Sexta-feira, 11 de julho de 2025
APOIE
Menu

Reprodução/ National Security Archive

Documento secreto do Departamento de Estado dos EUA mostra estratégia de pedir ajuda ao governo brasileiro na negociação com Cuba

Organizações norte-americanas divulgaram documentos, até então secretos, relacionados à atuação da Casa Branca e de outros governos, incluindo o brasileiro, durante a Crise dos Mísseis em 1962 em plena Guerra Fria.  

A crise política entre Estados Unidos, União Soviética e Cuba teve início no dia 14 de outubro quando uma aeronave espiã norte-americana descobriu a presença de mísseis atômicos soviéticos na ilha, a quase 300 quilômetros de Miami. A Casa Branca queria evitar a todo custo esta situação e por alguns dias, as superpotências ficaram na iminência da guerra nuclear. 

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

WikiCommons
Entre as 3 mil páginas publicadas pelo Arquivo de Segurança Nacional nesta sexta-feira (13/10), constam informações sobre a participação do Brasil em um esforço diplomático secreto para intermediar a solução do impasse. O governo de João Goulart, próximo e solidário a Cuba, enviou uma mensagem do então presidente dos EUA, John F. Kennedy, para Fidel Castro.

Segundo o documento do dia 25 de outubro, os EUA davam duas opções ao revolucionário cubano: “a queda de seu governo e no pior dos casos, a destruição física de Cuba” ou “garantias de que não vamos tentar derrubar o seu regime”. 

(Fotografias tiradas de aeronave norte-americana mostram os projéteis nucleares soviéticos em Cuba) 

Para essa segunda opção, Kennedy exigia que Castro expulsasse tanto os mísseis quanto os soviéticos de seu país. De acordo com o texto, “muitas mudanças nas relações entre Cuba e a OEA (Organização dos Estados Americanos), incluindo os Estados Unidos, iriam acontecer”. 

O Departamento de Estado dos EUA ainda instruía os brasileiros para levar o recado de forma secreta, sem mencionar que vinha diretamente das autoridades norte-americanas. A opção de recorrer ao Brasil aparece como uma das tentativas de negociação antes da possível (e iminente) guerra nuclear.

Os documentos revelados reiteram a versão dos arquivos brasileiros sobre a participação do governo de Jango na Crise dos Mísseis, que foram divulgados pelo governo em 2004 e se encontram em acervo em Brasília. Os textos foram utilizados na pesquisa do historiador James Hershberg, da Universidade George Washington.  

Governo de Jango enviou militar para negociar com Fidel Castro à pedido de John F. Kennedy

NULL

NULL

Segundo apuração de reportagem especial do Estado de São Paulo dos 50 anos do episódio, o portador da mensagem não foi o embaixador brasileiro em Cuba (como previa o documento), mas o chefe da Casa Militar de Jango, o general Albino.

O militar brasileiro – conhecido pela sua simpatia ao governo socialista cubano – tentou negociar com Castro, mas o revolucionário colocou como condição para um acordo com os EUA a devolução da base de Guantánamo. Enquanto isso, a Casa Branca e a União Soviética, liderada por Nikita Khruchev, entraram em acordo “à revelia de Fidel”, informou o Estado de São Paulo.

A União Soviética concordou em retirar os mísseis de Cuba em troca de garantias de que os EUA não invadiriam a ilha e também moveriam os seus projeteis nucleares da Turquia e do sul da Itália.

“Uma palavra explica a decisão de Kennedy de recorrer ao Brasil: desespero. Os EUA discutiam várias opções e uma delas era essa mensagem via governo brasileiro”, explicou Hershberg ao Estado de São Paulo.

Para mais informações, clique aqui.