Visivelmente emocionado e eufórico, o presidente argentino, Javier Milei, declarou o seu apoio político ao aliado Donald Trump num breve encontro pessoal durante a Conferência de Ação Política Conservadora à qual Milei viajou apenas horas depois de receber o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, cujo apoio é crucial para os desafios econômicos da Argentina nos próximos meses.
“O senhor foi um grande presidente e espero que ganhe. Espero vê-lo outra vez. Da próxima vez, como presidente”, declarou o presidente argentino ao republicano que pretende retornar à Casa Branca em janeiro de 2025 se derrotar o democrata Joe Biden na sua tentativa de reeleição em 5 de novembro.
“Eu também espero (ganhar)”, concordou Donald Trump entre abraços com Javier Milei.
A troca de confetes terminou com Donald Trump a repetir o seu clássico “MAGA”, mas trocando “America” por “Argentina”: “Make Argentina Great Again” (Faça a Argentina Grande Novamente). Ao que Javier Milei respondeu com o seu também tradicional “Viva La Libertad, carajo”.
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Participação de Milei como estrela da conferência conservadora, virtual convenção republicana, deixa o argentino numa posição delicada
Convidado estrela na “Trump Fest”
O encontro de apenas um minuto e meio nos bastidores da conferência aconteceu após discurso de Donald Trump, quem fez da sua apresentação um comício de campanha, a tal ponto que a conferência foi apelidada de “Trump Fest”. O republicano subiu ao palco três horas antes da palestra de Javier Milei, quem o esperava nos bastidores para o afetuoso abraço.
Logo no início do discurso em Washington, Trump deixou claro que Milei era o convidado da extrema-direita mais importante da conferência conservadora.
“Está aqui o presidente da Argentina, Javier Milei, que teve muita publicidade. É um grande senhor. Vocês sabem: ‘MAGA’, Make Argentina Great Again. Ele é um cara fabuloso e um dos poucos que pode realmente fazer (MAGA). Obrigado, Milei. Muito obrigado. É uma grande honra tê-lo aqui”, exaltou Trump.
Já nos bastidores, Milei retribuiu: “Presidente, é um grande prazer conhecê-lo. É uma grande honra para mim. Obrigado pelas suas palavras para comigo. Estou muito contente. (O senhor) é muito generoso”.
“Muito obrigado. Você está fazendo um grande trabalho”, elogiou Trump.
Javier Milei discursou a favor do “anarcocapitalismo” e contra a intervenção do Estado, que ele define como “socialismo”.
“Não deixem o socialismo avançar! Não aceitem as regulações! Não deixem o Estado crescer! Não permitam a agenda assassina do aborto! Não se deixem enganar pelos cantos de sereia da justiça social. Não entreguem as suas liberdades. Se não brigarem pela liberdade, serão levados à miséria”, finalizou Milei para uma plateia que o aplaudia de pé.
Aposta arriscada
O apoio eleitoral de Milei a Trump deixa o rival Joe Biden num escanteio, exatamente 24 horas depois de Milei se reunir, na Casa Rosada, com o enviado de Biden, Antony Blinken. Em Buenos Aires, Blinken disse que o governo Biden queria “ajudar a Argentina a estabilizar-se”.
“O povo argentino pode contar conosco enquanto estabiliza a sua economia”, disse o secretário de Estado.
Ao mesmo tempo, Milei arrisca esfriar a relação com Biden, justamente quando a Argentina precisa do apoio do governo Biden para superar uma crise econômica que ameaça desembocar numa hiperinflação, enquanto a pobreza bate recordes de aumento.
“Milei abraça a agenda de Trump, uma agenda que corrói a democracia. E isso inquieta Washington”, indica à RFI.
“O estilo provocador e, muitas vezes, agressivo de Trump é o preferido de Milei, que não gosta do estilo moderado e contemporizador de Biden. No entanto, a aposta por Trump choca com as necessidades de curto prazo de Milei. Se Trump ganhar as eleições, só assumirá em janeiro. Pelos próximos onze meses, de quem Milei precisa de apoio financeiro? De quem precisa apoio político? Quem precisa ter paciência com a Argentina? O governo de Biden”, aponta Tokatlián.
O analista internacional Rosendo Fraga também vê esse ruído nas relações, mas recorda que Milei tem feito o que sempre disse e que confirma a sua personalidade.
“Durante dois anos, Milei sempre disse publicamente que era Trump e Bolsonaro. Agora, por mais que tenha havido um canal diplomático a sugerir que Milei não exiba o seu apoio explícito a Trump, ele conforma a sua personalidade frontal e confrontativa”, destaca.
“Milei ratifica esse alinhamento com a chamada ‘nova direita’ num momento delicado, mas o que mais chama atenção é que uma ‘selfie’ com Milei tenha um impacto positivo numa eleição interna dos Estados Unidos”, observa Rosendo Fraga.