A comissão da ONU que investiga os crimes ocorridos na guerra civil na Síria acusou nesta segunda-feira (08/02) o governo de crimes contra a humanidade nas prisões, mediante atos de “extermínio, assassinato, estupro, tortura, desaparecimento forçado e outros atos desumanos”.
O grupo de juristas trabalha documentando as violações dos direitos humanos no conflito sírio desde finais de 2011. Segundo eles, fora do campo de batalha foi registrada uma “violência em massa sistematizada” nos locais de detenção, sejam oficiais ou informais.
O presidente da comissão, Paulo Sergio Pinheiro sustentou à imprensa que ninguém conhece o número de pessoas mortas em detenção e que “seria irresponsável lançar números” ou tentar determinar qual porcentagem corresponde a combatentes e a civis.
Agência Efe
Soldado da oposição síria ferido durante ataque aéreo
Foram realizados mais de 600 encontros realizados com pessoas que conseguiram sobreviver a algum período de detenção, antigos empregados de prisões ou familiares de detidos mortos. Segundo eles, as forças do presidente sírio, Bashar al-Assad, retêm “dezenas de milhares de pessoas” ao mesmo tempo em suas prisões.
Além disso, milhares desapareceram após sua detenção ou durante seu traslado entre prisões por meio de zonas controladas pelo governo sírio.
“Os relatos de centenas de detidos sobreviventes, sobretudo de instalações controladas pelas agências de inteligência sírias, expõem uma situação aterrorizadora da magnitude de violações”, aponta a comissão.
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Dos testemunhos recolhidos entre sobreviventes de prisões governamentais, “quase todos descreveram como foram vítimas ou testemunhas de torturas, ou tratos cruéis e degradantes”. Embora a maioria tenha sido testemunha de terríveis abusos cometidos contra homens, também foram documentados casos de mulheres e crianças mortos em custódia.
Segundo as evidências colhidas pela comissão, que inclui material documentário, “um grande número de mortes foram causadas pelas miseráveis condições de detenção”, semelhantes em todos os lugares analisados.
Nesses lugares, as celas estavam superlotadas, obrigando os detentos a permanecerem parados e dormir por turnos. Além disso, estavam infestadas de ratos e insetos, careciam de água potável e serviços higiênicos, as porções de alimentos eram mínimas e qualquer urgência médica era ignorada pelos guardas.
Agência Efe
Campo de refugiados na Síria, próximo à Turquia; cerca de 40 mil pessoas estão deixando a cidade de Aleppo
Sobre os locais de detenção controlados por grupos de oposição a Bashar al-Assad, a comissão denunciou maus tratos e execuções de soldados capturados. Foram acusados especificamente os grupos extremistas Frente Al Nusra e Estado Islâmico por “crimes de guerra”.
Pinheiro alertou que “o nível, a intensidade das atrocidades e o número de vítimas aumenta conforme se prolonga a guerra civil na Síria” e lamentou que o Conselho de Segurança da ONU — que considerou como a única instância capaz de mudar o rumo das coisas na Síria — não mostre interesse nisto.