A aliada do ex-presidente argentino Mauricio Macri e presidente do partido conservador de oposição Proposta Republicana (PRO), Patricia Bullrich, sugeriu em entrevista ao canal La Nación+ nesta terça-feira (27/04) que o governo do país “poderia ter dado” às Ilhas Malvinas à farmacêutica Pfizer em troca de vacinas contra covid-19.
“A Pfizer não pediu mudança na lei. Ela pediu garantias, como o fez para todos os países do mundo, o que é razoável”, afirmou, em relação às tentativas de negociações com a empresa. Na sequência, Bullrich, que é ex-Ministra de Segurança do governo Macri, acrescentou que, embora a farmacêutica britânica não tenha pedido o Campo de gelo do sul da Patagônia, localizado na fronteira entre Argentina e Chile, “as Ilhas Malvinas poderiam ter sido dadas”.
A declaração causou repúdio entre políticos e governadores do país, além de ex-combatentes da Guerra das Malvinas, conflito que ocorreu em 1982 entre Argentina e Reino Unido pela posse da ilha e vitimou mais de 600 soldados argentinos.
“A frase brutal de Bullrich sobre as Malvinas é consistente com o que fez seu governo. Política de entrega e submissão, desprezo pelas nossas causas nacionais. Esquecimento imperdoável do sacrifício dos 649 heróis argentinos que ali permaneceram”, publicou o ministro das Relações Exteriores Felipe Solá em seu Twitter. “Bullrich não tem país?”, indagou o chanceler em seguida.
O deputado nacional Hugo Yasky, membro do partido de centro-esquerda Nuevo Encontro, afirmou para a rádio El Uncover que as falas da ex-ministra são ofensivas para aqueles que deram a vida pelas ilhas e que esse tipo de declaração acontece porque existem interesses “poderosos” por trás.
“Bullrich atua como lobista da Pfizer e coloca as Malvinas em uma mesa de vendas, algo vergonhoso para aqueles que ali morreram”, disse Yasky. Ele também indicou que o fundo abutre Black Rock, “o mais agressivo contra a Argentina”, faz parte dos acionistas da Pfizer.
Fala de líder da oposição repercutiu de forma negativa entre dirigentes e políticos
“Isso não é novidade, aliás Macri foi o primeiro presidente que, ao abrir a sessão do seu mandato, não fez menção à respeito das Malvinas e tampouco fez frente às Nações Unidas”, lembrou o deputado Leopoldo Moreau do partido Frente de Todos, base do governo Alberto Fernandez.
“Patricia Bullrich não apelou para uma ironia ou se enganou, disse o que pensa, além de que eles têm atuado como lobistas da Pfizer”, concluiu.
O governador da província argentina da Terra do Fogo, Antártica e Ilhas do Atlântico Sul, Gustavo Melella, repudiou as declarações da líder do PRO e afirmou que, “na ânsia de criticar o governo de Alberto Fernández e no quadro de uma eterna campanha eleitoral, perdeu todo o bom senso e o decoro que um líder político deve ter”. Melella disse também que a postura de Bullrich condiz com a conduta do governo de Macri em relação às Malvinas.
O prefeito de Ushuaia, Walter Vuoto, fez coro ao que disseram Melella e Yasky, de que as afirmações de Bullrich não haviam sido um erro e sim, um reflexo do que pensam os partidários do macrismo.
Outros políticos, como o deputado Cambiemos Federico Sciurano, os senadores Eugenia Duré e Matías Rodríguez também repudiaram a fala de Bullrich.
“Repudiamos veementemente as declarações de Patricia Bullrich, que expressou o que durante o governo de Mauricio Macri foi a política de entrega do patrimônio nacional e da soberania sobre a questão das Malvinas” , publicou o Centro de Ex-Combatentes das Ilhas Malvinas (Cecim) La Plata no Twitter.
Em seguida à repercussão de sua declaração, a presidente do PRO se manifestou no Twitter sobre o caso. “Em face das mentiras pelas quais as vacinas não foram compradas, exemplifiquei que o governo disse qualquer coisa, até que poderíamos entregar as Malvinas ou as geleiras. Se eu me expressei errado, ratifico minha posição em favor de nossa total soberania sobre as ilhas Malvinas”.
Sobre as negociações com a Pzifer, a assessora do presidente Alberto Fernandez, Cecilia Nicolini, afirmou ainda nesta terça (27/04) que elas foram retomadas para “avançar em um possível contrato” para aquisição de vacinas, enquanto garantiu que o governo do país espera para começar a receber as doses de Oxford-AstraZeneca em maio.