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Política e Economia

Grupo se reúne em Moscou para “proteger” Rússia de imigrantes sem documentos

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“Ultra-esquerdistas, anarquistas, antifascistas e pessoas com orientação sexual não tradicional” não participam, diz manual

Sandro Fernandes

2013-10-23T17:30:00.000Z

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Sandro Fernandes/Opera Mundi

Parte do "Escudo de Moscou"; eles se reúnem para "caçar" imigrantes sem documentos na capital russa


Sexta-feira, sete da noite: aproximadamente 20 jovens russos se encontram em frente ao metrô Skhodneskaia, no noroeste de Moscou. Poderia ser apenas um grupo de rapazes se preparando para a balada do fim de semana, mas estes russos têm uma missão: proteger a Rússia dos imigrantes sem documentos. A imprensa não demora a chegar. Jornalistas russos e estrangeiros foram avisados do evento. O grupo se chama “Escudo de Moscou” e organiza batidas policiais surpresas – juntamente com as autoridades – em edifícios onde supostamente residem imigrantes sem autorização de trabalho na Rússia.

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Qualquer um pode participar, menos “ultraesquerdistas, anarquistas, antifascistas e pessoas com orientação sexual não tradicional”, segundo o manual do movimento. ”A nossa juventude está acordando. Não queremos ficar em casa bebendo vodca. Queremos fazer algo para ajudar. Todos eles têm em média entre 18 e 25 anos. Poderiam estar bebendo e estão aqui limpando a cidade [de imigrantes]”, explica Aleksei Khudyakov, um dos responsáveis por falar com a imprensa.

O discurso antiálcool é repetido mais de uma vez. “Rússia sóbria!”, gritam os jovens. O “Escudo de Moscou” diz que atua porque cansou de esperar que a polícia faça algo para resolver o problema da imigração. Para estes jovens, os imigrantes não são vítimas de um sistema que explora a mão-de-obra estrangeira nem da falta de política de imigração da Rússia. Para eles, os imigrantes são a raiz do problema. E decidiram combater o problema com as próprias mãos.

“Nós não agredimos ninguém. Nem mesmo tocamos em nada nas ‘casas’ dos imigrantes. A gente recebe informação de outros cidadãos, avisamos à polícia onde moram os ilegais e vamos juntos para assegurar que quem está ilegal vai ser detido”, conta Andrei Kuzmin, um dos líderes do grupo.

Sandro Fernandes/Opera Mundi

O grupo "Escudo de Moscou" durante uma batida em um edifício onde supostamente residem imigrantes não documentados

O movimento “Escudo de Moscou” não está sozinho na “luta” anti-imigrante. Recentemente, a imprensa russa noticiou um grupo de taxistas locais que se passam por passageiros para encontrar taxistas estrangeiros que não estejam registrados em Moscou ou não tenham permissão de trabalho na Rússia. Quando encontram estes taxistas – tarefa simples – avisam a outros colegas através de códigos e estes chamam a polícia.

De acordo com um informe publicado no ano passado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Rússia abriga a maior quantidade de imigrantes em situação ilegal do mundo, com 3,5 milhões de pessoas nestas condições, o que representa 7% do número de trabalhadores do país.

Moscou: um país dentro de um país

Capitais de países geralmente se diferem de cidades secundárias porque conseguem concentrar as mais diferentes facetas (e problemas) de um determinado Estado. Na Rússia não seria diferente. Moscou já é conhecida entre os russos como “um país dentro de um país”, por ser não ser tão parecida com o restante da Rússia. “Você conhece Moscou? Ótimo. Quando vai visitar a Rússia?”, brincam sempre com turistas.

Quando o assunto é imigração, Moscou apresenta um território fértil para o crescimento de ideias conservadoras e populistas. Entre os moscovitas, pelo menos 74% declararam, em uma pesquisa que o islamismo apresenta uma ameaça à cultura russa e à estabilidade social do país. Na mostra de toda a Rússia, 60% dos entrevistados sentem esta ameaça. Além disso, 64% dos moscovitas acham que os russos étnicos (eslavos) devem ter uma posição de liderança no Estado. Entre os entrevistados em todo o país, este percentual é de 47%.

