A campanha eleitoral em curso em Israel ignora o conflito com os palestinos, tema básico que irá definir o futuro do país.
Três semanas antes das eleições, que serão realizadas no dia 17 de março, o debate político que ocorre na mídia e nas redes sociais se concentra nos gastos exorbitantes na residência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no alto custo dos apartamentos em Israel, nas relações com os Estados Unidos e no programa nuclear iraniano.
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Agência Efe
Atual premiê, Benjamin Netanyahu, em frente à imagem de Theodor Herzl, tido como fundador do sionismo moderno
Netanyahu, que no dia 3 de março fará um discurso no Congresso norte-americano contra o acordo com o Irã, tem conseguido dominar a pauta do debate político com uma campanha baseada na fomentação do medo de que o país persa, antagonista de Israel, produza uma bomba atômica.
Sua viagem aos Estados Unidos, contra a vontade explícita do presidente Barack Obama, tem óbvios fins eleitorais — Washington é o principal aliado estratégico de Israel.
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A conselheira de Segurança Nacional de Obama, Susan Rice, chegou a dizer que o discurso de Netanyahu no Congresso será “destrutivo” para as relações com o governo norte-americano, porém essa declaração não demoveu o premiê de levar adiante o plano elaborado com o Partido Republicano para enfraquecer o presidente democrata.
Oposição
A oposição de centro-esquerda, conduzida pelo líder do Partido Trabalhista, Itzhak Herzog, vem tentando direcionar a pauta da campanha para temas socioeconômicos e também se esquiva de abordar o conflito israelense-palestino.
Agência Efe
Itzhak Herzog é líder do Partido Trabalhista e candidato opositor da coalizão de centro-esquerda às eleições do dia 17 de março
Herzog, acusado por Netanyahu de ser de “extrema-esquerda”, tenta criar uma imagem “patriota” e declara que “a meu ver Gush Etzion é essencial exatamente como Tel Aviv”, em referência ao grande bloco de assentamentos na Cisjordânia a sudeste de Jerusalém e sugerindo que no futuro esse território seria anexado a Israel.
As palavras “paz”, “palestinos” e “ocupação” não fazem parte nem do discurso de Herzog.
Cisjordânia e Faixa de Gaza
Enquanto isso, a situação dos palestinos na Faixa de Gaza é catastrófica e na Cisjordânia a Autoridade Palestina se encontra à beira de um colapso econômico.
Em represália à decisão do presidente palestino, Mahmoud Abbas, de aderir ao TPI (Tribunal Penal Internacional), Israel suspendeu o repasse de taxas de importação que recolhe para os palestinos, deixando a Autoridade Palestina sem meios para pagar os salários dos funcionários públicos.
Na Faixa de Gaza, centenas de milhares de pessoas continuam vivendo em meio aos escombros deixados pelos bombardeios israelenses em agosto do ano passado. Dos US$ 5 bilhões prometidos pelos países doadores para a reconstrução de Gaza, apenas US$ 130 milhões foram de fato transferidos.
Depois das eleições, seja quem for o próximo premiê — Netanyahu ou Herzog — Israel terá que voltar a se deparar com a realidade. Os 4 milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza não vão evaporar, apesar das tentativas de ignorá-los.
(*) Guila Flint cobre o Oriente Medio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro 'Miragem de Paz', da editora Civilização Brasileira.