O Brasil tem falado mais espanhol e a América hispânica, mais português do que se imagina. E graças a iniciativas que começam em espaços restritos, depois se multiplicam através de uma maior circulação cultural — literária, mais especificamente, no caso de dois grandes eventos que acontecem neste mês de abril na região, com especial atenção dedicada a livros e escritores brasileiros.
Flickr/Abee5/CC
Para a diretora da feira, Buenos Aires tem tradição de literatura dos bairros afastados, semelhante a SP, cidade homenageada
O primeiro é a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, que este ano chega à sua 40ª edição — a segunda de sua história, com homenagens a cidades convidadas — colocando seus holofotes sobre a literatura produzida em São Paulo. Entre os dias 24 de abril e 12 de maio, o evento receberá vários autores nacionais, muitos deles representantes da produção literária paulistana, em especial da periferia, com os seus saraus que viraram febre na cidade nos últimos anos.
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Quem organizou essa participação é a Secretaria de Cultura, com curadoria da Biblioteca Mário de Andrade, que foi a encarregada da programação e propôs o eixo de atenção fincado na periferia. Marçal Aquino, Reinaldo Moraes, Joca Reiners Terron, Marcelo Mirisola e Andréa del Fuego são alguns dos 29 escritores já confirmados na comitiva brasileira, que ainda conta com Ferréz e Sérgio Vaz, poeta e fundador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia).
Vale lembrar que Buenos Aires e São Paulo dialogam entre si em função de suas pretensões cosmopolitas, fortemente culturais e com considerável concentração industrial, nos dois países. Segundo Gabriela Adamo, diretora da feira portenha, organizada pela Fundación El Libro, “Buenos Aires também tem uma tradição de literatura dos bairros afastados, dos 'baldios', que irá dialogar diretamente com a experiência desses autores que estão vindo”.
Falando dos destaques gerais, a atual edição que celebra 40 anos de existência terá em sua abertura uma homenagem ao criador de Mafalda, o cartunista Quino (81 anos) [na charge, à direita], e contará com a presença de escritores ilustres, como o norte-americano Paul Auster e o sul-africano J.M. Coetzee, além de nomes eminentes da literatura latino-americana, como a colombiana Piedad Bonnet e o uruguaio Mario Bellatín.
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Colômbia celebra literatura peruana
Três vezes maior em extensão que a Feira de Buenos Aires — ainda que esta ganhe a disputa em termos de público e de rodadas de negócios — é a Filbo (Feira Internacional do Livro de Bogotá), que chega à sua 27ª edição celebrando a literatura do Peru, mas com importante presença brasileira.
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O Brasil foi o país homenageado na principal feira da região andina há dois anos, em 2012, e desde então, constrói-se entre leitores colombianos uma relação cada vez mais próxima com livros nacionais e traduções ao espanhol a partir da feira. Na verdade, a Colômbia morre de amores pelo Brasil e Bogotá é das poucas cidades da América Latina e do mundo a contar com um centro cultural dedicado ao português, onde há cursos e eventos relacionados à cultura nacional. Chama-se Ibraco (Instituto Cultural Brasil-Colômbia) e tem aproximadamente 3.500 estudantes de português ávidos por ampliar e renovar seu repertório de literatura brasileira.
Poema 'Novos Dias', de Sérgio Vaz, artista com presença confirmada na feira literária de Buenos Aires
A presença física brasileira acontece este ano junto com a Embaixada de Portugal (país homenageado em 2013) e com o Cerlalc (Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe) para a promoção da língua portuguesa. Uma comitiva de autores nacionais também desembarcará em Bogotá, contando com Paulo Lins e Marçal Aquino, entre outros nomes a serem confirmados.
As atividades da Filbo se estendem do dia 29 de abril a 12 de maio, e claro que a produção peruana — não só literária, mas também gastronômica, que é hoje um dos carros-chefe da promoção cultural do Peru — é a que mais brilha. Estarão presentes desde o nobel Mario Vargas Llosa até o talento peruano mais comentado do momento, Daniel Alarcón, que também já confirmou sua presença na próxima Feria Literária de Paraty, no mês de julho.
Fato é que Buenos Aires, Bogotá e outras capitais tão próximas e tão distantes estão estreitando seus laços com o Brasil. Há dois anos, o maior evento literário do mundo hispânico — a Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México — já havia dado o primeiro passo ao criar o programa especial brasileiro, batizado de Destinação Brasil. Agora, chega a hora de retribuir à altura o interesse dos vizinhos latino-americanos com a criaçao de vínculos também na direção contrária.