Proprietário de uma rede de sorveterias e ativista, o norte-americano Neal Gottlieb escalou até o topo da montanha mais alta de Uganda, o pico da Margarida, e hasteou uma bandeira de arco-íris em protesto pela recente criminalização da homossexualidade no país africano. Em sua página no Facebook, Gottlieb também escreveu uma carta destinada ao presidente de Uganda, Yoweri Kaguta Museveni.
Reprodução/ Facebook
“Pessoas que você deseja aprisionar são as mesmas que podem ajudar a Uganda a tornar-se uma grande nação”, diz Gottlieb a Museveni
“Eu prefiro ver uma bandeira do orgulho gay balançando brilhantemente de cima como um símbolo de protesto e esperança para os milhares de ugandenses que você visa a reprimir com sua legislação”, critica o ativista em nota. “Os seres humanos possuem certos direitos inalienáveis e eles incluem liberdade para se expressar, viver e amar. [Sua lei] é nojenta e é um ato malvado que ameaça acabar com incontáveis vidas”, completa.
Além disso, Gottlieb ressalta a importância da parceria entre Estados Unidos e Uganda. “Em um país que é dependente dos EUA para receber fundos para combater a Aids, onde menos de 5% daqueles que têm câncer possam ter acesso a um tratamento médico e onde aqueles com acesso à eletricidade ainda é a minoria da população, faz algum sentido direcionar preciosos e limitados recursos para prender aqueles que deveriam estar livres?”, questiona.
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Manifestantes protestam contra nova lei que prevê prisão perpétua àqueles que mantém relações com pessoas do mesmo gênero
Os Estados Unidos, que são uma das principais potências que doam recursos à Uganda, já haviam alertado que a assinatura da lei complicaria a relação entre os dois países. Em fevereiro, o presidente Barack Obama advertiu que a norma seria um retrocesso na proteção dos direitos humanos.
Desde o dia 24 de fevereiro, a Uganda endureceu sua legislação contra a homossexualidade, que pune com prisão perpétua atos homossexuais e penaliza em até 14 anos a “promoção e o reconhecimento” de tais atos. “Nós, africanos, nunca procuramos impor nosso ponto de vista a outros”, criticou o presidente Yoweri Museveni na ocasião à AP, acrescentando que não estava preocupado com o efeito que a nova lei terá nas relações internacionais do país.
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Dois dias após a implementação da medida, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, comparou a “lei da homofobia” com as legislações da Alemanha nazista e da África do Sul durante o apartheid. “Se você observar os judeus ou os negros sob a ótica dessa lei é como se estivéssemos na Alemanha dos anos 1930 ou na África do Sul sob apartheid nos anos 1950 e 1960”, declarou Kerry, na ocasião.
Com a legislação, a Uganda teve um empréstimo de US$ 90 milhões (R$ 210 milhões) suspenso pelo BM (Banco Mundial) no final de fevereiro. “Nós queremos garantir que os objetivos de desenvolvimento do país não serão afetados negativamente com a entrada em vigor dessa nova lei”, declarou o BM em comunicado.
Efe
Presidente Yoweri Museveni assina lei em fevereiro em sua residência oficial em Entebbe, próxima à capital, Campala
Além do BM, diversos senadores norte-americanos têm ameaçado reduzir o auxílio financeiro ao país africano – que espera receber até US$ 456 milhões (pouco mais de R$ 1 bi) em 2014 dos EUA. Suécia, Dinamarca, Holanda e Noruega também anunciaram o congelamento de parte da ajuda bilateral.
“Como presidente da nação, você tem a oportunidade para ser um excelente homem e levar seu país adiante. Ao contrário disso, escolheu retroceder a sociedade como imperialistas. As pessoas que você deseja aprisionar são as mesmas que podem ajudar a Uganda a crescer para tornar-se uma grande nação”, conclui Gottlieb.
Efe
Medida é duramente criticada pelo Ocidente; 38 de 54 países africanos condenam a homossexualidade