A OEA (Organização dos Estados Americanos) destituiu seu representante especial no Haiti, o brasileiro Ricardo Seitenfus, informou neste sábado (25/12) à Agência Efe uma fonte diplomática. A destituição ocorreu após a publicação no jornal suíço Le Temps de declarações atribuídas ao diplomata nas quais questiona o papel da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), presente no país desde 2004, e a política da comunidade internacional para a nação caribenha.
Seitenfus afirmou na entrevista, divulgada no último dia 20, que a ONU (Organização das Nações Unidas) impôs a presença de suas tropas no Haiti apesar de o país não viver uma situação de guerra civil. “O Haiti não é uma ameaça internacional. Não estamos em situação de guerra civil. O Haiti não é nem o Iraque nem o Afeganistão. E, no entanto, o Conselho de Segurança, diante da falta de alternativa, impôs a presença dos 'capacetes azuis' desde 2004, após a saída do presidente (Jean-Bertrand Aristide)”, afirmou o brasileiro.
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O diplomata, que previa terminar seu mandato nos próximos meses, também disse na entrevista que o país caribenho, “no cenário internacional, paga essencialmente pela grande proximidade com os Estados Unidos. O Haiti foi objeto de uma atenção negativa por parte do sistema internacional. Trata-se, para a ONU, de congelar o poder e de transformar os haitianos em prisioneiros de sua própria ilha”.
“Os haitianos cometeram o inaceitável em 1804 (ano de sua independência): um crime de lesada altivez para um mundo inquieto. O Ocidente foi, então, um mundo colonialista, escravista e racista que baseia sua riqueza na exploração de terras conquistadas. Então, o modelo revolucionário haitiano deu medo às grandes potências”, acrescentou.
Seitenfus analisou também o papel das ONG no Haiti, em particular após o terremoto de 12 de janeiro de 2010, e disse que “a idade dos voluntários que chegaram depois do terremoto é muito baixa; desembarcaram no Haiti sem experiência alguma. Depois do terremoto, a qualidade profissional caiu muito. Existe uma relação maléfica e perversa entre a força das ONG e a debilidade do Estado haitiano”.
Além do cargo no Haiti, Seitenfus era o delegado da OEA perante a Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH).
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