A classificação que o Departamento de Estado norte-americano dará na quinta-feira (3) ao governo golpista de Honduras pode influir nas eleições programadas para 29 de novembro e no futuro do presidente deposto Manuel Zelaya, sacado do poder há dois meses e expulso do país. Funcionários da secretária Hillary Clinton recomendaram na semana passada que ela classifique a remoção do mandatário como “golpe militar” e não reconheça a gestão de Roberto Michelleti.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de Honduras abriu na segunda-feira (31) o período para propaganda eleitoral e o grupo de Michelleti já começou a trabalhar. Zelaya, cujo quartel-general foi fixado na Nicarágua do presidente Daniel Ortega, aguarda a decisão norte-americana para saber suas chances de retomar o poder e mobilizar os partidários.
Os grupos pró-Zelaya denunciam a ilegalidade do pleito e convocam os cidadãos a não irem às urnas. Até agora seis candidatos estão na corrida eleitoral. Os favoritos são o engenheiro Elvin Santos, do Partido Liberal (governista), e o empresário rural Porfírio Lobo, do Partido Nacional (oposição).
De acordo com Edgardo Dumas Rodriguez, ex-ministro da defesa de Honduras e hoje comentarista político, a votação em honduras está em cheque. “Estas eleições não resolverão a grave divisão política que atravessamos, vide o próprio Partido Liberal, que está dividido entre os apoiadores de Zelaya e os contrários a ele”, afirmou.
Michael Reynolds/EFE-01/09/2009
Zelaya está em Washington para pressionar os EUA
Mobilização nacional e internacional
Desde as duas frustradas tentativas de entrar no território hondurenho em julho passado, classificadas por Hillary como uma “ação temerária”, Zelaya se encontrou com vários chefes de Estado das Américas, como o norte-americano Barack Obama e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, além de aliados como o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa.
“Zelaya procura isolar o governo provisório com os apoios que possui na comunidade internacional. Mas fora essas visitas formais, não há nenhuma outra ação que seja digna de nota. No momento ele está estacionado na Nicarágua e ao que tudo indica, lá ele permanecerá”, avalia Dumas.
Em Honduras, os protestos pela volta do presidente deposto continuam e sua esposa, Xiomara Castro, segue como uma figura importante na política do país. “É como uma representante de Zelaya em Honduras. Participa dos principais atos públicos dos movimentos de resistência e inclusive foi recebida pelos chanceleres da OEA [Organização dos Estados Americanos] durante as negociações da última semana”, explica o jornalista Tulio Martinez, do jornal La Prensa.
Ainda que a maior parte da imprensa local se incline em favor de Micheletti – dono de várias companhias, incluindo o jornal La Tribuna –, há posições mais independentes, como a das rádios Globo e Uno, esta dirigida por Arnulfo Aguilar. Mantida pela Escola de Locutores de Honduras, a emissora dedica a maior parte da sua programação ao debate da situação política desde o golpe de 28 de junho. Nas últimas semanas, as represálias aumentaram.
“No domingo passado fomos tirados do ar e tentaram danificar nossos equipamentos de transmissão. Cortaram os pneus de nossos carros de reportagem com facas e ainda recebemos ameaças de morte anônimas”, conta Aguilar.
Mediação
Uma delegação da OEA composta por chanceleres de sete países do continente e liderada pelo presidente da entidade, José Miguel Insulza, foi à Tegucigalpa no mês passado para negociar a assinatura de Michelleti no Acordo de San José, que possibilitaria o regresso de Zelaya ao país. Não teve sucesso.
O acordo, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, com sugestões dos Estados Unidos, prevê anistia para Zelaya, o retorno dele à presidência, antecipação das eleições gerais de novembro, formação de um gabinete de coalizão, abandono da polêmica proposta de plebiscito sobre a reeleição.
Na semana passada Micheletti disse a comissão da OEA que renunciaria e apoiaria o retorno de Zelaya contanto que o mandatário abandone as pretensões de retornar ao cargo. Xiomara Castro chegou a afirmar que seu marido estaria disposto a aceitar a proposta e “voltar de mãos e pés amarrados para assegurar o retorno à democracia”.
“Contudo, Insulza se mostrou cético quanto à aprovação do acordo pelos deputados, porque o retorno de Zelaya à Presidência e a anistia política são pontos praticamente inegociáveis para os golpistas e para os setores da sociedade que os apóiam”, diz Martinez, do La Prensa. Na quarta-feira (2), em mais um sinal de isolamento internacional, o costarriqueno Arias rejeitou três contrapropostas do líder do governo golpista de Honduras ao Acordo de San José.
Martha Lorena Alvarado, vice-chanceler de Honduras, em entrevista ao Opera Mundi, reafirmou a versão do governo provisório: “Zelaya violou a constituição no entender da Suprema Corte, logo, ele terá de responder por seus atos”, disse.
Gustavo Amador/EFE-01/09/2009
Grupo de Michelleti (à frente, 2º da direita para esquerda) faz campanha
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