Apesar da maior renda e maior nível educacional da população de Moscou, as ideias nacionalistas na capital são mais populares do que no restante do país.

Sandro Fernandes/Opera Mundi

Documentos são verificados pelo "Escudo de Moscou"; eles acompanham a polícia nas batidas

Em maio, o prefeito de Moscou, Sergei Sobianin, disse a um jornal local que “Moscou é uma cidade russa e deve permancer como tal. Não é chinesa, nem tajique, nem uzbeque”. Segundo ele, “pessoas que falam russo mal e que têm uma cultura diferente estão melhores vivendo em seu próprio país”.

Sobyanin é apoiado pelo presidente Vladimir Putin, mas o discurso anti-imigração não é exclusivo dos governistas. O principal líder da oposição russa, Aleksei Navalny, que chegou em segundo lugar na corrida pela prefeitura de Moscou, no início de setembro, já declarou simpatia aos objetivos de grupos nacionalistas russos, como o Movimento Contra Imigração Ilegal (DPNI, em russo), proibido no país durante dois anos por “incitar a hostilidade nacional”. Navalny disse recentemente em entrevista à uma rádio russa que “50% dos crimes em Moscou são cometidos por estrangeiros”. Os números oficiais apontam que 15% dos crimes graves da capital russa são cometidos por não locais.

“Pantera branca na Jamaica”

Sandro Fernandes/Opera Mundi
A elite intelectual russa também não parece se envergonhar de pensamentos nacionalistas. “Eu vejo rostos asiáticos com pele escura e eu me sinto como uma pantera branca na Jamaica, rodeada de escravos com outra língua e cultura”, escreveu a aclamada jornalista Yulia Latnyna no respeitado jornal de oposição Novaya Gazeta. Para Latnyna, a solução para o problema é “enviar para casa todos os trabalhadores migrantes que estejam em trabalho escravo”.

[Não agredimos ninguém, afirma Andrei Kuzmin, um dos líderes do grupo]

Para Nikita Mkrtchyan, do Instituto de Demografia da Higher School of Economics de Moscou, “migrantes legais são menos vantajosos para os empresários e para o Estado do que os sem documentos”. Segundo ele, a única maneira de resolver o problema seria punindo o empresariado que usa a mão-de-obra estrangeira.

Em entrevista a Opera Mundi, Dmitri Poletaiev, do Centro de Pesquisas sobre Migração, afirma que, além da falta de uma política de imigração do governo russo, há um choque cultural normal entre os locais e os migrantes que chegaram nos últmos anos. Segundo ele, os migrantes agora vêm também da zona rural e têm uma cultura completamente diferente. “Os moscovitas não estão felizes com estes novos hábitos que as pessoas trazem. Alguns poucos empresários e chefes de máfia enriquecem com estes migrantes, que são o lado mais vulnerável, e a população sofre a consequência da falta de um planejamento."

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Hoje na História

Hoje na História: 1920 - Império Otomano e nações aliadas da Primeira Guerra Mundial assinam tratado de paz

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O Tratado de Sévres pôs fim ao Império Otomano. Duro demais e impraticável, o documento despertou a ação dos nacionalistas turcos que se negaram a aceitá-lo, defendendo a independência turca

Max Altman

São Paulo (Brasil)
2022-08-10T14:15:00.000Z

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O Império Otomano, aliado da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, assina em 10 de agosto de 1920 a paz em Sèvres (Hauts-de-Seine). Os Aliados impõem um desmembramento do Império Otomano, cujo território fica reduzido à Anatólia, ou península anatoliana, uma região do extremo oeste da Ásia que corresponde hoje à porção asiática da Turquia, em oposição à porção européia, a Trácia.

A Grécia ontem a costa do mar Egeu, a Armênia e o Curdistão obtêm o direito à independência e as províncias árabes são colocadas sob mandatos britânicos e franceses. Os nacionalistas turcos, comandados por Mustafá Kemal Ataturk, rejeitariam esse tratado. O tratado seria revisto em Lausanne (Suíça) em 1923.

