A mediação do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na questão do programa nuclear do Irã, e a assinatura do acordo que prevê o envio de urânio iraniano levemente enriquecido para território turco estreitou as relações turco-brasileiras.
Antigos parceiros comerciais, brasileiros e turcos pretendem incrementar o comércio bilateral, que em 2008 movimentou 2 bilhões de dólares e, em 2009, 1,5 bilhão. Em 2010, no entanto, a expectativa é mais positiva, já que somente no primeiro trimestre o volume de troca cresceu 15%.
“A partir de hoje, começa uma nova etapa de relações entre Brasil e Turquia, uma intensificação tardia, mas com muito potencial. O intercâmbio de 1 bilhão de dólares entre os países é muito pequeno, considerando as realidades comerciais dos dois mercados e o que um tem a oferecer ao outro”, disse Erdogan durante seminário da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) sobre oportunidades de comércio entre os dois países. O evento marcou a primeira visita de uma autoridade turca ao Brasil.
Para o diretor de gestão e planejamento da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Ricardo Schaefer, o fortalecimento das relações entre Brasil e Turquia, apesar de tardio, veio em bom momento.
“Estamos vivendo em 2010 um movimento singular da economia brasileira, de êxito e estabilidade comercial, portanto, este é o momento ideal para intensificar relações bilatérias”, disse Schaefer, que também participou do evento.
Além disso, o sucesso da parceria diante do impasse iraniano estimula futuros acordos. “A chegada a uma solução conjunta para questão iraniana sem dúvida pode favorecer as futuras relações entre Brasil e Turquia, sejam elas diplomáticas ou comerciais”, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge.
Para Erdogan, o sucesso do acordo assinado com o Irã pode ser apenas o começo. “As relações entre nossos países ultrapassam a economia, o que foi provado em Teerã. Esta associação demonstra quantos trabalhos bem sucedidos ainda podemos fazer juntos”, completou.
Importações e exportações
Com semelhanças de produção e afetados a redução da compra de produtos por parte do mercado asiático, os dois países buscam expandir as áreas de atuação e, assim criar laços nos mais variados setores.
Atualmente, para a Turquia, o Brasil exporta alumínio, tabaco, papel, celulose, café, madeira, algodão, produtos mecânicos, de mineração, entre outros. Já os turcos exportam para cá veículos, produtos siderúrgicos, frutas, borracha e materiais elétricos.
“Os negócios entre os dois países são bastante versáteis, mesmo assim precisamos ter criatividade para diversificá-los ainda mais e consequentemente beneficiar as duas nações”, explicou o diretor-titular do departamento de relações internacionais da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca.
Apesar da atuação turca em diversos setores da importação brasileira, o saldo da balança comercial é favorável ao Brasil com praticamente o dobro do valor, o que não incomoda apenas os turcos.“Queremos uma relação bilateral equilibrada e benéfica para os dois lados”, disse Giannetti.
Mercosul
Com o objetivo de equiparar a balança e aumentar as relações com toda a região latino-americana, além de diversificar os produtos e aumentar os investimentos, o governo turco pretende regularizar uma relação de livre comércio entre a Turquia e os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
“Queremos ampliar nossa parceria com toda a América Latina. Portanto, um acordo com o Mercosul é de extrema importância. Já falamos sobre isso em feiras e rodadas de negócios, precisamos falar sobre isso oficialmente e formalizar o acordo”, disse Erdogan.
No entanto, o ministro Miguel Jorge, ao ser questionado sobre o assunto, afirmou que as expectativas em torno da assinatura deste possível acordo por enquanto são pequenas.
“Não existe nenhuma negociação concreta entre a Turquia e o Mercosul, por isso ainda não há expectativa. Na quinta-feira (27/5), o presidente Lula vai se reunir com o primeiro-ministro turco para firmar acordos aduaneiros, sanitários e agrícolas. Já a questão do Mercosul será debatida mais adiante”, explicou.
Expansão
Assim como no caso da extensão da parceira para todos os membros do Mercosul, a associação entre Brasil e Turquia pode desencadear futuras relações brasileiras com países próximos ao território turco.
“Por meio do estreitamento das relações com a Turquia, o Brasil pode se beneficiar com o comércio com o Oriente Médio e a África, principalmente em questões aduaneiras e tarifárias, já que são parceiros da Turquia”, pontuou Erdogan.
“O atual governo considera extremamente estratégica a internacionalização das empresas brasileiras. A Turquia é um destino com grande potencial para estes investimentos e quanto mais países se mostrarem estratégicos para o comércio com o Brasil é melhor”, disse Miguel Jorge.
Para o presidente do Conselho Empresarial Turquia-Brasil, Aykut Eken, a recíproca é verdadeira, já que os cenários econômicos de ambos os países se mostram cada vez mais sólidos e satisfatórios.
“Infelizmente as relações entre Brasil e Turquia ficaram estagnadas por muito tempo. Entretanto, agora as empresas e o governo turco estão muito interessados em tornar esta relação ainda mais forte e expressiva”, assegurou.
Ao final do evento, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, condecorou o primeiro-ministro turco com a Ordem do Mérito Industrial, o que oficializa as intenções de intensificar as relações entre os dois países.
“Sinto-me honrado e extremamente esperançoso com este seminário e rodada de negócios. Acredito muito no êxito desta relação e tenho certeza que juntos ainda teremos muitas conquistas, não apenas comerciais”, concluiu Erdogan.
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