O rei emérito espanhol Juan Carlos I, ligado a um escândalo de corrupção, anunciou sua decisão de deixar a Espanha. Sua saída foi informada em uma carta a seu filho, o Felipe VI, divulgada pela Casa Real nesta segunda-feira (03/08). O nome de Juan Carlos aparece em uma investigação da promotoria suíça e do sistema de justiça espanhol para determinar a origem de US$ 100 milhões.
“Sua Majestade, querido Felipe, com o mesmo desejo de servir a Espanha que inspirou meu reinado e diante da repercussão pública que certos eventos passados em minha vida privada estão gerando (…) estou comunicando minha decisão pensada de me mudar para fora da Espanha”, escreveu o soberano.
No texto, Juan Carlos, 82, indica ter tomado uma decisão pensada “para facilitar” o exercício das funções do monarca atual com “a tranquilidade e o sossego que sua grande responsabilidade exige”.
O antigo monarca já abandonou o Palácio de La Zarzuela, mas seu destino ainda é desconhecido.
Suspeita de corrupção de US$ 100 milhões
Seis anos após sua abdicação, o rei emérito colocou a monarquia espanhola em uma situação complicada. A promotoria suíça e a justiça da Espanha investigam a origem de um depósito de US$ 100 milhões (mais de R$ 500 milhões) feito pelo Ministério da Arábia Saudita em 2008 em uma conta suíça da Fundação Lucum. A fundação panamenha tem como beneficiários Juan Carlos e seu filho Felipe.
A suspeita é que o dinheiro seja um pagamento secreto feito pelo governo saudita em retribuição a um contrato fechado com empresas espanholas para a construção de um trem de grande velocidade entre Meca e Medina, inaugurado em 2018.
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Antigo monarca já abandonou o Palácio de La Zarzuela, mas seu destino ainda é desconhecido
O nome do ex-monarca apareceu a partir de registros de áudio feitos por um antigo policial com a ex-amante de Juan Carlos Corinna Larsen. Em algumas das conversas gravadas em 2015, Corinna afirma que o rei emérito teria recebido dinheiro saudita e ainda conta que um dos primos do monarca, Álvaro Órleans, seria seu testa de ferro para pagamentos ilícitos, segundo o jornal espanhol El Pais.
Órleans, por meio de uma fundação com sede em Luxemburgo, teria pago milhões de euros em voos para o casal, segundo aponta uma investigação suíça de lavagem de dinheiro.
O rei emérito não está sendo investigado no momento pela justiça suíça, embora, segundo o El Pais, fontes judiciais não descartem que ele seja investigado no futuro.
Na Espanha, em junho, a procuradora-geral do Estado, Dolores Delgado, pediu que a promotoria do Supremo Tribunal determine se há indícios suficientes de que o chefe de Estado anterior possa ter cometido lavagem de dinheiro e crime fiscal.
Apesar do anúncio de saída do país, o advogado do rei emérito, Javier Sánchez-Junco, emitiu um comunicado assegurando que seu cliente “permanece à disposição” da Justiça.
Filho agradeceu decisão
Em resposta ao anúncio de Juan Carlos, o rei Felipe transmitiu a seu pai “seu sincero respeito e gratidão por sua decisão”.
O comunicado real termina com um parágrafo em que o rei enfatiza “a importância histórica do reinado de seu pai, como um legado e trabalho político e institucional de serviço à Espanha e à democracia”.