Combinando questões gerais e outras bastante pessoais, Opera Mundi traz o especial A Pandemia no Mundo. O objetivo é verificar o impacto da covid-19 em diferentes países. Trata-se de uma enquete: as mesmas 27 perguntas são repetidas para moradores deles, de modo que as respostas possam ser acompanhadas e comparadas.
Quando a pandemia começou, dizia-se muito que o coronavírus era “democrático”, atacando igualmente pobres e ricos, brancos, asiáticos e negros, homens e mulheres.
O que a realidade mostrou é que os pobres são mais vítimas da covid-19, como a condução das políticas de saúde por governos de todo o mundo resultou em radicais diferenças no número de contaminados e de mortos.
Quem responde as perguntas hoje é Célia Vieira, do Porto (Portugal).
1. Descreva o grau máximo de isolamento social praticado onde você está.
Estive em confinamento, em casa. Só saí para fazer compras para minha casa e para a de familiares próximos que pertenciam a grupos de risco.
2. Quando começou sua quarentena?
Começou no dia 12 de março.
3. Quem está com você?
Os meus dois filhos.
4. É fácil conviver assim?
É fácil conviver quando cada um tem o seu espaço. Porém, para mim, é difícil não ter momentos em que não esteja sozinha em casa, em total silêncio.
5. Quando você sai de casa?
Para fazer compras no mercado.
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6. Teve ou conhece alguém no país em que está que teve covid-19?
Não.
7. Como viu a ação do governo do país em que está em relação ao coronavírus?
Muito bem. Foi decretado o estado de emergência logo que surgiram os primeiros casos no país. Essa medida permitiu conter a pandemia e salvar a vida de muitos cidadãos. Houve o cuidado de se divulgar, todos os dias, informação oficial e bem alinhada. Todos os quadrantes políticos se uniram para que fosse possível haver medidas eficazes.
8. Ela mudou muito com o tempo?
Não, até hoje (29 de maio) mantém-se cautelosa, mas atenta às necessidades da população. Neste momento, fazemos o desconfinamento progressivo.
9. Você está neste país por que motivo?
É o meu país natal.
10. Acompanhou a situação brasileira?
Sim, muito atentamente, porque tenho colegas de trabalho nesse país.
11. A embaixada brasileira se comunicou com você ou com pessoas que você conheça?
Não sei responder.
12. O governo brasileiro ofereceu algum tipo de ajuda?
Não sei responder.
13. Como você acompanha as notícias do Brasil?
Com muita apreensão. É muito preocupante o fato de não haver uma informação objetiva e coerente nas recomendações de precaução transmitidas à população.
14. Gostaria de voltar ao Brasil? Por quê?
Nunca visitei o Brasil.
15. Sua vida profissional mudou durante a pandemia? Como?
Sim, passei a regime de teletrabalho (home office), o que, na verdade, se revelou mais cansativo do que o trabalho presencial.
16. Sua vida afetiva (inclusive sexual, se quiser tratar disso) mudou durante a pandemia? Como?
Não.
17. Você engordou, emagreceu ou manteve o peso?
Emagreci um pouco, devido ao cansaço.
18. Você bebe mais ou menos durante a pandemia?
Não mudou nada.
19. O que tem feito para ocupar o tempo durante a quarentena?
Os teatros e alguns cinemas independentes, em Portugal, passaram a transmitir online, semanalmente, sessões gratuitas. Foi muito bom poder fruir ainda mais da cultura durante este período. Também continuei a ler, embora sempre com muito pouco tempo.
20. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum hobby durante a pandemia?
Apesar de haver alguma reprovação social sobre a prática de esportes, continuei a correr regularmente. Para que isso não fosse visto como ofensivo, corri entre as 7h30 e as 8h30 da manhã.
21. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum vício durante a pandemia?
Não.
22. Tem realizado atividades para cuidar da saúde mental durante a pandemia?
Tive necessidade de correr ainda mais regularmente e senti que, quando não corria, ficava muito tensa durante o dia, ou muito emocionada com as notícias.
23. A pandemia fez com que você mudasse seu posicionamento político?
Sim, eu não tinha um especial apreço pela equipe governamental, mas reconheço que, numa situação muito difícil, agiram corretamente. Creio que, mesmo diante de várias incógnitas, tomaram as decisões acertadas.
24. Se pudesse dar um conselho a você mesmo antes de entrar em quarentena, qual seria?
Ter mais interação social, mesmo à distância. Com o isolamento e o afastamento das rotinas, houve uma grande quebra nos laços sociais.
25. Você tem lido mais ou menos notícias durante a pandemia? Como é sua relação com o noticiário?
Sim, passei a assistir ao noticiário duas vezes por dia. Evitei fontes que não fossem oficiais ou credíveis, para não ser vítima de manipulação de informação.
26. Como está a questão do abastecimento de insumos no país em que você está?
Noto que há alguma baixa no abastecimento de certos bens. Os bens essenciais estiveram sempre disponíveis, mas bens como eletrodomésticos, computadores etc. tinham menos diversidade.
27. Como está o relacionamento com sua família? Melhorou? Piorou?
Houve um incremento na comunicação e na partilha de refeições. Creio que foi bom, embora eu tenha mesmo necessidade de estar sozinha, de vez em quando, o que só consegui que fosse possível fora de casa.