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Hoje na História

Hoje na História: 2009 - morre Robert McNamara, arquiteto da Guerra do Vietnã

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Secretário de Defesa dos Estados Unidos durante invasão ao país asiático, ele fez parte de elite de intelectuais recrutados para ser força criativa do governo de Kennedy

Max Altman

São Paulo (Brasil)
2022-07-06T13:30:00.000Z

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Robert Strange McNamara, secretário de Defesa norte-americano de John F. Kennedy e Lyndon Johnson e um dos grandes arquitetos da Guerra do Vietnã, morreu dormindo em 6 de julho de 2009, aos 93 anos. McNamara era um dos “best and brightest” (melhores e brilhantes), uma elite de renomados intelectuais recrutados por Kennedy para ser a força criativa de seu governo. Se é certo que com a inteligência vem incluída uma certa dose de soberba, não se pode negar que os homens do presidente alcançaram altos níveis em ambos os campos.

McNamara era, até no aspecto físico, um desses cérebros que não podia falhar. Os ataúdes de dezenas de milhares de soldados norte-americanos, para não falar das centenas de milhares de norte-vietnamitas, atestam que falhou. Costuma-se falar que McNamara ficou atormentado pelo fiasco, porém nunca o demonstrou. 

Seu melhor legado foi aceitar colaborar com Errol Morris no documentário The Fog of War (A Névoa da Guerra), uma entrevista em que o ex-chefe do Pentágono tenta dar sentido às decisões tomadas pelo governo de Washington naqueles anos.

Mesmo antes de McNamara deixar o Pentágono no começo de 1968, este homem de absolutas certezas sobre quase tudo passou a ter perturbadoras dúvidas sobre a Guerra do Vietnã, sobre o que era conhecido amplamente como a “Guerra de McNamara”. Chegou a ordenar um estudo de como os Estados Unidos se envolveram no Vietnã para tentar explicar o que aconteceu. O relatório final passou a ser conhecido como “Os Papeis do Pentágono”. E para mostrar quão enigmático McNamara era, não ficou claro que ele o teria lido.

Avalia-se que qualquer presidente norte-americano faria o que Kennedy fez ao tirá-lo da Ford, onde era o principal executivo, para ser Secretário de Defesa. No começo dos anos 1940 ele já era um ícone. Era um homem que podia valer-se de fatos, números e análises para resolver qualquer problema, mesmo para fazer a guerra em lugares de que nunca se tinha ouvido falar.

A Guerra do Vietnã foi o resultado de como os líderes norte-americanos, logo após a Segunda Guerra Mundial, viam como sendo a ameaça comunista e a política externa daí decorrente. À época em que McNamara mudou-se para Washington em 1961, a Guerra Fria estava em sua plenitude e com ela a teoria do dominó. Essa teoria sustentava que seria uma loucura deixar que um agressor arrebatasse pequenos países. O agressor teria de ser detido onde quer que ousasse desafiar Washington. Em 1961, parecia ser o caso do Vietnã.

McNamara não sabia nada de Vietnã. Nem os demais que trabalhavam com ele. Mas os norte-americanos não necessitavam saber da cultura e da história de qualquer nação. Tudo o que precisavam era aplicar a superioridade militar e os recursos adequadamente. Coligir dados corretos, analisar as informações apropriadamente e apresentar uma solução de como ganhar a Guerra. McNamara fez exatamente isto até algum momento do final de 1965.

Wikimedia Commons
Robert Strange McNamara, secretário de Defesa norte-americano de John F. Kennedy e Lyndon Johnson, em fevereiro de 1968

Fracasso

Começou então a se surpreender com o crescente aumento das baixas fatais norte-americanas, e a duvidar que a guerra pudesse realmente ser ganha, não importante quão sábia era sua equipe. Passou a compreender que enquanto permanecessem no Vietnã, dispostos a lutar e morrer, poderiam não perder mas também não conseguiriam ganhar. A guerra se transformara num tremendo beco sem saída.