O período final do Império Otomano aconteceu durante a Segunda Era Constitucional do Império Otomano. Durante a Primeira Guerra Mundial, na região do Oriente Médio, a batalha aconteceu entre as Forças Aliadas, formadas pela Grã Bretanha, França e Rússia e as Forças Centrais, formada basicamente pelo Império Otomano.

O Império Otomano foi bem-sucedido no início da guerra. Os Aliados foram derrotados nas batalhas de Galipoli, Iraque e Bálcãs. No entanto, alguns territórios anteriormente perdidos foram reconquistados. A Revolução Russa também foi um fator favorável para a reconquista de territórios Otomanos, como Trabzon e Erzurum. As ofensivas incessantes dos ingleses mostraram-se decisivas e o Império Otomano acabou sendo derrotado em 1917.

As tropas aliadas vitoriosas, lideradas pelo general inglês Edmund Allenby, com apoio das revoltas árabes e assistência da recém declarada República da Armênia, anexaram territórios otomanos.

O Tratado de Sévres pôs fim ao Império Otomano. Este tratado mostrou-se duro demais e impraticável, o que despertou a ação dos nacionalistas turcos que se negaram a aceitá-lo, passando a defender a independência da Turquia. Em resposta a tal partilha surge a figura do mito nacional Mustafa Kemal Pasha, logo renomeado Ataturk (Pai dos Turcos), mobilizando o nacionalismo turco e reorganizando parte do extinto exército otomano na Anatólia.

Wikimedia Commons/Cumhuriyet
Os quatro signatários do Tratado de Sévres, que entrou na história ao por um fim ao Império Otomano, em 1920

Vitorioso na luta da independência, que resultou na expulsão das forças aliadas, Ataturk funda a República da Turquia em 1922, tornando-se seu primeiro presidente. Muda o nome de Constantinopla para Istambul e transfere a capital para Ancara, no centro do país, além de extinguir os vestígios do sultanato otomano ao exilar o último sultão.

O tratado de Lausanne de 1923 reconheceu a Turquia em suas atuais fronteiras. Ataturk implantou reformas radicais no país: tornou a Turquia um país secular; unificou o sistema educacional e fez com que o turco passasse a ser ensinado no alfabeto latino em vez do persa-árabe, com o intuito de se alfabetizar a maioria da população; baniu o uso do véu feminino nas universidades e em locais públicos e concedeu às mulheres direitos civis iguais aos homens; aboliu os trajes típicos que expressavam a hierarquia religiosa e social dos cidadãos.

Para Ataturk, o fato de a Europa cristã ter tido sua super-estrutura (leis, escolas, comércio) drasticamente alterada por eventos como o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa estabeleceu a diferença com o mundo islâmico, que preservara suas próprias estruturas em que a religião ainda determinava o funcionamento da sociedade e se constituiu na causa real do fim do império otomano.

O fato de tais reformas terem ocorrido muito rapidamente e sem consultas maiores aos líderes das antigas estruturas causou e ainda causa certa tensão entre uma sociedade mais modernizada, visível nos grandes centros urbanos, e outra mais apegada aos antigos costumes, no interior e em povoados afastados, que não as absorveram por completo. 

Cerca de 85% dos atuais 70 milhões de habitantes do país são turcos étnicos, 97% islâmicos, sunitas em sua maioria. Quatro milhões e meio vivem na capital Ancara e cerca de 12 milhões, vivem no coração cultural e econômico do país, na área metropolitana de Istambul.

Cerca de 12 milhões de turcos vivem fora do país, 3 milhões só na Alemanha. Persistem ainda três fontes de tensões internacionais: o conflito com a Grécia pelo Chipre; as rebeliões da minoria curda (12 milhões) por autonomia no sudeste do país e o reconhecimento turco do genocídio Armênio ao fim da primeira guerra mundial, quando 1.5 milhão de Armênios, que chegaram a compor 25% da população otomana, foram massacrados ou deportados.

(*) A série Hoje na Hist´ória foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.

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