– De quem é esse parque?
– É nosso!
Os gritos em torno do parque Zuccotti, em Nova York, tinham como alvo dezenas de policiais que ocupavam a área, centro das manifestações dos “indignados” de Wall Street. Nesta terça-feira (15/11), a polícia da maior metrópole do mundo, por ordem do prefeito Michael Bloomberg, invadiu o acampamento do movimento, que já se espalhou por cerca de 200 cidades do planeta. No entanto, à noite, centenas de manifestantes retornaram ao Parque Zuccotti, no centro financeiro de Nova York.
Thiago Carrapatoso/Opera Mundi
A reação ocorreu no mesmo dia em que um juiz da cidade decidiu acabar com o acampamento do movimento. O juiz estabeleceu que os manifestantes podem permanecer no parque, mas não podem acampar no local.
A ação da polícia foi registrada por webcams, que transmitiram ao vivo a operação, iniciada à 1h da manhã no horário local (4h no horário de Brasília). Policiais da unidade de choque bloquearam as entradas do parque e cercaram o acampamento, onde se estima que havia 200 pessoas. Eles deram ordens aos manifestantes de remover imediatamente seus pertences.
Thiago Carrapatoso/Opera Mundi
Conforme contaram os manifestantes, a desocupação foi feita às escuras, sem a presença de jornalistas.“Ficamos sem ter para onde ir durante várias horas, sem água ou comida. Pedi para um jornalista que estava do outro lado da grade para comprar algumas garrafas de água. Quando a entrada da imprensa foi liberada, todos entraram, menos esse rapaz. Ele foi impedido por algum motivo”, afirmou ao Opera Mundi Kevin Shenberger, de 28 anos, que ajuda no GT de informação. “Nós não conseguimos nos mobilizar como da última vez que tentaram nos expulsar porque eles bloquearam dois quarteirões ao redor da praça e desligaram o metrô. Ninguém podia entrar ou sair.”
Volta e meia, manifestantes eram presos, seja por não terem levantado a camiseta como pedido para que o policial pudesse fazer a revista ou por terem tentado atravessar as barreiras segurando uma bandeira dos Estados Unidos. Já de manhã, a situação não melhorou.
“Estávamos protestando na rua Canal e, quando voltamos, fomos impedidos de entrar [no acampamento], pois a polícia bloqueou dois quarteirões ao redor da praça”, contou Elize Jacome, que não estava acampada, mas participava das manifestações após coletiva de imprensa concedida pelo prefeito. “Por causa da restrição, alguns tiveram que andar por cerca de quatro horas seguidas, já que eles não permitiam a nossa entrada”.
À tarde, o clima era de tensão. Um cordão de manifestantes contornava a praça onde antes estavam a biblioteca, o refeitório, o ambulatório e diversas outras estruturas que sustentavam a ocupação. Isso porque a polícia impedia que as pessoas ficassem na calçada, pois estariam bloqueando a livre circulação de outros pedestres, e cercou toda a área, para que ninguém entrasse. Ao mesmo tempo, os manifestantes entoavam canções com mensagens de apoio, como o verso “nós não seremos abalados”.
Thiago Carrapatoso/OperaMundi
A chance de enfrentamento entre os indignados e os policiais era grande. Um manifestante saiu da marcha e exigiu saber o paradeiro de seu cachorro, levado junto com as barracas e outros pertences. Um policial, porém, quebrou o silêncio e respondeu, empurrando bruscamente um homem que estava próximo à grade. O manifestante questionou as ações do policial, que reagiu dizendo: “perdedor”.
Occupy
O movimento, que virou símbolo da indignação nos países ricos contra o establishment econômico e que tem adeptos em mais de 80 países, prometeu não arrefecer a luta após ações policiais que desfizeram acampamentos em Nova York e Oakland (Califórnia), na segunda-feira (14/11).
Líderes do movimento, também conhecido como Estados Unidos 99% – em referência aos 99% da população que vivem sob o jugo do interesse econômico do 1% mais rico da pirâmide social -, dizem que as batidas podem expulsar fisicamente os manifestantes dos acampamentos, mas não podem eliminar uma ideia cuja hora chegou.
“Ocupem Wall Street se tornou um símbolo nacional e mesmo internacional. Um crescente movimento popular alterou significativamente a narrativa nacional sobre nossa economia, nossa democracia e nosso futuro”, repetem os manifestantes.
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