Carregado de dúvidas, não tinha respostas para elas. Não estava preparado para simplesmente retirar-se. Os EUA sangravam, as cidades com seus manifestantes estavam em polvorosa, porém McNamara não parecia estar conectado com essa realidade. É quase sobre-humano esperar de um arquiteto de guerra que repensasse os valores e necessidade dela. E as dúvidas simplesmente flutuaram no ar sem que se traduzissem em política.

Quando uma figura tão central para o país e para a população num determinado período histórico partiu, uma lição primordial permaneceu bombardeando a mente de pelo menos parte das lideranças norte-americanas: guerras nacionalistas, guerras civis, guerras tribais ou religiosas não conseguem ser ganhas pelos métodos tradicionais de uma guerra convencional.

Pode-se querer lutar e morrer, pode-se até não perder. Mas no final das contas não dá para ganhar. A guerra dos vietnamitas era a guerra deles. A guerra dos afegãos pertence somente a eles. Potências podem querer interferir – e interferem – mas ao longo do tempo quem determina para onde vai pender o fiel da balança são as forças internas.

(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.

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Meio Ambiente

Onda mais longa de calor intensifica seca na França; 100 municípios estão sem água

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Nova onda de calor se aproxima da França e os meteorologistas se perguntam se não seria uma continuidade do evento extremo de calor registrado no país desde 31 de julho

Maria Paula Carvalho

RFI RFI

Paris (França)
2022-08-09T19:10:00.000Z

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A medida em que uma nova onda de calor se aproxima da França, e os termômetros permanecem altos em algumas regiões do país, os meteorologistas se perguntam se não seria uma continuidade do evento extremo de calor registrado no país desde o dia 31 de julho. Falta d’água encanada em uma centena de municípios, lavouras destruídas por falta de irrigação, biodiversidade em perigo: a seca histórica que atinge o país exige adaptações e respostas rápidas do poder público.

A Météo-France destaca que uma queda nas temperaturas, no fim de semana, em três quartos do país trouxe um certo alívio, mas as previsões continuam sendo de temperaturas elevadas para a semana que se inicia. Os recordes de seca se sucedem, preocupando as autoridades e a população.

Temperaturas máximas entre 32°C e 36°C

Depois de um arrefecimento das temperaturas em algumas regiões do país, acompanhado de tempestades no último fim de semana, a Météo-France prevê que os termômetros voltarão a subir no país. Condição que só agrava a seca já enfrentada em muitas regiões.

As chuvas do fim de semana não foram suficientes para compensar o déficit histórico de pluviosidade em todo o país em julho, o segundo mês mais seco do ano desde março de 1961. O déficit pluviométrico é de cerca de 84% em relação ao normal para o período 1991-2020.

Recordes diários

"Em nível nacional, desde 17 de julho, a França bate um novo recorde de seca do solo todos os dias (em um histórico que começou em agosto de 1958)", observa Météo-France. Na Córsega, este recorde diário vem sendo batido todos os dias desde o início de julho, e desde meados de maio na região PACA (Provença-Alpes-Costa Azul).

"Esta situação constitui um grande acontecimento comparável às secas de 1976 ou 2003", destaca Jean-Michel Soubeyroux, climatologista da Météo-France. "Até meados de agosto, é muito provável que essa situação de solo seco piore ainda mais em um grande número de regiões", alerta.

Setores essenciais já são duramente atingidos, como a agricultura e a pecuária, seja pela dificuldade no plantio do milho destinado à ração animal, que consome muita água, ou pela falta de pastagens para o gado.

Falta d’água em 100 municípios

A falta de chuvas levou a uma situação extrema de abastecimento. "Mais de uma centena de municípios na França não tem mais água potável", alertou, na sexta-feira (5), o ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu. O político falou em seca "histórica" na França e em outros países europeus.

“Temos mais de uma centena de municípios hoje que não tem água potável. A estratégia é intensificar algumas restrições para evitar chegar à situação em que percebemos o déficit hídrico que se prolonga, e para sermos capazes de antecipar. Porque, se você deverá fornecer água, não adianta se preocupar com isso na manhã em que já não há mais água nos canos”, afirmou.

