Uma maneira de sorrir para o Oscar e participar de sua farra na mídia, sempre que se aproxima a data da cerimônia, é cair de cabeça no melhor que a Academia tem a oferecer (ao menos, nos últimos anos) àqueles que prezam pelo cinema de qualidade: a competição pelo melhor filme estrangeiro. É notável que as obras de língua não-inglesa, apesar de terem de se esforçar junto aos votantes da Academia meses antes do anúncio dos indicados com lobbies e campanhas para se promover nos Estados Unidos, têm representado na premiação um sopro de bom gosto. Para constatar isso, basta olhar para os últimos dois anos, em que o iraniano A Separação, de Asghar Farhadi, e o francês Amor, de Michael Haneke, foram contemplados com a estatueta.
Divulgação
Imagem de Alabama Monroe, apesar de falado em flamengo, faz ode à imagem dos Estados Unidos como a terra das oportunidades
Nesta 86ª edição do Oscar, que acontece neste domingo, dia 2 de março, a disputa entre os estrangeiros está acirrada, o que é boa notícia. Com a exceção do belga Alabama Monroe, todos os outros concorrentes, apesar de diversos, têm em comum o vigor do bom cinema de autor, além de tudo carimbado por prêmios de importantes festivais e também pela ótima receptividade do público, em alguns casos. Para os interessados em deixar de lado as previsibilidades das categorias principais da premiação estadounidense (melhor filme, melhores atores e até melhor roteiro), vários desses filmes que passaram no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo estão à espera: três deles estão atualmente em cartaz em salas brasileiras e um, disponível em DVD.
Assista ao trailer do belga 'Alabama Monroe':
Começando pelo candidato menos cotado, o melodramático Alabama Monroe, de Felix von Groeningen, apesar de falado em flamengo, faz ode à imagem dos Estados Unidos como a terra das oportunidades. O próprio diretor admitiu o tom americanófilo desse drama que retrata as diferentes reações de um pai e de uma mãe que sofrem com o diagnóstico de um câncer terminal em sua filha. Estreou no Brasil em 17 de janeiro e continua em algumas praças.
Assista ao trailer do italiano 'A grande beleza':
Já o grande favorito é o italiano A grande beleza, em cartaz no Brasil desde 20 de dezembro, conquistando sua fiel plateia. Exibido no Festival de Cannes de 2013, o filme de Paolo Sorrentino, inspirado na obra de Fellini (especialmente em A doce vida), parte da história de um escritor hedonista na Roma pós-Berlusconi que, ao relembrar um grande amor e um sucesso do passado, tenta recuperar as forças para escrever. Para muitos, o Oscar que talvez chegue às mãos de Sorrentino por esse trabalho será uma maneira de reparar o pouco caso que lhe fizeram em Cannes ano passado, quando o júri da competição oficial foi presidido por Steven Spielberg.
Assista ao trailer do cambojano 'A imagem que falta':
Entre esses dois extremos, está um caso um raro: o documentário A imagem que falta, do cambojano Rithy Panh, que representa a primeira indicação na história do cinema do Camboja. É a segunda vez que um documentário participa entre os finalistas da categoria de estrangeiros (o caso anterior a esse foi Valsa com Bashir, em 2008), mas Panh fez por merecer com esse filme que conta a história de como sua família sucumbiu ao regime do Khmer Vermelho em seu país. Em 2013, Cannes também deu seu selo de qualidade a essa obra que mistura imagens de arquivo e animação com bonecos de argila, premiando-a em sua segunda categoria mais importante, a mostra Um Certo Olhar, criada para incentivar cineastas emergentes e inovadores. Em casos como esse, oscares e festivais de renome têm algo a oferecer à sociedade: “Para um país que emergiu de suas dificuldades e anos de guerra, é importante dizer que ainda estamos vivos”, disse à Reuters o diretor de A imagem que falta.
Assista ao trailer do dinamarquês 'A caça':
Outro concorrente celebrado é o dinamarquês A caça, de Thomas Vinterberg (de Festa de família, que o consagrou em 1998), já disponível aqui em DVD. Esteve em Cannes também, mas em 2012, quando recebeu três premios, o principal deles o de melhor ator para o veterano Mads Mikkelsen. Nessa última entrega de Vinterberg, Mikkelsen interpreta o funcionário de uma creche cuja vida desaba ao ser acusado de abuso infantil (tema presente também em Festa de família).
Assista ao trailer do palestino 'Omar':
Por fim, o palestino Omar, o único ainda sem previsão de estreia no Brasil, é o retorno do diretor Hany Abu-Assad à disputa pelos prêmios da Academia, depois de emplacar Paradise Now, um dos candidatos estrangeiros de 2006. Trata-se de um thriller político envolvendo palestinos que vivem sob ocupação israelense, no qual um jovem padeiro é torturado pela polícia secreta de Israel para trair seus amigos. Rodado na Cisjordânia e na cidade árabe-israelense de Nazaré no ano passado, Omar foi celebrado ao estrear como o primeiro filme totalmente financiado pela indústria de cinema palestino.
NULL
NULL