Efe
No dia em que a Rússia celebra o Dia do Protetor da Pátria, mais conhecido como Dia do Homem, e a apenas dez dias das eleições presidenciais, Moscou e outras cidades do país foram marcadas por uma intensa atividade política, principalmente em favor do primeiro-ministro e candidato à presidência Vladimir Putin.
O dia começou com uma passeata no sul da capital russa, organizada pelos movimentos que apóiam o premiê. A marcha teve a presença de aproximadamente 30 mil pessoas, muitos deles usando fitas brancas, azuis e vermelhas, as cores da bandeira russa. Os participantes carregavam cartazes com frases como “Escolha o caminho certo”, “Nós escolhemos a estabilidade, nós escolhemos Putin”, “A História é escrita por nós”, “Putin – o nosso presidente”. Bandeiras do Império Russo também foram vistas.
Sandro Fernandes
Os participantes de passeatas em apoio ao ex-presidente costumam ser alvo de deboche na imprensa independente russa, já que muitos deles sequer sabem o significado das mensagens que exibem.
Um simpatizante de Vladimir Putin carregava um intrigante cartaz com o desenho do globo terrestre, de uma porta e de uma bola de futebol. Perguntado pela reportagem sobre o significado daquele cartaz, o jovem respondeu que o globo terrestre significa os desafios da Rússia no mundo e a porta simboliza as oportunidades que estão por vir. “E a bola de futebol?”, insistimos. “Por que você quer saber sobre a bola de futebol? Você não gosta de futebol?”, respondeu o jovem, pondo um fim à conversa.
Após a passeata, muitos manifestantes seguiram para o Estádio Lujniki, onde teve lugar o maior dos eventos do dia, com cerca de 100 mil pessoas. Na entrada do estádio, uma faixa com os dizeres “Nosso voto para Putin” dividia a atenção com uma estátua de Lênin.
O comício teve a presença de praticamente toda a liderança do partido governista Rússia Unida e incluiu um show de cantores russos populares, discursos de políticos, jornalistas, representantes de sindicatos e do prefeito de Moscou, Sergey Sobyanin. Nos telões, clipes de celebridades que apóiam o candidato Putin eram mostrados antes que o show começasse.
Medo do passado
O temor de que a Rússia volte à caótica situação dos anos 1990 foi ressaltada mais de uma vez durante os discursos. “Hoje temos uma Rússia forte”, repetiram alguns dos convidados. A eleição da Rússia como sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, em 2014, e da Copa do Mundo, em 2018, também foi lembrada e houve poucas críticas à oposição.
Sergey Sobyanin, prefeito de Moscou, chamou Putin de “um cara real, um verdadeiro líder, um homem de palavras e ações” e pediu que as pessoas o apóiem nas próximas eleições.
O apresentador Mikhail Leontiev, por sua vez, disse que agora os russos “têm a oportunidade de escolher seu próprio futuro”. E acrescentou que o país não precisa de uma revolução.
Os organizadores do comício alegaram que os artistas compareceram ao Estádio Luzhnik sem nenhum cachê. Entre o público, no entanto, especula-se que o partido Rússia Unida tenha mais uma vez pago a milhares de imigrantes da Ásia Central para que participassem do evento governista. Nos anteriores protestos pró-Putin, a oposição divulgou vídeo em que imigrantes faziam fila depois do protesto para receber o pagamento pelo serviço de “manifestante”.
Às 13h30, o candidato Vladimir Putin subiu ao palco e foi ovacionado pelo público, que gravava com suas câmeras digitais o homem que foi o centro da política russa nos últimos 12 anos e que, caso seja eleito e reeleito, pode assumir o poder por outros 12 anos. Putin foi presidente de 2000 a 2008, primeiro-ministro de 2008 a 2012 e, ganhando as eleições de março, assumiria de 2012 a 2018, podendo ser reeleito para ficar no cargo ate 2024. já que o mandato presidencial na Rússia passou a ser de seis anos em 2008.
“Nós não permitiremos que ninguém interfira nos nossos assuntos internos e imonha sua vontade porque temos nossa própria vontade”, disse Putin. “Pedimos a todos aqueles que consideram a nossa Rússia sua própria casa, que a apreciem e que acreditam nela. Estejam conosco, trabalhem para ela e seu povo, para amá-la, com todos os nossos corações”, concluiu.
Citando um poema do romancista Mikhail Lermontov, Putin acrescentou: “A batalha da Rússia continua e a vitória será nossa”. No entanto, ganhar as próximas eleições presidenciais em março não é suficiente, disse o primeiro-ministro. Segundo ele, “é preciso superar muitos problemas – a injustiça, a corrupção, a pobreza e a desigualdade”.
Oposição
O Partido Liberal-Democrata (de tendência nacionalista) e o Partido Comunista também organizaram protestos nesta quinta-feira (23/02). Vladimir Jirinovsky, líder do Partido Liberal-Democrata reuniu 1,5 mil pessoas na cêntrica praça Pushkin, em Moscou e falou durante quase uma hora sobre a necessidade de proteger as fronteiras russas.
O Partido Comunista congregou 2,5 mil pessoas em frente ao mítico teatro Bolshoy, bem ao lado da simbólica estátua de Karl Marx e a alguns metros de uma das entradas da Praça Vermelha. Gennady Zyuganov, líder do partido, pediu aos militantes que garantam a presença de pelo menos cinco observadores do Partido Comunista em cada zona eleitoral.
O movimento “União do povo russo” reuniu 200 pessoas na praça Bolotnaya.
A oposição, apesar de muito fragmentada, espera reunir pelo menos 34 mil pessoas no próximo domingo (26/02), exatamente uma semana antes das eleições presidenciais na Rússia.
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