O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, preso desde sábado (14/05) em Nova York, nos Estados Unidos, gozava de muito crédito e confiança dos diplomatas norte-americanos – fato pouco comum para um membro do Partido Socialista francês. É o que mostra um documento da embaixada dos EUA na França de maio de 2006 vazado pelo site Wikileaks.
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O documento trata de um encontro de Strauss-Kahn com o então embaixador dos EUA em Paris, Craig Stapleton. O diplomata apontava o economista como o “candidato ideal” do PS para as eleições presidenciais francesas, que iriam ocorrer em abril e maio de 2007.
De acordo com Stapleton, o economista era o candidato socialista “com melhor preparo” para vencer Nicolas Sarkozy. Porém, o embaixador apontava que sua “falta de pretensão” poderia significar a “ruína” para seu projeto de poder. “Enquanto ele claramente se via como o homem certo para liderar França, também parecia relutante em bater o seu 'próprio tambor' e não foi preciso ao dizer o que faria caso fosse escolhido para ser o próximo presidente”, escreveu Stapleton.
Agora, no entanto, Strauss-Kahn se encontra preso na prisão da ilha de Rikers, acusado de sete crimes sexuais contra uma camareira em um quarto do hotel Sofitel, onde estava hospedado. Seus advogados alegam inocência. O escândalo chocou a França e ocupa todas as manchetes da mídia europeia.
Disputa interna
Strauss-Kahn fez uma série de críticas à sua então maior concorrente no partido, Ségolène Royal. Para ele, as pesquisas de opinião que a apontavam como favorita para vencer as eleições eram uma “loucura coletiva”. O economista fez questão de lembrar ao embaixador que, na França, era muito comum que os candidatos que lideravam as pesquisas no início da corrida presidencial acabavam derrotados.
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No encontro, Strauss-Kahn apontou que Ségolène até poderia vencê-lo no debate interno do partido, mas não tinha qualquer chance de vencer o “debate externo” contra Sarkozy. O economista afirmou que o fato dela estar em evidência na mídia fazia com que até mesmo suas “declarações mais banais” fossem consideradas importantes.
Por fim, na fase de primárias, o Partido Socialista acabou escolhendo Ségolène Royal por larga vantagem: a candidata recebeu 60% da preferência dos militantes, contra apenas 21% de Strauss-Kahn e 19% de Laurent Fabius. Ela disputou a presidência contra Nicolas Sarkozy e acabou sendo derrotada no segundo turno pelo atual presidente francês.
A deputada e governadora da região de Poitu-Charentes tentará novamente disputar a vaga no Palácio do Eliseu, e concorre internamente com seu marido, François Hollande e com a secretária-geral do partido, Martine Aubry. Strauss-Kahn, por enquanto, ainda não abandonou oficialmente a disputa.
Entretanto, os socialistas optaram pela deputada e governadora da região de Poitu-Charentes, Ségolène Royal, que perdeu para Nicolas Sarkozy, da UMP, no segundo turno. Ségolène, assim como seu marido François Hollande e a secretária-geral do PS, Martine Aubry.
Caso Clearstream
Durante o encontro com o Stapleton, Strauss-Kahn apontou que o escândalo provocado na direita francesa com o caso “Clearstream” poderia colaborar para uma possível vitória do Partido Socialista na eleição.
O nome do episódio remete a uma investigação a respeito das denúncias de que altos funcionários do governo francês teriam contas secretas ilegais em um banco de Luxemburgo. O então primeiro-ministro da época, Dominique de Villepin, foi acusado de elaborar um complô para denegrir a imagem de Nicolas Sarkozy, um dos nomes mencionados na lista de suspeitos, e seus aliados.
Na época, De Villepin e Sarkozy disputavam internamente a vaga do partido da direita, a UMP (União pelo Movimento Popular). Nada foi provado contra Sarkozy, enquanto De Villepin foi processado e absolvido em seguida, pois não foi provado que ele tivesse ciência de que os documentos e informações nele contidos eram falsos.
Para o atual diretor do FMI, o então presidente Jacques Chirac deveria, na ocasião, ter afastado De Villepin. A permanência dele significava uma aposta do governo de que os franceses tinham uma “memória fraca” e, por isso, o caso não influenciaria no resultado das eleições.
Strauss-Kahn elogiou a habilidade política de Sarkozy, mas o acusou de assumir o “papel de vítima” no episódio para melhorar a sua imagem perante os eleitores. “A França não tem uma democracia madura como os Estados Unidos”, teria afirmado Strauss-Kahn.
Nessa segunda-feira, sua colega e concorrente no PS, Martine Aubry criticou a forma com que Strauss-Kahn foi preso e criticou os procedimentos da justiça norte-americana: “Estou impressionada com as imagens que vi esta manhã. (…) Felizmente, estamos em um país no qual, graças à presunção de inocência, não se pode mostrar homens e mulheres algemados nesta etapa do procedimento. É profundamente humilhante. É realmente comovente”, afirmou.
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