Um confronto deixou ao menos 20 índios, oito policiais, um
estudante e um professor mortos hoje (5) no Peru, um dia após o
Congresso adiar mais uma vez a votação sobre anulação de um
decreto rejeitado desde o ano passado pelas organizações amazônicas
do país. Estão em jogo o uso de bosques e territórios das
comunidades nativas para exploração mineral e de hidrocarbonetos.
Líderes indígenas Servando Puerta Peña e Alberto Pizango dão
entrevista coletiva; foto: EFE
Populações amazônicas iniciaram uma paralisação há 55 dias,
exigindo a revogação de leis aprovadas em 2008 sem consulta às
comunidades, como estabelece a Convenção 169 da OIT (Organização
Internacional do Trabalho). O decreto-lei 1090 modifica a legislação
florestal anterior e, segundo organizações amazônicas, ameaça os
territórios indígenas ao excluir do patrimônio da nação os
recursos florestais.
O presidente Alan García acredita que
por trás das mobilizações, há muita desinformação e ideologia
extremista. “Há grande interesse de outros países para que o Peru
não avance na mineração, para que o Chile siga tendo a liderança
na exploração mineral. Rejeitar a extração do gás e do petróleo
que o Peru precisa só interessa aos países petroleiros que querem
manter os seus compradores”.
“Venezuela?”, perguntou um
jornalista. “Não tenho provas disso, mas a gente tem que se
perguntar quem tira proveito da não exploração da riqueza do nosso
subsolo”, respondeu García, que promove ativamente o investimento
estrangeiro em mineração e exploração de hidrocarbonetos.
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O presidente afirmou que os decretos vão respeitar 12 milhões de
hectares de terra agrícola florestal e 15 milhões de hectares de
santuários nacionais – cada hectare corresponde a um campo de
futebol.
O sociólogo e analista político Alberto Adrianzén
afirmou que o governo decidiu usar violência e não continuar as
negociações no plano político com as organizações amazônicas.
Ontem, o jornal Correos antecipou que a ministra do Interior,
Mercedes Cabanillas, tinha sido advertida por não aplicar “linha
dura” nas estradas bloqueadas há quase dois meses.
O
Congresso do Peru deu faculdades legislativas ao Executivo no ano
passado para adaptar a legislação aos requerimentos do Tratado de
Livre Comércio com os Estados Unidos.
Depois de uma revolta
em agosto 2008 em departamentos amazônicos contra as leis, o governo
revogou uma delas e se comprometeu a revisar e modificar as outras.
Devido à demora, teve início em 9 de abril uma nova “paralisação
amazônica” exigindo do Congresso a revisão do pacote pendente.
O confronto
O conflito que causou ao menos 30
mortes teve início quando a polícia atacou mais de mil civis que
bloqueavam uma estrada no norte de Peru. Os disparos começaram
depois das 6h na zona conhecida como ‘Curva do Diabo’. Depois de
um enfrentamento, manifestantes tomaram fuzis de quatro policiais
mortos, segundos jornalistas do site Enlace Nacional – que veicula
informações de rádios comunitárias – em Bagua, cidade
localizada na região de Amazonas, e um enviado da Rádio Capital de
Lima.
Três horas após o início do enfrentamento, o líder
indígena Alberto Pizango relatou à imprensa estrangeira em Lima que
os manifestantes só tinham flechas e não armas de fogo, e lamentou
a morte de um dos líderes, Santiago Valera. Durante a entrevista
coletiva, cresciam os registros de vítimas fatais.
Pizango,
que representa as organizações amazônicas nas negociações com o
primeiro- ministro Yehude Simon, responsabilizou pelas mortes o
presidente do Congresso, Javier Velásquez, do partido governista
Apra.
O chefe do Estado Maior da Polícia, Miguel Hidalgo,
informou que 639 efetivos policiais participaram da operação,
realizada com apoio do Exército.
Franco-atiradores em Bagua, no norte do Peru, local do confronto;
foto: elmorsa.pe
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