O documento assinado nesta segunda-feira (17/5) entre Brasil, Irã e Turquia, após horas de diálogo mediado pelo governo brasileiro, é construtivo, avaliou o diplomata Luiz Felipe Lampreia, que foi ministro das Relações Exteriores durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Em entrevista ao Opera Mundi, Lampreia afirmou que o acordo é um avanço por ser uma “conquista diplomática e não sancitiva ou militar”.
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No dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Irã, Lampreia disse à agência de notícias italiana Ansa que o Brasil fracassaria na tentativa de diálogo com a república islâmica sobre o programa nuclear. “Eu acho muito pouco provável que ele [Lula] consiga algum resultado nesse assunto, porque já foi tentado muitas vezes e o Irã tem um objetivo nacional definido, no sentido de ter uma capacidade nuclear completa, inclusive de enriquecer urânio, para ter, se for necessário, bombas”, afirmou o diplomata no último sábado (15/5).
Apesar de reconhecer que o documento é um avanço, Lampreia afirmou que é possível que o governo iraniano continue a enriquecer urânio. “Precisa ver os termos do acordo”, disse o diplomata.
De acordo com o documento, o Irã deve enviar à Turquia 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 1.200 quilos de urânio enriquecido a 20%. No documento, assinado pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o país se compromete a dar informações sobre o processo à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e a negociar com o Conselho de Segurança da ONU.
“O problema não é o estoque de urânio que o Irã tem, mas a capacidade de produzir. Hoje, um porta-voz do ministério iraniano disse que vão continuar o processo. Se continuar, não adianta”, disse Lampreia. Ele se referia à declaração de Ali Akbar Salehi, diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, de que o país continuará a enriquecer urânio a 20%, porcentagem suficiente para produzir isótopos médicos em seus reatores, mas não suficiente para produzir armas nucleares. As potências ocidentais dizem temer, no entanto, que o país use este processo para produzir material (plutônio ou urânio enriquecido a 90%) para bombas atômicas.
Diplomacia brasileira
Para Lampreia, “se o impasse se resolver, será um resultado maravilhoso para a diplomacia brasileira”. Mas ponderou: “Se não, será um decepção”.
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No sábado, Lampreia havia afirmado que a postura de Lula não passa de “um jogo para o público interno”. “É dizer ao eleitorado e aos seus partidários que ele aceitou uma missão muito difícil e que foi lá e fez o possível em um assunto que tem a ver com a paz e a segurança mundial”.
Um porta-voz do governo norte-americano informou hoje que as dez cláusulas do documento ainda serão analisadas. Já representantes da França, da União Europeia, da Rússia e da Alemanha afirmaram que o acordo não é suficiente.
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