O governo da Argentina rejeitou neste sábado (26/6) as acusações de que teria mantido uma “embaixada paralela” que cobraria propinas de empresários interessados em fazer negócios e que seria controlada diretamente pela presidência, à revelia do ministério das relações exteriores. A denúncia foi feita na véspera pelo então embaixador no país, Eduardo Sadous, que deixou o cargo após a saída do chanceler Jorge Taiana, na semana passada.
“Há uma interpretação perversa sobre o que Sadous disse”, rebateu o ministro do planejamento argentino, Julio de Vido, acusado pelo diplomata de chefiar a “embaixada paralela” e passar por cima da representação diplomática oficial. “Todos os acordos e medidas tomados [pela Argentina] na Venezuela foram feitos com pessoal da embaixada argentina”, enfatizou
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Segundo a denúncia de Sadous feita em depoimento secreto na comissão de relações exteriores do congresso argentino, o governo de Cristina Kirchner e de seu antecessor Néstor Kirchner teria intervindo nos negócios bilaterais, desde 2004. Ele acusou ainda o governo de ter cobrado propinas de empresários, principalmente no âmbito do programa “combustível por alimentos”, que promove intercâmbio direto entre a Venezuela, maior produtora de petróleo no continente, com a Argentina, grande produtora de trigo e carne. O esquema, segundo Sadous, seria liderado pelo ministro De Vido.
Já o ministro, em discurso na inauguração de uma hidrelétrica, negou as acusações e atribuiu à mídia a criação de um falso escândalo, além de distorcer e mal-interpretar intencionalmente os fatos ditos pelo próprio Sadous no depoimento, cuja íntegra ainda é mantida sob sigilo.
Mais cedo, porém, em outra declaração à imprensa, o próprio De Vido reconhecera que o governo teve de enviar representantes para auxiliar as relações com Caracas porque o então embaixador não realizava suas funções direito.
“A menção a uma 'embaixada paralela' era uma ironia sobre a ausência do embaixador. Estão chamando de 'embaixada paralela' tudo que tivemos de fazer porque ele não fazia nada, porque passava o tempo todo indo de canapé em canapé e de coquetel em coquetel”, rebateu De Vido, segundo o jornal Clarín.
Bombardeio midiático
O novo chanceler, Héctor Timerman, citado pela agência de notícias argentina Télam, acusou especificamente o mesmo jornal de estar pressionando deputados a não divulgar o conteúdo integral do depoimento de Sadous, por receio de que possam desmentir suas denúncias.
“O Clarín está pressionando os deputados para não divulgarem o depoimento de Sadous. Querem continuar inventando”, disse Timerman em Toronto, onde está para a cúpula do G20. Para ele, a mídia está “bombardeando” a sociedade argentina com “informações falsas”.
Na sexta-feira, o chanceler pediu ao presidente da câmara dos deputados, Eduardo Fellner, que torne públicas as declarações de Eduardo Sadous, “a fim de não colocar em risco as relações diplomáticas que a Argentina mantém com 182 países”. Em seguida, Fellner encaminhou o pedido ao presidente da comissão de relações exteriores, Alfredo Atanasof.
Em comunicado, Atanasof respondeu que a decisão foi tomada pelos próprios membros da comissão e que só os deputados podem decidir revertê-la e divulgar a íntegra do depoimento.
Oposição
Hoje, Sadous, em entrevista a uma rádio, chamou de “absolutamente falsas” as acusações de que teria apoiado a oposição a Chávez quando era embaixador em Caracas. Segundo o diplomata, ele manteve uma “relação absolutamente normal e muito boa tanto com o governo Chávez quanto com a oposição venezuelana”.
“Cheguei à Venezuela seis meses depois do golpe de Estado contra Chávez e, quando fui embora, recebi as mais altas honras. Fui condecorado com a ordem de Francisco de Miranda em primeiro grau”, afirmou.
Sobre a suposta cobrança de propinas de entre 15% e 20% dos negócios fechados, Sadous reiterou a acusação, citado pelo jornal La Prensa.
“Fiquei sabendo por comentários que os empresários faziam. Era uma espécie de consenso de que isso era assim. Lamentavelmente, quando pedia a esses empresários que fizessem queixas por escrito, eles se negavam porque tinham receio de comprometer suas posições”, disse o ex-embaixador.
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