A jornalista russa Inna Afinogenova afirma que as sanções impostas à Rússia pelos Estados Unidos e pela União Europeia, em represália à guerra na Ucrânia, provocarão décadas de retrocesso para o país governado por Vladimir Putin.
Em conversa com Breno Altman no programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (11/11), Afinogenova contou que em março passado se desligou do canal russo RT News, onde ancorava o programa Aí Está, por divergir do apoio do veículo público patrocinado pelo governo ao conflito.
“Um país que entra em guerra tem que fazer propaganda de guerra. Essa foi minha linha vermelha”, explica.
Especializada na cobertura jornalística da América Latina e estabelecida na Espanha após o desligamento da RT News, ela mantém postura crítica em relação a todas as partes envolvidas no conflito. “Tudo na Rússia está muito mais caro, a inflação é o dobro da Espanha, muitas pessoas perderam postos de trabalho. Não posso estar a favor das sanções”, resume.
No entanto, a jornalista também critica o envio de armas à Ucrânia por países ocidentais. “Por que não se enviam armas à Palestina ou ao Iêmen? Por que esse envio seletivo? Aqui todos dizem que não são parte do conflito, mas, sim, a Europa também participa dessa guerra, de forma indireta”, denuncia.
Por outro lado, Afinogenova desaprova também a postura do governo Putin na guerra.
Nascida em 1989, dois anos antes do colapso da União Soviética, a jornalista classifica o governo russo no espectro ideológico: “não há matizes, Putin é de direita, a esta altura virando à ultradireita mais reacionária”. Identificada com a esquerda, ela ilustra essa opinião recorrendo a discursos recentes em que o presidente tem citado o filósofo e político russo Ivan Ilyin, um apoiador do nazismo alemão.
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Jornalista critica posição do governo russo na ofensiva contra a Ucrânia
Afinogenova desdenhou da oposição exercida pelo Partido Comunista Russo contra o governo Putin e descreveu os contrapontos de direita a Putin: “a oposição beligerante que surgiu é de direita neoliberal e saiu de marchas neonazi. Se você vê o que estão fazendo agora, não entende quem é seu senhor, porque colaboram com certos setores atlantistas que têm seus próprios interesses, sem nada a ver com o cidadão russo”.
Ao final desse balanço, a jornalista classifica a sociedade russa atual como totalmente despolitizada, como se tivesse celebrado um pacto silencioso com as figuras de autoridade. A guerra, segundo sua avaliação, modificou esse equilíbrio.
“É totalmente falso que a guerra vai destruir a Otan, o que estão fazendo é o contrário, estão reforçando”. Em sua opinião, o único fator que aproxima a administração Putin aos governos progressistas da América Latina é sua inclinação anti-Estados Unidos.
“A pergunta que a esquerda latino-americana deveria fazer é se vale apoiar um imperialismo contra outro imperialismo”, questiona. A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil é vista com bons olhos: “a chegada de Lula me dá uma grande esperança de que poderia haver uma aliança México-Brasil, por exemplo. Para o mundo, é uma boa notícia. Com Bolsonaro, o Brasil desapareceu do debate internacional”.