A comissão criada pela ONU para investigar violações de direitos humanos na guerra da Síria denunciou nesta segunda-feira (16/09) o “aumento significativo” de crimes perpetrados por grupos opositores e combatentes estrangeiros que entraram no país árabe.
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“Brigadas inteiras são agora formadas por combatentes que ingressaram na Síria, com os Mujahedins como os mais ativos”, disse o presidente da comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, na apresentação do relatório mais recente da comissão ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Agência Efe
O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro (dir.) preside a Comissão de Investigação de Direitos Humanos da ONU para a Síria
As Brigadas de Mujahedins são um grupo jihadista formado para participar do conflito sírio e filiado ao grupo “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”, que por sua vez é ligado à rede terrorista Al Qaeda.
Pinheiro relatou denúncias e evidências do assassinato por parte de opositores extremistas de soldados em pelo menos uma localidade, de civis curdos em pelo menos três episódios diferentes e massacres em redutos alauítas, a minoria a qual pertence a família do presidente Bashar al Assad.
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Segundo a comissão, esses grupos sequestraram centenas de curdos no norte de Aleppo, em Al Raqqah e em Al Hasakah para trocá-los depois por presos opositores.
Os crimes denunciados pela comissão correspondem unicamente ao período compreendido entre o final de julho e início de agosto deste ano.
A equipe também denunciou as forças do governo sírio por bombardeios indiscriminados contra civis e por praticar sistematicamente a tortura em centros de detenção, inclusive contra crianças. “O governo continuou sua incansável campanha de bombardeios aéreos e ataques com artilharia em todo o país. Documentamos ataques ilegais em 12 das 14 governações (subdivisões políticas sírias)” da Síria, segundo Pinheiro.
Pinheiro descreveu que os ataques foram particularmente intensos em Damasco, Homs e Aleppo, assim como nas zonas rurais destas três cidades, enquanto “armas de fragmentação (proibidas pelas normas internacionais) continuam sendo usadas em Idlib”.
Para transmitir a dimensão do horror que vive a população síria, Pinheiro descreveu o ataque contra uma escola ocorrido em 26 de agosto em uma zona de Aleppo. “Uma bomba incendiária foi lançada de um avião, o fogo matou imediatamente oito alunos e outros cinquenta, entre 14 e 17 anos, sofreram terríveis queimaduras em 80% do corpo. Muitos deles não sobreviverão. Não há evidência de que houvesse nenhum alvo próximo da escola”, denunciou.
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Além disso, o presidente da comissão se referiu às operações atribuídas às forças do regime contra hospitais e equipes médicas, dos quais a mais recente ocorreu na quinta-feira passada, “quando aviões do governo atacaram o terreno de um hospital perto de Aleppo, matando onze pessoas e ferindo uma dúzia mais”.
Diplomacia
Também nesta segunda-feira, representantes diplomáticos da França, Estados Unidos e Reino Unido, após se reunirem em Paris com o presidente francês, François Hollande, para falar sobre a questão síria, pediram nesta segunda-feira ao Conselho de Segurança da ONU que aprove uma “resolução forte” sobre o conflito. Eles pedem garantias de “consequências sérias” caso os acordos de paz Genebra não forem cumpridos.
Agência Efe
Fabius, Kerry, Hollande e Hague (da esq. para a dir.) pedem em Paris “resolução forte” sobre conflito sírio à ONU
O ministro de Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, disse que o compromisso alcançado no sábado na cidade suíça entre a diplomacia dos Estados Unidos e Rússia para conseguir o desarmamento químico da Síria é “um avanço importante”.
“Não há solução militar para este conflito, a solução é política”, disse Fabius, que falou com a imprensa junto com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague.
O chanceler francês, anfitrião do encontro entre os três chefes diplomáticos em Paris, argumentou que para uma “negociação política é preciso uma oposição forte e para reforçar a oposição se organizará em Nova York uma reunião em torno do CNS (Conselho Nacional Sírio)”.
O ministro francês disse que o acordo de Genebra comprova que “a atitude de firmeza deu seus frutos”, já que o governo de Bashar al Assad se comprometeu a entregar as armas químicas que, até há pouco, negava sua existência. Agora o “acordo deve ser rapidamente aplicado” para anular a ameaça química, afirmou Fabius.
Por sua vez, O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, criticou o pedido ocidental de “resolução forte”. “Considero que, em certa medida, isto é tergiversar a realidade, já que com Kerry (secretário de Estado americano John) concordamos claramente como é preciso atuar, de acordo com o direito internacional”, disse Lavrov em entrevista coletiva segundo a agência Interfax.
(*) com agências de notícias internacionais