“Enquanto a Argentina se apega ao direito internacional, a Grã Bretanha aposta no armamentismo” nas Malvinas. A declaração foi dada pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, na noite desta após quarta-feira (25/03), após o anúncio de que o país europeu aportará US$ 268 milhões em infraestrutura militar no território que é reivindicado historicamente pelos sul-americanos. Como resposta, o governo da presidente Cristina Kirchner apresentará uma denúncia no Comitê de Descolonização da ONU.
Agência Efe
Vista da praça das Malvinas, em Ushuaia
Em sua conta no Facebook, a mandatária argentina chamou o anúncio de “triste e lamentável paradoxo”, já que foi realizado em 24 de março, dia em que é lembrado o 39º aniversário do golpe militar que contou “com o silêncio cúmplice de muitas potências”. Kirchner ainda criticou que “as Ilhas Malvinas sejam usadas como campanha eleitoral no Reino Unido e que se invoque uma guerra iniciada pela ditadura genocida que significou a maior tragédia para o povo argentino”.
Ante declaraciones del Ministro de Defensa británico en el Parlamento de su país, referidas al gasto militar destinado a…
Posted by Cristina Fernandez de Kirchner on Martes, 24 de marzo de 2015
O chanceler Timerman também reiterou que a “América Latina e o Caribe decidiram ser uma zona de paz”, o que contrasta com as declarações do ministro de Defesa inglês, Michael Fallon. Na terça-feira (24/03), na Câmara dos Comuns do Parlamento britânico, Fallon anunciou o deslocamento de dois helicópteros de guerra Chinook e a atualização do sistema de mísseis antiaéreo nas Malvinas, como resposta preventiva a um suposto ataque argentino.
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Mas, de acordo com Timerman, “não há nenhuma hipótese de conflito da Argentina com qualquer país do mundo, apesar de a Grã Bretanha seguir em estado de guerra” e ressaltou que seu país “se apega ao direito internacional e às resoluções das Nações Unidas”.
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Vista do sinal de boas-vindas para as Ilhas Malvinas
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Para o chanceler, a ação tem como objetivo “favorecer a indústria armamentista e justificar uma política agressiva por parte do primeiro ministro [David] Cameron, que apela a um público muito conservador”. E concluiu que a decisão é uma “provocação não só para a Argentina, como também um insulto para a ONU, que pede que aceitem negociar”.
Ameaça russa
Na justificativa para o aumento da militarização, Fallon disse também que o reforço tem o objetivo de reforçar a defesa diante de um aumento da presença russa ao longo do globo. “Os russos nos ameaçam em muitos lugares diferentes. Por isso estamos comprometidos com a Otan na criação de uma força de reação para tranquilizar os países do leste da Europa e assegurarmos que possamos ir e os ajudar em caso de agressão russa”.
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Veterano agita a bandeira durante visita ao cemitério de Darwin, onde estão enterrados mais de 230 soldados argentinos
A afirmação tem relação com o suposto fato de que a Rússia estaria ajudando a Argentina a se armar com 12 bombardeiros de longo alcance. A versão foi negada pelo governo argentino.
Para o cientista político e pesquisador do Centro Cultural da Cooperação de Buenos Aires, Juan Manuel Karg, em artigo no site Rebelión, a justificativa está relacionada ao “isolamento” em que a Grã Bretanha se encontra no tema, em contraste com os diversos apoios que a Argentina conseguiu nos últimos anos de diversos fóruns internacionais, entre eles o G77+ China, Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).
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Detalhe de um cartaz na saída de um supermercado, que mostra um mapa da América do Sul sem a Argentina
“Com o envolvimento do [presidente russo Vladimir] Putin no tema – ainda que a teoria soe um disparate – Cameron poderia buscar novos apoios dos Estados Unidos com relação às Malvinas, principalmente diante das eleições presidenciais que ocorrerão em 2016 [nos Estados Unidos]. (…) Tentando “anexar” Putin às exigências diplomáticas que a Argentina tem liderado desde 2003 até hoje, Cameron joga uma partida interna – as eleições – e outra externa – tentar aumentar a legitimidade britânica sobre o assunto, que vem sendo questionada fortemente nestes anos. De qualquer forma, continua realizando sucessivas violações às resoluções da ONU, que exortam a Grã-Bretanha a negociar sobre a questão em breve”, conclui Karg.