O Partido Socialista (PS), do premiê António Costa, é o grande vencedor das eleições legislativas portuguesas, realizadas neste domingo (06/10), mas sem obter a maioria absoluta, que o permitira governar sem coalizão. Ao mesmo tempo, o bloco de direita (PSD/CDS-PP), que governava o país até a criação da “geringonça”, em 2015, perdeu espaço no Parlamento, apesar de a extrema-direita ter eleito seu primeiro deputado.
Com 99,93% de votos apurados, o PS tinha 106 assentos (36,65%); o PSD (Partido Social-Democrata), de centro-direita, é a principal força de oposição, com 77 cadeiras (27,9%), registrando seu pior resultado desde 2005, de acordo com a RTP.
O Bloco de Esquerda, por sua vez, é o terceiro partido do país, com 19 assentos (9,67%), resultado semelhante a 2015, quando conseguiu 19; a CDU, que reúne os comunistas e os verdes, conquistou 12 cadeiras (6,47%); o tradicional partido conservador CDS-PP fica com cinco assentos (4,25%).
Esta eleição representou uma perda de força da direita. Em 2015, o bloco Portugal à Frente, composto pelo PSD e pelo CDS-PP, havia conquistado 107 assentos. Neste domingo, a esta altura da apuração, terá no máximo 82.
O partido de extrema-direita Chega conseguiu eleger um deputado, e teve 1,3% dos votos.
Para maioria, era necessário que um partido atingisse pelo menos 116 cadeiras (de um total de 230). Como isso não aconteceu, Costa terá que tentar fazer uma coalizão ou com o Bloco de Esquerda, ou com a CDU – com qualquer um dos dois, será possível conseguir maioria. O premiê pode tentar reeditar, também, a “geringonça”, a aliança entre os partidos de esquerda que o levou ao poder.
A abstenção foi alta, chegando a 45,68%, a maior desde 1975, quando foi realizada a primeira eleição após a Revolução dos Cravos.
Partido Socialista/Flickr
Partido Socialista, de António Costa, foi o grande vencedor das eleições portuguesas
Reações
O premiê, que deve se manter no cargo, agradeceu a votação. “Os portugueses gostaram da ‘geringonça’ e desejam a continuidade, com um PS mais forte”, disse. “O PS ganhou as eleições e reforçou claramente a sua posição em Portugal. Aumentou e ganhou em votos e em mandatos.”
O Bloco de Esquerda se colocou à disposição para conversar com o PS. “No Bloco de Esquerda, os compromissos são para valer. A responsabilidade é toda. A disponibilidade também”, afirmou Catarina Martins, coordenadora nacional do grupo. “O Bloco estará no Parlamento com toda a disponibilidade para negociar dentro dos seus compromissos e está preparado para negociar uma solução que ofereça estabilidade para o país.”
A CDU registrou uma queda em relação a 2015, quando obteve 8,25% dos votos e 17 assentos. O líder do PCP (Partido Comunista Português), Jerónimo de Sousa, reconheceu a perda. “Mas estamos longe daquelas declarações mais ou menos agoirentas que consideravam que a CDU estava arrumada, quando alguns anunciavam o seu declínio e morte. O que dirão hoje esses senhores que comentavam o fim da CDU?”, questionou.
Sousa não exclui votar programaticamente com governo, mas disse que não vai repetir a “cena do papel” – oportunidade em que o PS assinou com cada um dos membros da “geringonça” os pontos de convergência para sustentar a administração de Costa. “[O PCP vai trabalhar] Sem compromissos mútuos em termos formais ou institucionais, mas de forma independente.”