Atualizada às 18h32
A Associação de Acionistas Críticos questionará nesta terça-feira (13/05) a relação entre a Volkswagen e a ditadura brasileira (1964-1985), durante a reunião anual de prestação de contas da companhia, em Hannover (Alemanha). Os acionistas também pedirão explicações sobre a suposta venda de carros e jatos d'água para a repressão de protestos no Rio de Janeiro.
“Nós exigimos que a Volkswagen investigue e esclareça imediatamente esses casos, tendo em vista o recente aniversário de 50 anos do Golpe Militar brasileiro. A Volkswagen deve admitir e assumir sua responsabilidade histórica no fato”, argumenta o documento que está disponível na internet.
Saiba qual foi a resposta oficial da Volkswagen na reunião de Hannover
Reprodução/Internet
Durante Passeata dos Cem Mil organizada contra a ditadura, em junho de 1968, manifestantes tombam Kombi no centro do Rio
No caso do envolvimento com a ditadura militar, a Volkswagen deverá responder sobre as contribuições financeiras dadas ao Ipês (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e ao GPMI da Fiesp (Grupo Permanente de Mobilização Industrial, diretoria criada na federação das indústrias em abril de 1964). De acordo com a Associação de Acionistas Críticos, esse dinheiro teria sido usado para a construção de um complexo militar-industrial no Brasil, sob a orientação da ESG (Escola Superior de Guerra).
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Além disso, os representantes da empresa alemã serão obrigados a se posicionar sobre a denúncia de que ao menos três funcionários da sua subsidiária Scania foram demitidos e tiveram informações repassadas ao Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) depois que a polícia os prendeu por, suspostamente, fazerem parte de um “movimento socialista”.
Reprodução/Roberto Moreyra/Extra
Caminhão equipado com jato d'água é utilizado pela PM do Rio para reprimir manifestações populares
A Associação de Acionistas Críticos é um grupo sem fins lucrativos que possui ações em mais de 25 das maiores empresas da Alemanha e, por isso, tem o direito de se posicionar nas reuniões anuais de apresentação de balanço. A companhia questionada é obrigada a responder algo no mesmo evento.
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Em relação à venda de jatos d'água, a associação argumenta que a simples existência desse produto entre os oferecidos pela Volkswagen “é incompatível com princípios éticos da empresa”. O documento lembra ainda que esse tipo de arma já foi usada na Turquia, quando a população ocupou a Praça Taksim contra a construção de um empreendimento imobiliário.
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O GPMI da Fiesp
O GPMI foi uma diretoria criada dentro da Fiesp oficialmente em 30 de abril de 1964; caracterizada como “o ponto de partida dos negócios entre a indústria e a ditadura”, segundo o jornalista e ex-militante Antônio Carlos Fon. Seu objetivo oficial seria readaptar o parque industrial brasileiro à produção de equipamentos bélicos. Sua atuação, entretanto, era mais profunda: remonta às células de logística da conspiração que se preparavam para derrubar o presidente João Goulart desde 1961.
A empresa Volkswagen do Brasil aparece nas atas de reunião do GPMI como uma das “Firmas que doaram verbalmente” ao grupo.
Assista à entrevista do jornalista e ex-militante da ALN Antônio Carlos Fon sobre a atuação do GPMI na ditadura:
Evidenciando a relação próxima entre as Forças Armadas e as grandes empresas, a diretoria do GPMI era obrigatoriamente composta por membros civis e militares. Uma desses dirigentes era o general e ex-ministro Edmundo Macedo Soares e Silva, militar brasileiro que teve destacada passagem por diversas megaempresas, entre as quais estava a Volkswagen — além de Mercedes Benz, Mesbla, Banco Mercantil de São Paulo e Light, conforme aponta o historiador e cientista político uruguaio René Armand Dreifuss em seu livro 1964: A conquista do Estado.
Contatada por Opera Mundi na última quinta-feira (08/05), a assessoria de imprensa da Volkswagen respondeu apenas na tarde desta segunda-feira (12/05). “A Volkswagen está aberta a contribuir com o trabalho da Comissão da Verdade e permanece à disposição para colaborar com as informações que forem necessárias.” Leia aqui a resposta da empresa na reunião de Hannover.
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