Os Estados Unidos apresentaram um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para pedir um “cessar-fogo imediato” na guerra de Israel contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza, que já vitimou quase 32 mil pessoas.
Segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que chegou nesta quinta-feira (21/03) ao Egito para discutir o conflito no Oriente Médio, a proposta de trégua estaria ligada à “libertação dos reféns” sequestrados pelo Hamas em 07 de outubro.
O texto apresentado pelos EUA é resultado de intensas negociações entre os Estados mediadores e os norte-americanos. A resolução, além de exigir a liberação dos reféns mantidos em Gaza, também fala em suspensão do financiamento externo ao Hamas.
Alguns pontos do documento, ao qual o jornalista Jamil Chade teve acesso e publicados no UOL, incluem a concessão imediata de acesso humanitário a população na região e exige que todas as partes cumpram suas obrigações sob o direito internacional em relação aos reféns e as obrigações aplicáveis dos direitos humanos.
O documento também exorta igualmente que os Estados Membros se esforcem para suprimir o financiamento do terrorismo, inclusive restringindo o financiamento do Hamas – considerado grupo terrorista em alguns países do Ocidente – por meio de autoridades aplicáveis em nível nacional, de acordo com o direito internacional.
Hospitais e outras unidades, pessoal médico e ambulâncias devem ser respeitados e protegidos por todas as partes envolvidas na guerra, de acordo com o direito internacional humanitário. E um dos termos exige que Gaza não seja reduzida ou anexada, bem como por destruição devido a bombardeios generalizados.
A nova proposta de resolução também condena os apelos de ministros de extrema direita do governo israelense para o reassentamento de Gaza e rejeita qualquer tentativa de mudança demográfica ou territorial em Gaza perpetrados por colonos.
A votação da nova proposta de cessar-fogo está prevista para acontecer nesta sexta-feira (22/03).
Desde o início da guerra, os Estados Unidos vetaram três resoluções do Conselho de Segurança da ONU que apelavam a cessar-fogo imediato e duradouro.
A respeito do possível acordo, Blinken disse estar “mais do que esperançoso” de que pode haver entendimento entre Israel e o Hamas. A situação humanitária em Gaza foi considerada terrível e um relatório internacional da ONU afirmou na terça-feira (19/03) que “a fome é iminente”.
A viagem norte-americana no Oriente Médio
Na Arábia Saudita, o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, recebeu Blinken, em Jeddah, na quarta-feira (20/03) enquanto o diplomata dos EUA faz sua sexta viagem à região. A dupla “revisou as relações bilaterais e as áreas de cooperação conjunta, além dos mais recentes desenvolvimentos regionais e internacionais”.
“Esperamos vivamente que os países apoiem a resolução”, disse ao meio de comunicação saudita Al-Hadath o secretário dos EUA. A viagem é a primeira etapa de uma tour regional que foi estendida para incluir Israel e ocorre paralelamente às negociações no Catar, onde os mediadores se reuniram também na quarta-feira (20/03).
Em mais declarações ao Al-Hadath, Blinken disse que os EUA estão buscando “a trégua imediata vinculado à libertação de reféns traria alívio a tantas pessoas que sofrem em Gaza”.
A reunião discutiu “os desenvolvimentos na Faixa de Gaza e os esforços enviados para parar as operações militares e lidar com as suas repercussões humanitárias e de segurança”, acrescentou a imprensa saudita.
Tal resolução proposta nesta quinta-feira enviaria um “sinal forte”, acrescentou Blinken, que sublinhou, durante uma entrevista com o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman, o “compromisso” norte-americano com uma solução “duradoura” para a crise “e com a criação de um “futuro Estado palestino” oferecendo garantias de segurança a Israel, segundo o Departamento de Estado.
Blinken também disse à imprensa saudita que um corredor marítimo para entrega de ajuda a Gaza, anunciado por Biden na semana passada, estará ativo “em questão de semanas”.
Ele acrescentou que o corredor “não é um substituto para o que é ainda mais importante, que é receber assistência por via terrestre, e isso significa que Israel precisa abrir mais pontos de acesso a Gaza”.
O departamento de Estado dos EUA comunicou que Blinken visitará Israel nesta sexta-feira para novas conversações em meio às rusgas entre os dois países. A visita ocorre em meio tensões diplomáticas entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, à medida que Washington fica cada vez mais frustrado com o fracasso de seu aliado em conter as mortes de civis ou em permitir a entrega de ajuda humanitária.
Outra preocupação para os EUA tem sido o destino de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza. Biden pressionou Netanyahu para que recuasse de uma ofensiva terrestre em grande escala na pequena área, onde cerca de 1,5 milhão de palestinos estão abrigados depois de terem sido expulsos de suas casas em outros lugares da Faixa.
“O presidente Biden foi muito claro – que não podemos apoiar uma operação militar em Rafah”, disse Blinken.
Mas Netanyahu disse aos senadores dos EUA na quarta-feira (20/03) que Israel continuará a sua operação para derrotar o Hamas.
Os EUA apoiaram Israel com armas e cobertura diplomática na sua guerra de cinco meses no enclave para extrair reféns feitos pelo Hamas em 07 de outubro. Mas os métodos de Israel provocaram indignação global, provocando um caso de genocídio contra o país na Corte Internacional de Justiça.
Desde o início da guerra em Gaza, o governo norte-americano forneceu a maior parte dos armamentos e das tecnologias de mira usadas pelas forças israelenses. O governo Biden também não sinalizou a possibilidade de retirar esse apoio quando Israel bloqueou caminhões de alimentos e combustíveis cruciais para a Faixa de Gaza.
Apenas nos primeiros meses da guerra, Biden enviou 230 aviões de carga e 20 navios de armas militares para Israel, um tesouro que incluía cem bombas BLU-109, 540 MK84 e 5 mil destruidores de bunkers MK82, 1 mil bombas GBU-39, 3 mil kits de orientação de bombas JDAM e 200 “drones kamikaze”.
De acordo com os jornalistas Ken Klippenstein e Matthew Petti, do Intercept, o Departamento de Defesa norte-americano tem fornecido inteligência de satélite e software para ajudar as IDF a encontrar e atingir alvos em Gaza. Uma “Equipe de Ligação de Defesa Aérea”, relatam, chegou a viajar a Israel em novembro passado para oferecer ajuda na seleção de alvos, acrescentando que “pela primeira vez na história dos EUA, o governo Biden tem realizado missões de vigilância com drones sobre Gaza”.
O atual conflito foi deflagrado após ofensiva do Hamas que deixaram 1,2 mil mortos em Israel. Já as autoridades de Gaza contabilizam 32 mil vítimas desde o começo da guerra. Os ataques israelenses também deixaram 74.188 feridos em mais de cinco meses e mais de 1 milhão de deslocados.
(*) Com ANSA