As ruas argentinas foram coloridas de azul e branco pela terceira vez este ano. Diferente da felicidade vinda com a comemoração do bicentenário da independência do país, em maio, ou da ansiedade com os jogos da Copa do Mundo, as cores da bandeira vieram acompanhadas de tristeza e indignação pela morte do ex-presidente Néstor Kirchner.
Vídeo da correspondente Luciana Taddeo
Uma multidão de argentinos começou a sair às ruas, em direção à Casa Rosada, a medida que recebiam a notícia, divulgada cerca das 9h30 da manhã (10h30 do horário de Brasília). A praça de maio, localizada em frente à sede do governo, se encheu em questão de horas por admiradores de Kirchner provenientes de distintos estados do país.
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Pelas ruas que rodeiam a sede do governo argentino, as frases “Néstor vive”, “Força Cristina” e “Néstor estamos contigo” foram pintadas, também homenageando o ex e a atual mandatária. Ao lado do portão que impedia a aproximação da multidão da Casa Rosada, os admiradores de Kirchner entoavam cantos como “Néstor vai voltar com a Juventude Peronista” e, em tom mais bem humorado, “Quem não pula é do Clarín”, em menção ao principal jornal do país que trava uma ferrenha batalha contra o governo.
O agricultor Fernando Tévez, que veio de Santiago del Estero após saber da notícia de que Néstor estava internado em estado grave, prendia no portão um cartaz de apoio ao ex-presidente. “Nunca teremos um líder como o Néstor, somos ídolos dele e também de Cristina. Ele sempre ajudou as pessoas do campo, que trabalhamos dia e noite, às vezes sem comer e às vezes sem tomar um gole de água. Então viemos trazer de longe esta homenagem, para que ele descanse em paz”, conta com lágrimas nos olhos.
Já a aposentada Catalina Cruz, de 65 anos, de Salta, também do norte argentino, era uma das centenas de pessoas que formaram uma fila quilométrica que partia dos portões da Casa Rosada e se estendia pela avenida Presidente Roque Saenz Peña até a alguns metros do Obelisco, para deixar flores em homenagem ao ex-presidente. Quando questionada sobre a notícia, balança a cabeça, olhando para baixo, e lamenta: “O peronismo perdeu seu segundo grande líder.”
Caminhando com um pano na cabeça que levava o nome da organização que representa “Mães por uma moradia”, Adela Morales, levantava cartazes com mensagens de apoio a Cristina Kirchner e à irmã de Néstor e ministra de Desenvolvimento Social, Alicia Kirchner.
Após saber por um vizinho da notícia enquanto estava sendo entrevistada por um entrevistador do censo, realizado nesta terça-feira, em todo país, se dirigiu à Praça de Maio para fazer sua homenagem ao ex-presidente. Sem esconder a tristeza, afirmou ao OperaMundi: “Esta é uma perda gigante para nós que somos pobres e sofremos este momento. Não tenho muito estudo, e vivi na pobreza absoluta. Criei três filhos sozinha e ele me ajudou muito, assim como a outros necessitados.”
Segundo Adela, Néstor foi o primeiro governo que amparou os desempregados, facilitou a compra de terrenos para a construção da casa própria e deixou as portas abertas para o diálogo com as organizações que trabalhavam pelo desenvolvimento social: “Não teve um governo igual. Ele me recebeu duas vezes na Casa Rosada e eu devo muito a ele. Esta morte súbita me impactou muito. Não parei de chorar desde que soube e estou assim até agora porque ainda não consigo acreditar.”
Quanto ao futuro do cenário político argentino, a militante afirma: “Não será a mesma coisa, mas agora temos que apoiar muito a Cristina. Esperamos que ela possa seguir governando na mesma linha de Néstor”
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