Agência Efe
Conservador Sebastían Piñera vive seus últimos dias como presidente do Chile
Sebastián Piñera recebeu nesta segunda-feira (04/03) cerca de 500 pessoas em um dos pátios do Palácio de La Moneda. O conservador, que vive seus últimos momentos como presidente do Chile, discursou para um público recheado de colaboradores mais importantes do seu governo, e entregou a eles, e em cadeia nacional, um balanço de sua gestão.
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Em cerca de 80 minutos, Piñera seguiu a pauta de balanços feitos em anos anteriores, destacando os números macroeconômicos como o grande legado do seu governo. Entre eles, a criação de empregos (que manteve as cifras de desocupação ao redor dos 6% ao mês) e o crescimento econômico (com média superior aos 4% ao ano, segundo dados do Ministério de Economia, ainda faltando contabilizar os números dos últimos seis meses), que segundo o presidente, “mostraram ao país como as ideias da nova direita chilena são capazes de melhorar a vida dos chilenos mais vulneráveis”.
Piñera também falou sobre partidos opositores ao seu governo: “fizeram uma campanha do terror antes de nós assumirmos, dizendo que acabaríamos com os programas sociais (implantados no primeiro governo de Michelle Bachelet), e durante o mandato tentaram criar obstáculos com nossos melhores projetos”.
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O analista político Marco Moreno, da Universidade Central do Chile, contesta alguns números econômicos da gestão de Piñera, mas não nega que eles são suficientes para posicioná-lo como referência da direita nos próximos quatro anos, quando voltarão a ser oposição.
“As cifras econômicas nem sempre coincidem com uma melhora na qualidade de vida. O baixo desemprego, por exemplo, omite o fato de que mais de 70% pagam salário mínimo (que no Chile é de 210 mil pesos, ou R$ 870 reais, aproximadamente). Mas não se pode negar que o governo manteve uma certa estabilidade, o que foi um dos seus pontos positivos”, analisa Marco Moreno
Já os pontos fracos, segundo o analista político, são a pouca ênfase no discurso da segurança pública – que “é um clássico da direita em qualquer lugar do mundo, mas que saiu dos destaques, talvez por não apresentar estatísticas positivas” – e também a falta de um maior sentido republicano.
“Em muitos momentos, o presidente parecia falar somente para o seu setor político, criticando a oposição em cada tema que abordava, e chegando a dar diretrizes de como a direita deve atuar daqui para frente, algo pouco usual de cerimônias oficiais como esta”.
O mandatário lembrou o resgate dos 33 mineiros presos em Atacama, em outubro de 2010, como uma das façanhas mais importantes do eu governo. Fez um resumo das obras de reconstrução do país após o último grande terremoto no país (em fevereiro de 2010) e finalizou destacando alguns projetos que serão os emblemas sociais do seu governo, como a nova lei de pós-natal (que elevou de três a sete meses o benefício para as mulheres, e incluiu duas semanas para os homens) e a chamada Lei Zamudio, como ficou conhecida a lei anti-discriminação, inspirada no caso de um jovem homossexual assassinado por um grupo neonazista.
Crise educacional
O momento mais delicado da cerimônia foi quando Piñera falou sobre educação, e fez um mea culpa sem especificar os motivos, o que deu a entender que se tratava da crise educacional que marcou a maior parte do seu governo.
“Foram cometidos erros, dos quais peço desculpas ao povo chileno, mas desses erros nós aprendemos a fazer um governo melhor”, disse. Logo depois, começou a falar em números da educação, sem explicitar se as desculpas se referiam ao tema”.
Para o analista político Marco Moreno, “provavelmente, o presidente apostou em falar de educação com um tom mais humilde, mas foi traído pelos nervos. E ele se mostrou nervoso em grande parte do discurso. Ainda assim, foi uma tentativa de omitir o ônus mais pesado que este governo vai carregar em sua imagem, terminar seu período sem revolver sua crise mais importante”.
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Entre os avanços realizados em educação, foram ressaltados os estabelecimentos inaugurados na rede de educação pré-escolar – que junto com a rede de creches, são as únicas no país onde existe gratuidade na educação pública. “Sabemos que os mais pequeninos não marcham, e suas opiniões são ignoradas pelos que falam em nome dos estudantes, mas não é por isso que o governo vai deixar de trabalhar por eles”, analisou o presidente.
Desde 2011, Piñera tem enfrentado diversos protestos do Movimento Estudantil, que reuniram cerca de 100 mil aderentes em média, e levaram mais de 70% da sociedade chilena a apoiar as demandas de gratuidade na rede pública de ensino e fim ao lucro na educação. Apesar da pressão nas ruas durante três anos, o governo não cedeu, e manteve o modelo educacional em que até as escolas e universidades públicas cobram mensalidade.
Nas últimas eleições, a presidenciável governista Evelyn Matthei defendeu o modelo atual, com o argumento de que “o dinheiro público seria usado para financiar a educação tanto dos pobres quanto dos ricos, o que seria injusto, porque os ricos têm condição de pagar”, mas perdeu as eleições, com apenas 37% dos votos. A vencedora Michelle Bachelet, que teve 63%, prometeu uma reforma educacional com todas as demandas prometidas pelos estudantes, e ainda construiu uma nova coalizão que contou com o apoio de alguns líderes das marchas de 2011, como Camila Vallejo e Giorgio Jackson e Karol Cariola – os quais, por sua vez, foram eleitos deputados.
Últimas pesquisas
Horas antes do balanço final, o instituto Adimark divulgou a que foi a última pesquisa de medição do atual governo. Nela, Piñera aparece com 50% de aprovação (12% a mais que na época das eleições, em dezembro de 2013), e um índice de rejeição de 36% (16 pontos a menos). A pesquisa Adimark não costuma ser levada em conta pela esquerda, devido a que o dono do instituto, Roberto Méndez, é um militante de direita, e foi chefe de campanha de Piñera em 2010.
Já o instituto CEP (Centro de Estudos Públicos), considerado o mais confiável do país, deu seu último parecer sobre o governo no último mês de dezembro, e apontou que Sebastián Piñera termina seu mandato com 34% de avaliação positiva, enquanto que a negativa ficou em 46%.