Os líderes dos refugiados africanos em Israel anunciaram nesta terça feira (07/01) que a greve iniciada há três dias será mantida por tempo indeterminado, até que o governo de Benjamin Netanyahu inicie uma verificação “justa e individual” da situação de cada um deles. O grupo reivindica a concessão de asilo às pessoas que, segundo a lei internacional, se encaixam na definição de refugiados.
“Olhem para nós, falem conosco”, disseram os representantes em entrevista coletiva em Tel Aviv, na qual pediram que o governo de Israel dialogue com eles.
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“Agora já temos uma voz, já temos uma liderança. Se somos parte do problema, também queremos fazer parte da solução”, afirmaram.
No terceiro dia da greve, mais de 10.000 refugiados se reuniram em assembleia no Parque Lewinsky, no sul de Tel Aviv, e aplaudiram a proposta de continuação da greve.
Guila Flint/Opera Mundi
Greve de milhares de refugiados africanos já é perceptível nas ruas de Tel Aviv
Em Israel se encontram 53 mil imigrantes do Sudão e da Eritreia, que fugiram de seus países pois corriam perigo de vida e entraram no território israelense a pé, atravessando o deserto do Sinai. Em 2013 Israel fechou a fronteira com uma cerca e, desde então, o fluxo de refugiados foi totalmente interrompido.
A maioria deles trabalha em hotéis, restaurantes e no departamento de limpeza da prefeitura de Tel Aviv.
Na cidade já se sente a ausência dos trabalhadores. As ruas não são varridas há 3 dias, em muitos dos restaurantes se serve comida em pratos descartáveis, pois não há quem lave a louça, e vários hotéis informaram que a situação está ficando “catastrófica”.
No entanto, à medida que o movimento dos refugiados vai ganhando mais visibilidade, também aumenta o apoio dentro da sociedade israelense.
Nesta terça, a Federação dos Agricultores, a Associação dos Hotéis e o Sindicato dos Trabalhadores de Limpeza manifestaram apoio ao movimento dos refugiados e exigiram que o governo lhes conceda permissões de trabalho, em vez de enviá-los para as prisões no sul do país.
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Ativistas de direitos humanos israelenses, que participam das manifestações dos refugiados, qualificam como “vergonhosa” a atitude do governo.
“Eu também fui refugiado e me identifico com vocês”, declarou Reuven Abarjil, líder histórico do movimento Panteras Negras, que nos anos 1970 lutava contra a discriminação dos judeus orientais em Israel.
Greve de fome
Cerca de 150 refugiados africanos que se encontram na prisão de Saharonim, no deserto do Negev, iniciaram hoje uma greve de fome, exigindo liberdade e reconhecimento de seus direitos de refugiados.
Segundo porta-vozes do movimento, a greve de fome também é por tempo indeterminado.
Israel construiu duas prisões no sul do país. A prisão de Saharonim é um campo cercado por arames farpados, de regime totalmente fechado.
A segunda prisão, de Holot, é classificada pelo governo como um “campo aberto”. No entanto, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados publicou um comunicado afirmando que Holot é uma “prisão para todos os efeitos”.
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Lá os refugiados detidos devem se apresentar às autoridades três vezes por dia e são obrigados a dormir no local. Entre as chamadas eles podem sair, mas como a prisão fica no meio do deserto, não têm para onde ir. Aqueles que se ausentam de Holot por mais de 48 horas são enviados para Saharonim.
Em setembro de 2013, o Supremo Tribunal de Justiça de Israel cancelou uma lei que permitia a prisão sem julgamento de refugiados por um período de três anos.
O governo fez uma alteração na chamada “lei dos infiltrados”, diminuindo de três para um ano o período em que os refugiados podem ser presos sem julgamento.
Em decorrência da decisão da Suprema Corte, o governo também deu inicio à construção do suposto “campo aberto”.
“No campo aberto nós oferecemos aos infiltrados todas as necessidades básicas”, disse o ministro do Interior, Gidon Saar.
Guila Flint/Opera Mundi
Refugiados explicitaram suas reivindicações em entrevista coletiva nesta terça-feira
Para Haider Hassan Didan, refugiado do Sudão, “em Holot eles nos dão comida, água e uma cama – essas são as necessidades básicas de um ser humano? E a liberdade? E os nossos sonhos de viver de maneira digna? O ministro Saar gostaria de viver em uma prisão no meio do deserto?”.
Posição irredutível
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que “manifestações e greves não vão adiantar, já retiramos 2.600 infiltrados no ano passado e neste ano pretendemos retirar um número ainda maior”.
“Eles não são refugiados, mas sim infiltrados ilegais”, acrescentou Netanyahu.
Segundo o refugiado sudanês Mutasim Ali, “as opções que o governo de Israel nos oferece são terríveis: a prisão ou a expulsão de volta para nossos países, onde corremos risco de vida”.
“Não temos o que perder”, disse Ali. “Continuaremos com a greve e as manifestações até que o governo fale conosco”.