Na véspera da visita do presidente colombiano, Álvaro Uribe, ao Brasil e logo após reunir-se com o assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, James Jones, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, sublinhou uma vez mais as preocupações do país com o acordo militar firmado entre a Colômbia e os Estados Unidos e ressaltou a vontade brasileira de que o impasse instalado na região seja discutido na próxima cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), dia 10, em Quito. E, principalmente, com a presença de Uribe.
O governo colombiano anunciou no mês passado que está em fase avançada de negociações com os Estados Unidos para a liberação de cinco bases militares aéreas nacionais (às quais talvez provavelmente serão somadas duas bases navais) para uso deste país, o que suscitou a preocupação de diversos países da região.
“Não negamos à Colômbia o direito de fazer acordos, mas eles devem ser feitos de uma forma clara, para que não sejam vistos como uma ameaça”.
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Em entrevista ao jornal uruguaio La Diaria, Amorim sustentou que “a presença de um país de fora da região é sempre preocupante”, mas ponderou que a justificativa colombiana, de que as bases terão o único propósito de combater as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), constitui uma “decisão soberana” do país sul-americano.
“Como não houve uma comunicação prévia detalhada, os dados que temos podem indicar que o raio de ação dos aviões é muito maior do que o necessário para se atuar na Colômbia. Então me pergunto, que tipo de garantias podemos ter de que eles não serão utilizados em outras ocasiões [que não para o narcotráfico]?”.
Por outro lado, Amorim analisou que a tensão já existente entre Colômbia, Venezuela e Equador pode ser ampliada em situações como essa, por isso a necessidade de informar os países dos detalhes do acordo.
Para Amorim, a participação da Colômbia na cúpula da Unasul, em Quito, Equador, poderia ser uma oportunidade de tratar o tema em um ambiente de integração e não bilateralmente, de uma “forma construtiva, e não punitiva ou acusativa”. O governo colombiano já afirmou que Uribe não participará da reunião.
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“Acredito que o Conselho de Defesa da Unasul seja o lugar ideal para se fazer um informe totalmente transparente, onde se poderia expor questões de natureza técnica. A Colômbia deve ter suas razões para não querer comparecer, mas continuamos acreditando que é uma boa oportunidade”, afirmou.
Eleições uruguaias
Apesar de deixar explícito que o governo brasileiro não tem a tradição de opinar nos assuntos internos dos países, Amorim afirmou ter grande respeito e simpatia pelo candidato da Frente Ampla à presidência do Uruguai, o ex-líder Tupamaro, José 'Pepe' Mujica – a frente nas pesquisas de intenção de voto –, e elogiou a atuação do político quando ministro da Agricultura durante o governo de Tabaré Vázquez.
Celso Amorim recebe Mujica no Palácio do Itamaraty, em Brasília – Fernando Bizerra Jr./EFE (05/08/2009)
As eleições uruguaias acontecem no dia 25 de outubro.
“Mujica sempre teve ótimas relações conosco, como nos temas da OMC (Organização Mundial do Comércio) e Mercosul”, disse. Ontem (5), o candidato se encontrou com o chanceler e o hoje(6), se encontrará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília.
Para o presidente em fim de mandato, Tabaré Vázquez, Amorim elogiou o trabalho feito para que o crescimento econômico uruguaio fosse mantido.
Interconexão energética
De acordo com o jornal, Mujica afirmou que durante a reunião com Amorim, o chanceler expressou a disposição do Brasil para que, caso o projeto de interconexão energética entre Brasil e Uruguai não prospere, devido às travas argentinas, se busque outro financiamento.
Apresentado em dezembro de 2007 ao Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), o projeto está sendo estudado pela Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul (CRPM) há um ano e tem chances de ser aprovado por todos os países do bloco. No entanto, a Argentina alega que precisa de mais tempo para uma avaliação completa. Devido à demora argentina, o governo uruguaio já havia cogitado alternativas em março.
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Amorim reconheceu a possibilidade, sublinhando que já existe uma disposição da companhia elétrica Eletrosul para construir a parte da estrutura no Brasil. “Na parte uruguaia, podemos estudar formas de financiamento. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que está se instalando no Uruguai, tem como objetivo financiar projetos como esse. Acredito que seja a solução mais rápida, para que não entremos em polêmicas”, explicou.
Mercosul
Entusiasta da importância do Mercosul, o qual deseja “fortalecer em todas as suas dimensões”, Amorim expressou que “lamentaria muito” caso o Uruguai saísse do Parlamento. A afirmação vem em resposta às declarações do candidato do oposicionista Partido Nacional, Luis Alberto Lacalle, que afirmou que, caso ganhe as eleições, retirará o Uruguai do Parlamento, e que quer orientar o organismo a um direcionamento exclusivamente econômico.
“O que é político e o que é econômico? A administração do ex-presidente Lacalle participou ativamente da criação do Mercosul e lamentaria muito a saída do país do Parlamento, pois ele também é uma forma de identificação”, sustentou Amorim.
Quanto à reclamação uruguaia, de que gostaria de ter mais flexibilidade para negociar bilateralmente, por exemplo, com a União Européia, Amorim reforçou que prefere uma atuação em bloco, porém, não rejeita disposições específicas para cada país. “Se me pergunta se é o ideal, seguramente, não o é, mas o ideal algumas vezes é inimigo do bom, e como alguns países têm mais sensibilidade em um setor e outros menos…deve haver limites, claro, mas também não desejamos desagregar o Mercosul”.
Política externa brasileira
Amorim afirmou que a política externa brasileira “se desenvolveu muito durante o governo Lula”, principalmente quanto ao tema da integração sul-americana, a aproximação com a África e uma maior participação em fóruns internacionais.
“A política externa dos meus antecessores não tomava certos temas com tanta intensidade quanto o presidente Lula”, indicou. Para o próximo governo, qualquer que seja, sublinhou que acredita que essa postura não deve ser alterada.
Em sua opinião, a administração de Lula fez com que os brasileiros discutissem a política exterior nas ruas, algo que não se via antes. E isso sem perder “a boa relação com os países ricos”, o que “deixa os opositores algumas vezes sem voz”.
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