O agora ex-ministro das Relações Exteriores do Peru Héctor Béjar disse nesta quarta-feira (18/08) que a mobilização popular é um fator que pode “salvar” o governo de Pedro Castillo, defendendo que o Congresso, composto majoritariamente pela direita peruana, está “preparado para levá-lo à fogueira”.
Em entrevista concedida à jornalista Kris González, do jornal Correo del Alba, Béjar declarou que só deixou de chanceler, o qual ocupou por 20 dias no governo Castillo, a pedido do chefe de gabinete ministerial Guido Bellido.
Ele afirmou que não pretendia deixar o cargo e que sua saída teria sido motivada por uma campanha de difamação nas redes sociais encabeçada pela direita peruana e pelas Forças Armadas, com a circulação de vídeos que mostram Béjar comentando a relação da Marinha do Peru com o terrorismo no país nos anos 1970.
Tais vídeos também apontam o ex-chanceler dizendo que o grupo Sendero Luminoso teria vínculos com a Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos.
Ainda que as declarações foram realizadas antes dele assumir um cargo público, os vídeos foram suficientes para “desatar uma campanha da extrema direita contra mim”, declarou o ex-ministro.
Béjar disse ainda que o governo peruano vai ter que “pedir permissão às Forças Armadas para cada ministro que for designado” e que essa “tutela” é “inadmissível para um país democrático”.
De acordo com ele, o atual ministro da Defesa pediu que ele fizesse uma retratação pública pelas declarações. O ex-chanceler recusou.
“Os primeiros atentados terroristas aconteceram em 1974 e foram cometidos por homens da Marinha. Isso está na história. Se as pessoas querem apagar isso, podem tentar, mas não vão me obrigar a dizer outra coisa”, afirmou.
WikiCommons
Héctor Béjar declarou que só deixou o cargo público a pedido do chefe de gabinete do governo Castillo
Ele opinou que suas primeiras ações à frente da chancelaria foram outros detonantes para a pressão pela sua saída do cargo. Sobre o Grupo de Lima, Béjar disse que o agrupamento foi criado para “agredir” a Venezuela e que por má sorte foi abandonado por países membros.
“Quando entrei na chancelaria não encontrei nada sobre isso, já não existe no Peru”, afirmou, dizendo que só existe para a ultra direita peruana: “criaram uma situação que nesse momento é inexistente”.
Para Béjar, esse cenário confirma que as elites peruanas buscam impedir que o novo governo tenha uma política externa soberana. “Querem uma política subordinada aos EUA”, avaliou.
“A direita nunca reconheceu que o povo ganhou a Presidência. Até hoje o Peru foi governado por uma ditadura dos monopólios, grupos econômicos e meios informativos, que agora se surpreendem e não querem aceitar que a situação política e social do país mudou”, declarou.
Nesse sentido, ele aponta que o primeiro-ministro Bellido também está sofrendo retaliações ao ser investigado pelo Ministério Público por suposto vínculo com terrorismo. E que a única coisa que pode salvar o “professor Castillo” é a mobilização popular.
O atual presidente peruano ainda não confirmou quem será o ministro sucessor, mas assegurou que está avaliando nomes.
(*) Com Brasil da Fato.