O Tribunal de Roma concluiu na manhã desta terça-feira (17/01) o julgamento do processo que acusa 27 ex-agentes de ditaduras de Bolívia, Chile, Peru e Uruguai pelos crimes de sequestro e homicídio múltiplo agravado de 25 cidadãos de origem italiana cometidos entre 1973 e 1980, período de atuação da Operação Condor. A corte, presidida pela juíza Evelina Canale e formada por sete magistrados, se retirou na Câmara de Conselho para analisar o caso. A sentença deve ser divulgada ainda hoje.
Em novembro passado, os procuradores Giancarlo Capaldo – responsável pelo caso – e Tiziana Cugini pediram a prisão perpétua dos imputados e leram todos os casos de tortura e homicídio dos quais os réus são acusados.
A audiência que aconteceu na Aula de Rebbibia – o mesmo tribunal que julgou o caso Máfia Capital, sobre crimes de corrupção da máfia na prefeitura de Roma – começou às 9h30 (hora local, 6h30 em Brasília) e durou cerca de três horas. A sessão, que contou com a presença de políticos italianos como Maria Elena Boschi, vice-secretária do Conselho de Ministros, além de embaixadores, diplomatas, representantes de partidos políticos e organizações não governamentais, teve um momento conturbado quando os advogados de defesa dos réus contestaram a memória defensiva depositada pelo advogado Fábio Galiani, que representa o governo uruguaio.
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Os procuradores Giancarlo Capaldo e Tiziana Cugini pediram prisão perpétua aos 27 ex-agentes de ditaduras sul-americanas
Segundo Francesco Guzzo, advogado de José Nestor Troccoli, militar responsável pelos interrogatórios da Fusna (Serviço de Inteligência da Marinha do Uruguai), “o documento depositado por Galiani não trouxe nenhuma novidade, pelo contrário, prova o quanto é inútil trazer testemunhas e parentes que não acrescentam nada ao processo, pessoas que dizem não conhecê-lo”. Troccoli é o único entre os acusados que tem chances reais de ser preso. Por ter dupla cidadania, fugiu da América Latina para não ser processado em seu próprio país. Atualmente reside em Battipaglia, uma pequena cidade no sul na Itália.
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Galiani, por sua vez, estava tranquilo e saiu da audiência esperançoso. “Joguei o verde e ele colheu direitinho”, comentou com colegas nos corredores do tribunal.
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Francesco Guzzo, advogado de José Nestor Troccoli, que vive na Itália e tem chances reais de ser preso
Já para o procurador Capaldo disse que não há réplica a uma memória de defesa e que a corte errou tecnicamente ao dar essa possibilidade a ambos. O procurador disse estar um pouco preocupado, visto a importância do processo e a dificuldade de entendê-lo. “O quadro histórico é complexo, são 25 vítimas mortas ou desaparecidas em diversos lugares, em países diferentes, com regimes diferentes. Espero que a corte tenha a sensibilidade e seja capaz de julgar o caso e condenar esses ex-agentes.”
Para os familiares das vítimas, não foi fácil participar como testemunhas do processo. “É duro falar sobre o que houve, mas é necessário. As feridas não serão cicatrizadas com uma condenação, mas haverá justiça”, disse a Opera Mundi Maria Paz Venturelli, filha de Omar Venturelli, um ex-sacerdote ítalo-chileno que foi preso e desaparecido no Chile em 4 de outubro de 1973.
Essa é a segunda vez que Maria Paz participa de um processo penal na Itália. O primeiro foi contra Alfonso Podlech, ex-procurador militar do regime de Pinochet, que foi absolvido por falta de provas. “É claro que espero que agora a sentença seja diferente. Espero terminar o dia e sair daqui com esses monstros condenados”, afirmou.
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Maria Elena Boschi, vice-secretária do Conselho de Ministros da Itália, representou o governo italiano na audiência