O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, chamou hoje (12) o embaixador da Suíça no Brasil, Wilhelm Meier, para discutir o caso da brasileira Paula Oliveira, brutalmente atacada por três cidadãos aparentemente neonazistas – todos eram carecas, estavam vestidos de preto e um deles tinha uma suástica tatuada na nuca. Amorim disse suspeitar que o ataque tenha sido motivado por xenofobia.
“Não podemos fazer nenhum pré-julgamento, mas há uma aparência evidente de xenofobia, o que é uma coisa preocupante”, afirmou o ministro a Agência Brasil. “Evidente que é um caso chocante. Tomamos as medidas que devíamos tomar, tanto junto às autoridades policiais de Zurique quanto em relação à chancelaria em Berna e à Embaixada da Suíça no Brasil. Estamos aguardando os desdobramentos disso”.
Paula, uma advogada de 26 anos, foi atacada na noite da última segunda feira, às 19h30 no horário local, quando saía de uma estação de trem em Dubendorf, cidade onde vive, nos arredores da capital suíça, Zurique.
Paula falava em português com a mãe pelo celular quando foi abordada pelos rapazes, que a levaram para um local deserto, agrediram-na e cortaram-na com estiletes e outros objetos. Paula, que estava grávida de gêmeos, sofreu um aborto em decorrência do ataque, conforme relatório divulgado pela polícia de Zurique.
Em algumas partes do corpo de Paula, pode ser vista a sigla SVP, do partido Schweirische Volkspartei (Partido do Povo da Suíça, ou Centro da União Democrática, como é conhecido em francês). A legenda, que é assumidamente xenófoba e contra os imigrantes, integra a coalizão governista e vem ganhando espaço no espectro político do país. Nas últimas eleições, obteve 30% dos votos.
Veja cartaz do partido que mostra ovelhas brancas expulsando uma ovelha negra da Suíça.
“Uma facção do partido tem uma posição muito dura em relação à questão da imigração. Acham que tem trazido mais problemas, mais concorrência e piora no serviço de saúde e na criminalidade”, afirmou a cônsul geral brasileira na Suíça, Vitória Cleaver ao Globo News.
Segundo ela, um grupo dentro do partido era inclusive contrário à realização de um referendo no último domingo (8), sobre a entrada da Romênia e da Bulgária na lista de países cujos cidadãos têm livre acesso à Suíça, por serem da União Européia – a Suíça não faz parte do bloco. Seis em cada dez eleitores aprovaram a medida.
O pai da brasileira agredida, Paulo Oliveira, voou para Zurique assim que ficou sabendo do caso e disse que ela voltará ao Brasil assim que tiver condições médicas, provavelmente em dez dias. “Depois eu não sei, não quero fazer conjecturas. Ela trabalha para uma empresa aqui e precisa ver o que a empresa vai querer. Não sabe ainda se voltará para Zurique”.
Paula é advogada, vive legalmente na Suíça, trabalha numa transportadora e mora há dois anos com o suíço Marco Trepp.
Caso seja confirmada a hipótese de xenofobia, defendida por Celso Amorim, o Brasil tem o direito de denunciar o fato à Comissão de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
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