"Existem sistemas de cultivo que são mais resilientes devido às mudanças climáticas, mas acreditar que não haverá necessidade de água seria um erro bastante trágico", reforçou, por sua vez, Marc Fesneau, ministro da Agricultura, destacando a necessidade de adaptação dos produtores rurais. "Imagine a situação em que estaríamos hoje se não existissem vários sistemas de retenção de água criados há 40, 50 ou 60 anos", disse ele, antes de visitar uma barragem em Sainte-Croix du Verdon, na região PACA.

Wikimedia Commons
Incêndio em Laroque-de-Fa, comuna francesa na região administrativa de Occitânia

"O risco seria nós dizermos que isso não é grave, que podemos continuar como antes e não reexaminar nossas práticas, e que basta encontrar métodos alternativos para não ficar sem água. Isso seria mentir para as pessoas", analisou Fesneau.

A falta d’água também repercute no campo político. A União de esquerda Nupes acusa o governo centrista de não ter reagido rapidamente. “Nada foi antecipado”, escreveu Julien Bayou, deputado do partido Europa Ecologia os Verdes, em sua conta no Twitter.

A esquerda reclama de restrições injustas de uso da água e questiona a irrigação de campos de golfe, por exemplo, prática considerada essencial para o setor e vista como desperdício por outros.  

A questão da partilha dos usos da água agita a classe política. A deputada da França Insubmissa (LFI esquerda radical) Mathilde Panot reivindicou, também no Twitter, um direito à água “consagrado na Constituição”: “a água deve primeiro dar vida e não lucros!”.

Comitê de crise

O governo francês criou um comitê interministerial de crise para analisar cada situação em particular e para traçar um plano de abastecimento de água nas regiões onde for preciso. A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, ativou essa unidade interministerial na sexta-feira (5), diante da "situação histórica pela qual muitos territórios estão passando", anunciou o Palácio do Matignon, sede do governo.

No total, 93 departamentos de 96 estão sujeitos a restrições de água em graus variados no país e 62, ou dois terços, estão "em crise". Neste nível máximo de alerta, é proibido regar gramados, lavar de veículos ou a irrigar as, bem como encher reservatórios.

“Nos cerca de cem municípios com escassez de água potável na França, o abastecimento é feito com caminhões-pipa (...) já que não há mais nada nas tubulações", explicou o ministro Christophe Béchu, durante uma viagem ao sudeste do país para verificar a situação da seca.

Fogo

Com a secura, os incêndios se propagam pela França. Ao todo, 47.361 hectares arderam desde janeiro, contra 43.602 em 2019. Os dados do Sistema Europeu de Informações sobre Incêndios Florestais foram divulgados na quinta-feira (4).

Sendo a vegetação seca um combustível fácil, o risco de incêndios só aumenta com a continuação do calor.

No domingo, mais de 300 hectares queimaram no Finistère, na região da Bretanha, onde o vento nordeste ajudou a propagar o fogo. Bombeiros de outros departamentos foram enviados como reforço e muitos agricultores também dão apoio à operações de combate às chamas.

Geralmente raros na Bretanha, os incêndios já destruíram, em julho, mais de 1.700 hectares de florestas.

Europa enfrenta seca

Como a França, muitos países europeus são afetados por essa onda de calor e seca. A escassez de água afeta atualmente 11% da população da UE e 17% do seu território, mas a situação é mais preocupante no Mediterrâneo, onde cerca de 50% da população vive sob constante estresse hídrico durante o inverno.

As secas intensas e a falta d’água provavelmente se tornarão mais frequentes e mais graves no futuro, alertou a Comissão Europeia, recomendando que os Estados-Membros aprendam a reutilizar águas residuais tratadas.

De acordo com os cientistas, a multiplicação das ondas de calor é uma consequência direta da crise climática. As emissões de gases de efeito estufa aumentam a intensidade, a duração e a frequência de eventos extremos.  

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