“É como se o atacante tivesse driblado os zagueiros, olhado para o goleiro e chutado. O estádio se cala e todos olham para a bola que se dirige para o gol. Eu me sinto assim! Antanas Mockus [candidato do Partido Verde] fez tudo certo, mas se vai marcar o gol, só saberemos no domingo”. Ao sair da universidade, no centro de Bogotá, o estudante José Manuel explica por meio de uma metáfora futebolística o clima de espera e suspense na sociedade colombiana: todos estão de pé, na dúvida se seu time marcará ou não o gol.
No próximo domingo (30/5) os colombianos votarão no primeiro turno das eleições presidenciais. O panorama político pós-Uribe – o atual presidente caminha para o fim de seu segundo mandato – passou por oscilações.
Efe
Da esquerda para a direita, o candidato do Cambio Radical, Germán Vargas, o governista Juan Manuel Santos, do
Polo Democrático, Gustavo Petro, do Partido Verde, Antanas Mockus e do partido Conservador, Noemí Sanín
Em poucos meses, o cenário de vantagem do ex-prefeito de Medellín, Sergio Fajardo, dono de uma grande popularidade, migrou para uma vitória quase certa do candidato governista Juan Manuel Santos. Depois, o crescimento surpreendente da única mulher candidata, a conservadora Noemí Sanín, que ganhou as disputas internas de seu partido, para finalmente culminar no fenômeno dos verdes de Antanas Mockus, que chegou a ultrapassar Santos.
Em 8 de abril, uma pesquisa do Centro Nacional de Consultoria dava 37% das intenções de voto a Santos e 22% a Mockus. Quinze dias depois, Mockus já tinha 27% e o ex-ministro da Defesa de Uribe, 34%. Finalmente, em 30 de abril, Mockus aparecia com 38,7% das intenções e Santos, 26,7%. Agora, a poucos dias da eleição, as pesquisas apontam um empate técnico entre os dois candidatos.
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Por essas razões, a Colômbia vive a campanha mais surpreendente e disputada das últimas décadas. A participação popular nas campanhas foi alta, fato inédito para um país que parecia apático em relação à participação política.
“Dia 30 quem vai ganhar é Santos, no primeiro turno. Ele é o único que pode suceder Uribe”, diz a estudante Diana, eleitora declarada do candidato governista.
Um pequeno grupo de estudantes se forma ao redor da garota. Alguns aplaudem Diana e rapidamente um grupo de estudantes de camisas verdes se aproxima. “Estamos cansados dos politiqueiros, não queremos mais falsos positivos”, afirma alguém, e logo em seguida, a contestação: “Quando [Hugo] Chávez nos atacar, vamos dar a ele um girassol?”, em referência à flor símbolo da campanha de Mockus.
Falsos positivos são civis inocentes assassinados por militares e contabilizados como guerrilheiros mortos em combate ou supostas vítimas de guerrilheiros para efeito de número.
As posições são inconciliáveis e quando um grupo se afasta, outro se aproxima. “Não acreditem nas pesquisas, quatro anos atrás diziam que Carlos Gaviria [candidato derrotado por Uribe em 2006] teria 9,9%, e ele teve 22%. O mesmo ocorreu na disputa pela prefeitura de Bogotá, vencida por Samuel Moreno, quando diziam que ele iria perder e no fim, ganhou. [Gustavo] Petro chegará ao segundo turno, ou pelo menos terá muito mais votos do que dizem.”. Petro, candidato do esquerdista Pólo Democrático, é o quarto colocado, com 6%.
Controvérsia
As pesquisas têm sido questionadas. Para jornalista Marina Jimena Duzan, da revista Semana, parte da culpa da confusão de números está nos debates que, em sua opinião, se tornaram “teatros excêntricos, com regras desnecessárias, fazendo com que o foco não seja o candidato, mas sim a encenação feita pelos meios de comunicação e jornalistas”.
Ela critica que no dia seguinte, “somente o meio de comunicação responsável pelo debate analisa as intenções de voto, como se aquilo não interessasse aos outros veículos também”. Para Duzan, “não há dúvidas que as pesquisas adquiriram uma onipresença no debate eleitoral, fato que prejudica a democracia ao ponto em que hoje os estudos são mais importantes do que os candidatos.”
Na opinião da jornalista, mais do que um retrato do eleitorado, as pesquisas se transformaram num verdadeiro primeiro turno.
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