Autoridades sauditas deportaram nesta quinta-feira (27/09) parte do grupo de 400 mulheres nigerianas presas por peregrinar a Meca desacompanhadas de quaisquer parentes do sexo masculino. A decisão desencadeou uma tensão diplomática entre os dois países e fez com que o embaixador da Nigéria na Arábia Saudita, Abubakar Shehu Bunu, emitisse uma reclamação formal ao governo do rei Abdallah. Ainda assim, Riad manteve suas exigências e determinou que as mulheres deportadas só poderão prosseguir com a peregrinação caso aceitem a escolta de autoridades locais.
De acordo com oficiais do governo, outras centenas de muçulmanas que percorrem o país para a peregrinação também correm o risco de receber o mesmo tratamento. Oficiais nigerianos que fazem parte do comitê organizador da peregrinação Hajj alegaram que três aviões do país tiveram que retornar da cidade de Medina. Já são mais de mil as mulheres nigerianas presas em centros de detenção de Meca há mais de cinco dias.
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Imagem da Caaba, pedra em Meca considerada pelos devotos do Islã como o lugar mais sagrado do mundo.
Um desses oficiais revelou ao jornal britânico The Guardian que várias dessas mulheres estavam acompanhadas de parentes homens. “O problema é que muitos pares viajaram em aviões diferentes. Então algumas delas desembarcaram de aeronaves antes ou depois dos acompanhantes”, explicou.
De acordo com a reportagem do Guardian, várias mulheres embarcaram de volta para a Nigéria aos prantos. “Estamos muito tristes. Eu gastei todas as minhas economias para participar do Hajj e acabar sendo tratada como uma infiel”, disse Halima Muhammad, peregrina que passou dois dias aprisionada em um centro de detenção. “Fomos levadas do aeroporto para celas onde não cabem seres humanos. Ninguém nos ofereceu qualquer coisa. Nós tínhamos direito apenas a água e tivemos que dormir no chão”.
Muitos africanos muçulmanos levam anos para economizar o equivalente a dez mil reais e viajar para o Hajj. Nesse contexto, é comum que filantropos e políticos muçulmanos financiem peregrinos todos os anos. A Nigéria é o país muçulmano mais populoso da África, com mais de 80 milhões de seguidores do islamismo. Ao contrário da Arábia Saudita, na Nigéria as mulheres possuem maior liberdade para frequentar espaços públicos.
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Em 2011, a Arábia Saudita também deportou milhares de nigerianos que viajavam sem documentos para a peregrinação Hajj. O país disponibiliza um visto específico para o ritual, que permite a estadia dos visitantes por um período máximo de 45 dias. Em média, o percurso não leva mais de quatro dias para ser concluído. De acordo com o ministério do interior saudita, mais de 700 mil peregrinos são deportados todos os anos. Desse total, 20 mil acabam sendo enviados de volta a seus países de origem por expirar o limite de 45 dias.
Síria
Embora o governo de Damasco tenha cumprido todas as formalidades necessárias, autoridades da Arábia Saudita também proibiram neste ano que sírios fizessem a peregrinação Hajj em seu território.
As relações entre os dois países apenas se deterioraram desde quando eclodiram levantes populares em favor do fim do governo do presidente Bashar al Assad. A Arábia Saudita apoia a oposição armada síria e defendeu veementemente uma intervenção estrangeira no país.
Anualmente, o país determina para cada país uma cota máxima de peregrinos autorizados a visitar os locais sagrados para muçulmanos. Cada muçulmano, se estiver em condições físicas e materiais, deve pelo menos uma vez na sua vida realizar a peregrinação à cidade de Meca e Medina, na Arábia Saudita.