A reunião de cúpula da Unasul, marcada para sexta-feira (28), promete discussões acaloradas sobre as bases norte-americanas na Colômbia, a política de Barack Obama para a região e outros assuntos que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, pretende fazer ecoar para não ser a “Geni” do encontro.
Já está decidido que a reunião será a portas fechadas, mas Uribe insiste que haja transmissão ao vivo pela TV, a fim de ter maior audiência para falar das supostas ligações entre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e os governos de Venezuela e Equador.
A Unasul decidiu realizar esta cúpula em caráter extraordinário para analisar a natureza do acordo militar e as possíveis consequências para seus membros. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou que está preparando a ruptura das relações com a Colômbia e disse que levará documentos militares norte-americanos que revelariam os verdadeiros objetivos das unidades que se instalarão no país vizinho e quais seriam as missões em toda a América do Sul.
O relatório servirá para “desmontar as mentiras” com as quais Uribe tentará provar que as tropas dos EUA só atuarão em seu país, segundo o líder venezuelano. Uribe, como um jogador de pôquer, dobrou a aposta. Sabe que boa parte dos presidentes pedirá explicações sobre as bases, alguns deles sem a menor polidez. Por isso, através do chanceler Jaime Bermudez, solicitou que o encontro seja televisionado.
“É muito importante que haja uma discussão aberta, completa, clara com todos os temas, sem objeção alguma, e nos parece muito importante que seja aberta aos meios de comunicação”, afirmou Bermudez.
Desde que a cúpula foi anunciada, o governo argentino avisou que os debates seriam reservados. Sequer os meios públicos de comunicação argentinos poderiam emitir o áudio e o vídeo do encontro, apenas imagens institucionais.
A intenção de Uribe, que realizou recentemente um giro pela América do Sul para dar explicações sobre o acordo militar, é dar visibilidade a temas que, na opinião dele, colocarão em maus lençóis Chávez e Correa. Bermudez traduziu isso numa linguagem mais diplomática. Disse que a Colômbia quer falar da “compra de armas de terceiros países, do armamentismo que pode existir e da presença de grupos terroristas na região”.
Enquanto isso, chega nesta quinta a Buenos Aires o subsecretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental de Estados Unidos, Christopher McMullen, que se reunirá com o chefe de gabinete argentino, Aníbal Fernández, para tratar das bases em território colombiano.
McMullen disse, ao visitar o Equador, que o acordo militar com Bogotá busca regularizar a assistência fornecida pela Casa Branca, mas afirmou: “Não temos intenção de construir bases na Colômbia”. E responsabilizou Uribe por não esclarecer bem os termos do acordo.
”Declaração de guerra”
Chávez já qualificou como “declaração e guerra” o acordo pelo qual forças norte-americanas poderão utilizar até sete bases em território colombiano em operações contra o narcotráfico e suspendeu importações de produtos colombianos. Anunciou a compra de 10 mil automóveis da Argentina que, a princípio, seriam adquiridos da Colômbia, e a suspensão de um acordo de fornecimento de combustível subsidiado a zonas fronteiriças com o território colombiano.
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“Estávamos apostando que, como em outras oportunidades, fossem considerados não só elementos políticos, mas de outra natureza, que permitissem resolver as diferenças”, disse hoje o presidente da Câmara de Comércio Colombo-venezuelana (Cavecol), Luis Alberto Russián, diante da perspectiva de uma ruptura nas relações entre os dois países.
O dirigente da Cavecol afirmou hoje que as operações nas alfândegas fronteiriças “são normais”, mas reconheceu que “a queda” na troca comercial “aparentemente se aprofundou”, por causa da nova crise política bilateral.
A troca comercial entre os dois países entre janeiro e julho alcançou US$ 3,128 bilhões, 17% a menos que no mesmo período do ano anterior, disse Russián. “Dependendo das medidas” que forem adotadas, o comércio bilateral pode cair entre 16% e 30% no fechamento do ano, acrescentou.
Leonardo Muñoz/EFE
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