O III Colóquio Internacional Pátria, que reuniu durante três dias em Havana, capital de Cuba, mais de 200 jornalistas e intelectuais progressistas de 31 países, encerrou nesta quarta-feira (20/03) após intensos dias de debates sobre as possibilidades de criação de uma nova ordem mundial a partir da comunicação e imprensa.
A declaração final desta edição foi lida na íntegra pela Coordenadora Geral do encontro, Rosa Miriam Elizalde, que expressou ser “o início de uma nova etapa do Colóquio” e convocando os representantes para a reunião de 2025.
La Directora General del Coloquio Patria, @rm_elizalde da lectura a la Declaración Final y las tareas ineludibles del encuentro, convocando a Patria 2025 #PatriaEsHumanidad pic.twitter.com/IxySzgx8Uu
— Coloquio Patria (@coloquiopatria) March 20, 2024
O documento abriu espaço para a condenação do genocídio em curso contra o povo palestino em meio a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 31 mil mortos, além de gerar uma grave crise humanitária.
A declaração também reafirma o seu compromisso com “a denúncia do bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba”, que “viola a soberania tecnológica e impede o país de desenvolver plenamente as suas capacidades económicas, produtivas e criativas”.
Os participantes, no documento, denunciaram que o povo latino-americano e os seus comunicadores enfrentam a “direita e as suas novas articulações extremas, que implementam os esquemas ideológicos do individualismo, da polarização e da rejeição da diversidade cultural”.
“No Pátria partimos da firme convicção de que a prática política do presente atravessa um processo de transformação rápida e acelerada que nos obriga a adaptar as nossas concepções e a dotar-nos de ferramentas próprias para sermos instrumento da prática política eficaz para a construção de um mundo mais justo”, afirma o texto.
Da mesma forma, a declaração alerta que o desenvolvimento tecnológico que começou a tomar forma com a inteligência artificial pode tornar-se instrumento perigoso para transformar a percepção e a intervenção na construção de um novo mundo.
O documento alerta para a necessidade de abandonar a visão instrumental das tecnologias e compreendê-las como parte do espaço político.
Neste sentido, a declaração destaca que os representantes ali presentes assumem, “como tarefas incontornáveis”, promover um espaço permanente de articulação, formação, desenvolvimento de tecnologias partilhadas e comunicação que “forneça ferramentas adequadas para travar o avanço dos novos direitos”.
O Colóquio tinha como objetivo também de confrontar o papel subordinado na divisão global do trabalho controlada pelas empresas tecnológicas e a utilização ilegal de dados, denunciar a utilização e desenvolvimento de tecnologias aplicadas à guerra cognitiva e continuar a luta pela libertação imediata dos jornalistas presos na Europa, Julian Assange e Pablo González.
Com o objetivo de debater a situação atual da comunicação social e as possibilidades de uma Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação, o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, esteve presente no evento.
El ICAP participó en el Taller "Red Patria de Solidaridad comunicacional contra el genocidio palestino y el bloqueo a Cuba". Una importante sesión donde se destacó la importancia de unir esfuerzos por la justicia y la paz en el 🌍@coloquiopatria#PatriaEsHumanidad#FreePalestine pic.twitter.com/sFd7QOs2lv
— Siempre con Cuba (@siempreconcuba) March 19, 2024
Altman participou do Workshop “Rede Pátria de Solidariedade Comunicacional contra o Genocídio Palestino e o Bloqueio de Cuba” e do painel “A humanidade frente ao genocídio do povo palestino pelo Estado sionista. Estratégias de comunicação da resistência” na terça-feira (19/03).

III Colóquio Internacional Pátria reuniu durante três dias em Havana mais de 200 participantes de 31 países
O evento, que começou na segunda-feira (18/03) com uma inauguração, contou com conferências, painéis, salas imersivas e uma visita à Casa de las Américas, em Havana.
Nos três dias de evento, o III Colóquio Pátria organizou debates sobre inteligência artificial, participação política na sociedade e tecnologias, a ascensão da extrema direita na Argentina com Javier Milei, as ferramentas políticas da extrema direita, e comunicação em tempos de guerra.
Jornalismo de esquerda por ideias emancipatórias
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, afirmou durante visita ao evento “que é hora de superar o predomínio da hegemonia imperial que multiplica os antivalores”.
Em declaração à TeleSUR, Díaz-Canel denunciou que o mal e a perversidade da hegemonia imperial “tentam constantemente mudar a opinião das pessoas, manipulando-as, e têm feito com que o mundo recorra à linguagem da guerra, às sanções, aos bloqueios e às imposições”.
Nesse sentido, comemorou a presença de jornalistas e intelectuais de esquerda no evento, para “articular formas de aproveitar as plataformas de dominação cultural em benefício das ideias emancipatórias de pensadores como o líder Fidel Castro”.
O presidente destacou que o mundo vive atualmente dois acontecimentos que demonstram a perversidade do sistema de dominação hegemônica: o genocídio na Faixa de Gaza e os acontecimentos no Haiti.
“Basta que as bombas ressoem na Palestina. Precisamos ouvir as vozes das pessoas que sofreram com este genocídio. Claro, cubanos, nunca toleraremos e condenaremos veementemente o que está acontecendo na Palestina. E o Haiti na nossa região, os defensores do genocídio e do hegemonismo respondem buscando a intervenção de forças multinacionais quando deveríamos estar focados na solidariedade, na cooperação com o povo haitiano”, disse ele.
O Ministro da Informação e Comunicação da Venezuela, Freddy Náñez, também esteve presente no III Colóquio Internacional Pátria e descreveu o evento “como uma escola” pelo seu teor educativo.
O ministro ainda parabenizou a emissora e agência de notícias TeleSUR e sua presidente, Patricia Villegas, pelas premiações recebidas, porque a multiplataforma, desde a sua fundação, “continua sendo um bastião, uma vanguarda para levar a verdade dos povos livres para o mundo”.
“Homens e mulheres que partem de práticas concretas para construir uma comunicação libertadora, se reúnem aqui para compartilhar conhecimentos, experiências e, acima de tudo, articulá-los e construir o que deveria ser um movimento latino-americano, onde poderemos enfrentar os novos desafios da comunicação”, destacou Náñez.
Sobre o genocídio na Faixa de Gaza e o papel dos meios de comunicação, o ministro venezuelano declarou: “em vez de motivar a indignação e a ativação do direito internacional, o mundo ocidental permaneceu na inacção, por isso devemos responder construindo narrativas reais exigindo um cessar-fogo e sensibilizando todo o planeta”.
Com isso, ratificou a solidariedade da Venezuela com a Palestina e insistiu que a preocupação do Colóquio Pátria reside no fato de que este tipo de acontecimento não seja banalizado nas redes sociais ou invisibilizado nos meios de comunicação internacionais.
Premiações
No encerramento do evento, Villegas, recebeu a distinção Félix Elmusa, a mais alta condecoração concedida no jornalismo cubano.
“Estamos sempre na linha de frente da batalha e continuaremos lá”, disse Villegas ao receber o prêmio entregue pelo presidente da Unión de Periodistas de Cuba (UPEC), Ricardo Ronquillo Bello. A própria agência da TeleSUR também foi premiada com o reconhecimento El Maestro.
Da mesma forma, a rede árabe Al Mayadeen recebeu o Prémio Dignidade, em reconhecimento ao seu compromisso com as causas do nosso povo no Sul Global.
(*) Com TeleSUR