O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo discurso na Cúpula do G20 neste sábado (09/09), em Nova Déli, na Índia, criticou a falta de união entre os países no combate à desigualdade.
O presidente questionou a indiferença do mercado frente à discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência. “A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída. Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias.”
Ele afirmou que o mundo desaprendeu a se indignar e “normalizou o inaceitável”, durante a “Sessão 2 – Uma Família”, da Cúpula do G20.
“A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram às mãos dos mais vulneráveis”, disse Lula.
“O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer”, afirmou. Ele contextualizou que, há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior do que a dos mais pobres. “Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres”, lamentou.
Lula destacou que “os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%”. Ele utilizou dados da ONU para afirmar que, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda estarão fora da escola até 2030.
“É preciso colocar os pobres no orçamento público. E fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios. As instituições financeiras internacionais devem funcionar a serviço do desenvolvimento, em vez de agravar o endividamento”, defendeu.
Combate à fome
Lula recordou ainda que a fome afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo e salientou para os demais líderes que, na semana passada, o país lançou o plano “Brasil sem Fome” para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar.
O mandatário ratificou que, durante o período em que o Brasil ocupar a presidência do G20, vai lançar uma Aliança Global contra a Fome. “Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês. Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno. E nos reconhecermos, de fato, como uma grande família. Que não deixa ninguém para trás.”
Flickr/Palácio do Planalto
Lula ratificou que, durante o período em que o Brasil ocupar a presidência do G20, vai lançar uma Aliança Global contra a Fome
Desigualdade de gênero
“Precisaremos de quase 300 anos para atingir a igualdade de gênero perante a lei”, ressaltou Lula, lembrando que, no Brasil, é obrigatório que homens e mulheres que fazem trabalho igual recebam o mesmo salário.
“Garantir oportunidades iguais para todos significa assegurar acesso a serviços básicos de qualidade. Significa formular políticas públicas que contribuam para erradicar o racismo e o sexismo das nossas práticas sociais e institucionais”, declarou o presidente.
Relações com a Turquia
Lula encontrou ainda, em reunião bilateral à beira da cúpula, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e afirmou que deseja reativar a parceria estratégica entre os dois países, especialmente na área de defesa.
“Conversamos sobre reativar a parceria Brasil-Turquia, que estava abandonada. Falamos também do aumento do comércio entre os dois países, da cooperação na área de defesa e as perspectivas pela paz no mundo”, afirmou o presidente brasileiro em rede social. O Planalto apontou que o comércio bilateral, que chegou a US$ 4,9 bilhões em 2022, tem muitas frentes para ampliação.
Lula contextualizou que uma das possibilidades citadas é o mercado de aviação. O presidente afirmou que o Brasil está pronto para facilitar discussões entre Embraer e Turkish Airlines no contexto de potenciais novas aquisições planejadas pela empresa turca.
Na reunião, Lula lamentou o terremoto que causou cerca de 50 mil mortes na Turquia e na Síria em fevereiro. Na ocasião, o governo brasileiro enviou militares e civis para ajudar nos esforços de buscas por sobreviventes.
Ainda no contexto global, o presidente brasileiro elogiou os esforços do governo turco para mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia, que conseguiu resultados concretos, como o acordo para troca de prisioneiros entre os dois lados.
Lula enfatizou que o Brasil está pronto para contribuir com qualquer proposta real de diálogo e garantiu o apoio do Brasil à retomada do acordo de grãos, para tentar garantir a segurança alimentar para mais países do mundo.
Ele ressaltou também que os obstáculos ao comércio de fertilizantes gerado pela guerra afetam em especial os países mais pobres.
(*) Com Agência Brasil