Emissários do governo do Paquistão e do mais importante grupo talibã do país, o TTP (Tehrik-e-Taliban Pakistan), se reuniram nesta quinta-feira (06/02) em Islamabad para a primeira rodada de conversas que negocia a paz no país. Segundo reportado pela mídia local, o porta-voz da equipe governamental mostrou-se “disposto a estudar” a lista de exigências que seria apresentada pelos insurgentes.
Agência Efe
O porta-voz do governo, Irfán Sidique (esq.) com Samiul Haq, membro da equipe talibã, após a reunião de três horas em Islamabad
De acordo com relatos, a reunião de três horas foi “cordial e amistosa”. Embora analistas esperassem pouco progresso concreto, ambas as partes deixaram o encontro com uma declaração conjunta em que reafirmavam o compromisso com o diálogo. “Ambos os lados devem abster-se de praticar qualquer atividade que possa potencialmente comprometer os esforços pela paz”, concordaram os negociadores, no comunicado. De acordo com o jornal The Washington Post, Islamabad havia pedido diretamente aos EUA para que suspendesse os ataques com drones no país até o fim das negociações de paz entre o governo e os talibãs.
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O governo do Paquistão levou à reunião cinco exigências básicas: que as conversas sejam realizadas no contexto da Constituição do país; que fiquem restritas apenas às áreas afetadas pela violência, e não o país inteiro; a suspensão de todas as hostilidades durante o curso das negociações; o esclarecimento por parte do talibã da legitimidade e do funcionamento do seu comitê; e que as conversas não se prolonguem por demais.
O talibã, por sua vez, deve exigir a suspensão de toda atividade militar nas áreas habitadas — em especial, o uso de drones por parte dos EUA. Além disso, deve pedir, segundo analistas especulam, a libertação de prisioneiros. O ponto mais conflituoso diz respeito ao papel da reiligão no Estado: o talibã já defendeu abertamente a inserção de princípios do islamismo na Constituição do país.
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Definir o “mapa do caminho”
Inicialmente, o começo das negociações estava previsto para anteontem. No entanto, a equipe governamental cancelou de última hora a participação, afirmando que precisava de maiores “esclarecimentos” sobre a delegação talibã. Esta não é a primeira vez que o governo do país tenta negociar o fim do conflito com os grupos insurgentes do norte do país; as tentativas anteriores não trouxeram resultados.
Agência Efe
Guardas paquistaneses fazem a segurança do prédio governamental de Khybel Pakhtunkhwa, onde foi realizado o encontro
A reunião entre os emissários tem como objetivo elaborar o “mapa do caminho” para futuras negociações; eventualmente, entre as próprias autoridades governamentais e as lideranças do talibã. Analistas mais céticos temem que, como das outras vezes, as negociações sirvam para fortalecer e legitimar ainda mais o grupo talibã.
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O conflito entre as partes se arrasta há pelo menos seis anos. Desde 2007, os insurgentes talibãs muçulmanos lutam contra as autoridades paquistanesas, na tentativa de estabelecer um governo de cunho mais religioso. Embora visto com muito ceticismo por alguns analistas, o anúncio, por parte do premiê, Nawaz Sharif, de estabelecer contato com o TTP foi bem recebido pela oposição paquistanesa.
A concretização do esforço para negociar foi, entretanto, uma surpresa. Há apenas uma semana, esperava-se que o premiê anunciasse o aumento das operações militares contra os talibãs, em particular no Waziristão do Norte, região fronteiriça com o Afeganistão e controlada pelos talibãs.
No último ano, os ataques talibãs aumentaram significativamente, revertendo a tendência de baixa evidenciada desde 2010. Só no mês de janeiro, mais de cem pessoas morreram por causa dos conflitos.