No dia 8 de março de 2017, 41 meninas morreram queimadas no abrigo estatal Virgen de la Asunción, na Guatemala. “Saria”, um curta metragem que concorre ao Oscar deste domingo (09/02) na categoria de melhor curta-metragem, traz a tragédia como pano de fundo.
O curta percorre a história de duas irmãs – Saria, 12 e Ximena, 14 – que acreditam que, atrás do muro do abrigo, podem chegar aos Estados Unidos. Ambas têm o sonho de conseguir fugir e sobreviver fora do ambiente de maus-tratos e violências. O norte-americano Bryan Buckley dirigiu o filme, que aponta a falta de compromisso de autoridades da Guatemala em investigar o incêndio.
O local funcionava desde 2010 como um abrigo de proteção para crianças e adolescentes que sofreram violências, maus-tratos ou haviam sido abandonadas por pais ou parentes. A partir de 2012, o Virgen de La Asunción também começou a receber menores de idade que cumpriram sentenças penais e que, após acabar o período de detenção, não tinham responsáveis que pudessem cuidar deles. Segundo o jornal espanhol El País, o abrigo tinha capacidade para 400 crianças e adolescentes, mas havia cerca de 600 dentro das instalações do Virgem de La Asunción.
O abrigo, que ficava em San José Pinula, cidade 23 km ao sudeste da Cidade da Guatemala, foi alvo de diversas denúncias de violências (físicas, psicológicas e sexuais) contra os ocupantes, de maus-tratos e de falta de monitoramento adequado no local. Tais acusações foram feitas não somente pelas crianças e adolescentes que viviam no abrigo, mas também por instituições da Guatemala e internacionais.
Sem nenhuma resposta às denúncias, e nenhuma investigação para apurar os casos de violência, as crianças que estavam no abrigo organizaram uma fuga. No noite de 7 de março de 2017, 104 dos que viviam ali escaparam – a maioria delas, meninas.
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Uma das portas que foi queimada no incêndio do abrigo Virgen de la Asunción que matou 41 meninas
Ainda de madrugada, a Polícia Nacional Civil do país conseguiu capturar os menores e, como castigo, 56 meninas ficaram presas em um sala que poderia acomodar somente 26 pessoas.
A tragédia de Virgem de la Asunción aconteceu no dia seguinte. Ainda não se sabe ao certo como o incêndio começou. Desde 2017, nenhuma apuração foi concluída. Há relatos que apontam que algumas das meninas que estavam na sala queimaram um colchão para chamar atenção dos guardas, já que não podiam sair da sala.
“Saria” – produzido pela Hungry Man, produtora dos brasileiros Alex Mehedff, Gualter Pupo, Carlão Busato e João Caetano Feyer – coloca o incêndio no centro da história. Ao jornal Estado de São Paulo, Mehedff disse que o intuito do curta é chamar “atenção para o fato de o caso não ter sido investigado”.
O filme concorre ao Oscar junto com outros curtas: “A Sister”, de Delphine Girard; “Brotherhood”, de Meryam Joobeur e Maria Gracia Turgeon; “Nefta Football Club”, de Yves Piat e Damien Megherbi; e “The Neighbors’ Window”, de Marshall Curry. A premiação começa às 22h (hora de Bras´ília), no domingo.
Assista ao curta (em espanhol, com legendas em inglês):