alta velocidade”. A empresa participa de um consórcio apontado como favorito para participar da licitação para construção do TAV (Trem de Alta Velocidade) que vai ligar Campinas a São Paulo e o acidente pode excluí-la do projeto.