Os jornais franceses desta sexta-feira (09/02) abordam casos de violência sexual contra jovens atrizes, que muitas vezes foram acobertados durante as filmagens. Após a denúncia de Judith Godrèche, muitas delas revelaram publicamente terem sido vítimas do cineasta Benoît Jacquot.
Julia Roy, que conheceu o diretor quando tinha 23 anos, relatou ao jornal Le Monde uma relação de “manipulação, dominação, insultos e violência física”, que acabou por “abalar sua autoestima e confiança”. Ao denunciar o tratamento que recebia, ela conta que foi vítima de ameaças. Episódios como os que viveu inspiraram o roteiro de um longa-metragem que a atriz está produzindo sobre o movimento #metoo na França.
Questionado pelo jornal, Jacquot nega a maioria dos fatos, mas reconhece “discussões às vezes violentas”. Para ele, no entanto, isso se justifica em nome da arte. “É preciso estar apaixonado pelas atrizes para termos desejo de as colocarmos em cena”, diz. A reportagem traz, ainda, os relatos de outras mulheres que dizem ter sido abusadas pelo diretor, algumas menores de idade.
De acordo com o jornal Le Parisien, Judith Godrèche, hoje com 51 anos, teve um caso de seis anos com Benoît Jacquot. Na época, ela tinha apenas 14. Neste período, ela foi vítima de violência e “doutrinação”. Como ela, Isild Le Besco, também denuncia ter sofrido “violência física e psicológica” por parte do cineasta, que nega as acusações, justificando “relações consentidas”.
Twitter/StMary_Eton
Judith Godrèche e Benoît Jacquot, durante uma coletiva de imprensa em 1990
Comportamentos abusivos
O jornal Parisien destaca que outro cineasta, Jacques Doillon, também é acusado pela atriz Judith Godrèche de abuso sexual quando ela tinha 15 anos. Segundo ela, o diretor demitiu um ator e assumiu o lugar dele nas fimagens com cenas de sexo com a atriz, que prestou queixa contra Doillon, hoje com 79 anos, que nega os fatos.
Todas essas acusações acontecem menos de um ano após denúncia de 13 mulheres que dizem ter sido abusadas sexualmente pelo astro do cinema francês, Gérard Depardieu.
Em 2019, o testemunho de Adèle Haenel já havia causado mal estar no mundo do cinema, quando ela afirmou ter sido abusada pelo cineasta Christophe Ruggia, entre seus 12 e 15 anos de idade. Ela foi uma das iniciadoras do movimento #metoo no cinema francês.
O jornal lamenta que, “apesar dos protestos do movimento #metoo, o cinema francês visivelmente não se livrou de comportamentos abusivos”, já que certas acusações são recentes. A esperança é que as novas gerações de cineastas tenham uma percepção diferente das relações humanas”, conclui o texto.
Citando vários casos parecidos, o jornal Libération analisa uma “erotização” que destruiu as vidas de muitas jovens atrizes francesas, especialmente nos anos 1980. Uma prática que, segundo a reportagem, começou a mudar com a aparição de mulheres nos papéis de direção.