Procura-se um flautista: a fábula vira realidade. A cidade alemã de Hamelin, famosa pela fábula medieval em que um homem, através da música de sua flauta, conseguiu salvar o então pequeno vilarejo de uma praga de ratos, volta a ter fama em razão do mesmo problema, mais de 700 anos depois.
A Hamelin contemporânea, que integra o Estado da Baixa Saxônia, tem atualmente 58 mil habitantes. O turismo é uma de suas principais fontes de renda – muito por causa da própria fábula.
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O Rio Wesser passando por Hamelin, local onde sedeu o fim trágico da fábula do flautista
Nesta quinta-feira (24/05), no entanto, o porta-voz do Conselho Municipal, Thomas Wahmes, afirmou que os ratos são os responsáveis por roer os cabos que sustentam os fios elétricos da cidade. A região mais afetada é a da velha fonte próxima à estação ferroviária, desativada há algumas semanas.
Os principais culpados por esse crescimento da população de roedores são, na opinião do agente sanitário Günter Loschner, os turistas. Em entrevista ao jornal local Deister und Weser Zeitung, o funcionário público, responsável por caçar os animais, disse que os visitantes jogam pães em torno da fonte para alimentar os pássaros.
Pela noite, os roedores aparecem para ficar com as sobras. Em seguida, fogem pelos cabos e mergulham na calhas para comer. “O fator humano desempenha um grande papel”, reclama Loschner, que começa a ser chamado pela cidade como o “flautista de verdade”.
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Ilustração do início do século XX mostrando o flautista guiando os ratos de Hamelin para a morte
A imprensa local ironiza a situação, dizendo que, mesmo se o Flautista voltasse, ele teria muitos problemas para levar os roedores ao rio: o alto nível de poluição sonora, outro problema da cidade, poderia fazer com que os ratos se distraíssem, não ouvindo a melodia e se dispersando.
A fábula
A história do flautista gira em torno de uma praga de ratos que teria infestado o vilarejo em 1284. Sem conseguir resolver o problema pelos métodos tradicionais, as autoridades locais contrataram um misterioso forasteiro intitulando caçador de ratos, que prometeu resolver o problema. No acordo, foi prometido a ele uma moeda por cabeça de roedor exterminado.
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Para a surpresa geral, ele passou por toda a cidade tocando uma flauta seguido por uma fila gigantesca de roedores, que o seguiam hipnotizados. Ele os levou ao rio Weser e lá os animais caíram, morrendo afogados.
A população recusou-se a pagar pelo trabalho, alegando que ele não apresentou as cabeças dos ratos, e o expulsaram. Como vingança, o flautista voltou a Hamelin semanas depois. Enquanto todos os adultos se encontravam na igreja, ele passou pela cidade hipnotizando todas as crianças, que o seguiram e deixaram a cidade.
As versões para o final da história diferem muito. Em uma delas, elas ficam aprisionadas em uma caverna e não conseguem voltar. Em outra, o flautista é devidamente pago e as crianças retornam. Outra, considerada a oficial, é ainda mais trágica: o flautista as leva para o rio, onde morrem afogadas. E, segundo a fábula, desde então, Hamelin é um local onde não se encontram mais ratos nem crianças.
Uma das raízes da história é atribuída à um vitral na Igreja de Hamelin, por volta do século XIV, mostrando o flautista levando as crianças, e faria referência a uma tragédia, nunca esclarecida, que teria atingido a cidade cem anos antes. O flautista, nessa referência, simbolizaria a morte.