Cerca de 85% das embalagens plásticas de todo o mundo acabam nos depósitos de lixo. Nos Estados Unidos, de longe o maior poluidor de plásticos em todo o mundo, somente 5% das 50 milhões de toneladas de lixo desse material descartado pelas residências foram recicladas, afirma a ONG ambientalista Greenpeace. Uma triste constatação no Dia Global da Reciclagem, 18 de março.
Tendo em vista a previsão de que sua produção deverá triplicar até 2060, os plásticos fabricados principalmente a partir de petróleo e gás são uma fonte crescente da poluição carbônica que impulsiona as mudanças climáticas. Grande parte do lixo plástico acaba nos oceanos, com impacto grave sobre a vida marinha.
As promessas feitas pelas empresas que mais consomem plástico, como a Nestlé e a Danone, de promover a reciclagem e incluir cada vez mais reciclados em suas embalagens, não vêm sendo cumpridas.
Na Áustria e Espanha, o lobby do plástico, juntamente com os supermercados, tenta às vezes evitar a responsabilização fazendo frente contra os esquemas de vasilhames retornáveis que incluam garrafas de plástico.
Mas ainda há esperança. Novas regulamentações universais sobre o plástico estão sendo atualmente negociadas no âmbito de um tratado mundial visando otimizar a produção, usar e reutilizar o plástico, num modelo de economia circular.
No entanto, essa produção circular ainda se baseia do mito da reciclagem, que, nas condições atuais, pouco está fazendo para aplacar a crescente crise do plástico.
Separar sete tipos de plástico
Além disso, seria muito custoso separar o lixo entre os sete tipos diferentes utilizados.
O mais comum em todo o mundo é o politereftalato de etileno (PET), em segundo lugar vem o polietileno de alta intensidade (HDPE). De acordo com o Greenpeace, cinco outros tipos de plástico podem ser coletados, mas são raramente reciclados.
O PET é o mais reciclável e há um mercado forte pela utilização de seu subproduto para fazer garrafas, embalagens e fibras para roupas. Os demais tipos, porém, possuem um mercado muito pequeno, já que o custo da matéria prima é menor do que o custo para reciclá-los.
“É difícil reprocessar e separar todo o plástico”, confirma Lisa Ramsden, diretora da campanha do Greenpeace contra os plásticos. E os contêineres mistos de coleta podem possuir contaminantes que tornam o plástico irreciclável.
“Reciclar não é o problema, mas sim, os plásticos”, prossegue. Com os plásticos virgens muitas vezes custando menos do que os reciclados, a reciclagem acaba não sendo econômica.
Plástico virgem é caro demais
A resina plástica pós-consumo criada a partir da reciclagem de materiais acaba sendo sabotada pelo plástico virgem de custo mais baixo, o que limita o mercado para os reciclados.
Um relatório da empresa de análises de mercado S&P Global demonstra que a demanda pelo plástico reciclado bruto está desacelerando, entre outros fatores devido a um aumento no custo dos transportes para os centros de reciclagem na Ásia e à lentidão no setor que utiliza materiais plásticos na construção de edifícios.
Enquanto o preço do plástico virgem está sujeito aos caprichos da flutuação dos preços de gasolina e gás, esses combustíveis fósseis são normalmente subsidiados. De acordo com Sander Defruyt, diretor da iniciativa Nova Economia do Plástico, uma entidade sem fins lucrativos nos Estados Unidos, o plástico reciclado poderia ser mais competitivo se os subsídios aos combustíveis fósseis fossem removidos de maneira escalonada.
Contudo, as empresas que produzem lixo poderiam ajudar a manter os custos abaixo dos de plásticos virgens subsidiando iniciativas de reciclagem sob o princípio da responsabilidade ampliada do produtor, afirma Defruyt. Esses subsídios corporativos têm sido fundamentais para as iniciativas de reciclagem em países como a Alemanha e a França.
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Promessas de promover a reciclagem, feitas pelas empresas que mais consomem plástico, não vêm sendo cumpridas, segundo estudos
O problema das embalagens flexíveis
Os pacotes leves que armazenam comidas como batatas chips ou barras de chocolate frescas representam 40% das embalagens de plástico em todo o mundo, afirma Defruyt. As chamadas embalagens flexíveis de peso leve, descartáveis e compostas por multicamadas são utilizadas para embalar em torno de 215 bilhões de produtos, somente no Reino Unido.
Apenas em torno de cinco países europeus promovem tentativas de reciclar essas embalagens, relatou Defruyt. Nos Estados Unidos, as embalagens flexíveis representaram somente 2% da reciclagem nas residências em 2020. Quando não acabam queimadas ou em algum depósito de lixo, essas embalagens são normalmente perdidas ou despejadas no meio ambiente.
Parte do problema são as multicamadas que às vezes incluem uma película, o que encarece bastante separar os materiais em partes recicláveis. Essas embalagens são, normalmente, “supercontaminadas” com restos de alimentos desperdiçados, o que as torna impossíveis de reciclar, avalia Defruyt.
A indústria de embalagens alega que as flexíveis trazem benefícios ambientais, por serem mais leves do que os plásticos mais rígidos e causarem menos emissões de transporte, além de manterem a comida fresca por um tempo mais longo. No entanto, os esforços da indústria de embalagens flexíveis para integrá-las à economia circular pouco contribuem para aumentar os índices de reciclagem.
Proibir é solução?
Uma pesquisa de 2022, com mais de 23 mil consultados em 34 países, revelou que 80% apoia banir alguns tipos de plástico que não podem ser facilmente reciclados.
Os autores da pesquisa, conduzida pela entidade internacional de conservação WWF e pela Plastic Free Foundation, na Austrália, afirmam que “qualquer progresso significativo em reduzir o lixo global de plástico” precisa incluir a proibição dos “tipos de plástico de uso único mais problemáticos e prejudiciais, equipamentos de pesca e microplásticos”.
A União Europeia (UE) adotou algumas medidas nessa direção, ao banir dez tipos de plásticos mono-uso que não empestam apenas as praias europeias, mas também estão na contramão do modelo de economia circular da UE, segundo o qual todos os plásticos descartáveis terão de ser reutilizáveis até 2030.
Enquanto isso, mais de 30 países africanos baniram parcial ou totalmente os sacos plásticos leves. Um tratado global de plásticos poderia alinhar essas proibições mundo afora, possibilitando uma regulamentação global coerente.