O clima para negócios na América Latina em julho foi considerado o mais favorável em uma década, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (19) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, e o instituto alemão Ifo da Universidade de Munique.
Elaborado a partir de informações trimestrais concedidas por especialistas nas economias de seus respectivos países, o ICE (Índice de Clima Econômico) na América Latina foi de 6 pontos em julho. Em abril passado, ele atingia 5,6 pontos.
“Esse número decorre de uma avaliação mais favorável em relação à situação presente”, explica a economista Lia Valls Pereira, que apresentou os resultados em coletiva na sede da FGV. A marca histórica do ICE, que desde janeiro 1990 não era tão alta, mostra que um valor de 6 pontos deve ser entendido como “muito favorável”. Antes de julho de 2010, esse valor fora alcançando somente em 1997 e 2000.
Segundo Lia, os especialistas que consideravam frágil a recuperação da região após a crise econômica mundial, foram surpreendidos de maneira positiva, já que esperavam “o pior”. “No Brasil, por exemplo, eles previam uma alta da inflação como consequência do forte crescimento. No final das contas, não foi o caso”, explicou.
Combinando os dados do ISA (Índice da Situação Atual), que aumentou de 4,7 para 5,8 pontos, e do IE (Índice de Expectativas), que teve uma queda de 6,4 para 6,2 pontos, o instituto qualificou a fase econômica da região de “boom”, pela primeira vez desde julho de 2007.
“A queda do IE, porém, significa que os especialistas estão ainda cautelosos”, diz a economista da FGV.
Incertezas
A principal razão da prudência vem das incertezas nas outras economias do mundo, principalmente dos Estados Unidos, da União Europeia e da China. Embora a pesquisa mostre uma melhoria na avaliação da situação atual nestes casos, ela reflete também uma piora das expectativas nos principais países desenvolvidos.
Os especialistas temem a aparição de uma nova depressão no próximo ano – chamada “crise em W”, devido ao formato do gráfico de crescimento do produto interno bruto (PIB). Nesse caso, a economia mundial estaria chegando ao fim do primeiro “V”, antes de uma nova queda. “Algumas estatísticas econômicas nos EUA vêm sugerindo esta possibilidade. No entanto, é ainda pura especulação. A recuperação da Alemanha, por exemplo, é muito positiva”, considera Lia.
No chamado bloco BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil e a Índia estão na fase favorável do ciclo, enquanto a Rússia continua em trajetória positiva, chegando no limite entre as fases de recuperação e de surto. Já na China, o ICE caiu pela terceira vez consecutiva, assim como os outros índices que também registraram uma queda. A combinação significa que a potência asiatica saiu da fase de “boom” (surto) e entrou numa fase de declínio. “Mas isso é muito relativo. Para a China, isso pode significa passar de um crescimento de 11% a um de 9%”, insiste a economista da FGV.
Política
Na América Latina, os países com melhor avaliação são o Brasil, o Chile, Peru e Uruguai. Já Argentina México e Paraguai registraram uma progressão das avaliações. Isso não significa, porém, que os que têm as melhores notas sejam os que mais cresceram na realidade. Brasil, Peru e Uruguai tiveram os crescimentos mais altos, mas não foi o caso do Chile.
“Acho que o Chile tem uma boa reputação de estabilidade econômica, boa governança e transparência. É por isso que os especialistas estão sempre otimistas”, explica Lia Pereira.
Esta diferença entre realidade e percepção também se manifesta para os países da região considerados numa situação pior. Segundo o estudo da FGV, Bolívia, Equador e Venezuela tiveram notas negativas. Embora os dois últimos estejam em recessão, com um declínio continuo do PIB desde 2006 para a Venezuela, este não é o caso da Bolívia, cujo crescimento é superior a 3%.
“É que os especialistas têm uma visão técnica que enfatiza muito indicadores fiscais e inflação”, explica a economista da FGV. Ela não descarta, porém, o impacto de uma visão política, já que os três países costumam ser politicamente vinculados.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL