* Atualizado às 15h54
“Eu tenho uma convicção”, disse Saeb Erekat, cercado por correspondentes estrangeiros, no último evento de sua visita ao Chile. “Creio que o presidente Barack Obama é um homem de paz, e que trabalhará por um acordo definitivo para a Palestina antes de terminar o seu mandato”, completou. Para Erekat, as conquistas diplomáticas recentes da Casa Branca com o Irã e com Cuba dão mais “esperanças” aos negociadores para que se avance na questão israelo-palestina — tema que ele acredita ser a próxima prioridade em política externa do governo Obama.
Nos últimos vinte anos, Erekat tem sido um dos mais ativos negociadores palestinos em busca de um acordo com Israel em favor da tese dos dois Estados. Ele já viu muitos acordos fracassarem, e outros terem sucesso no papel, mas não serem cumpridos na prática.
Agência Efe
Erekat (c.) visitou o memorial que homenageia Salvador Allende e participou de um colóquio com jovens judeus no Chile
Em julho, ele assumiu o cargo de secretário-geral da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), o que lhe coloca como um possível candidato a sucessor de Mahmoud Abbas na presidência da ANP (Autoridade Nacional Palestina) no futuro. A OLP é o movimento nacional palestino reconhecido pela comunidade internacional como representante legítimo dos interesses do povo palestino — é a OLP que representa a Palestina na ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo.
NULL
NULL
Em sua primeira viagem internacional, Erekat escolheu a América do Sul como destino, “por ser o primeiro continente onde tivemos o reconhecimento do Estado Palestino de forma quase unânime” – apenas Paraguai e Colômbia ainda não se manifestaram oficialmente sobre o tema. Suas duas paradas foram em Buenos Aires e Santiago, onde se encontrou com as presidentes Cristina Kirchner (Argentina) e Michelle Bachelet (Chile), e também com os respectivos chanceleres. No caso do Chile, país que abriga a maior comunidade de palestinos no continente americano, Erekat também se encontrou com representantes árabes locais.
Antes de iniciar sua viagem de volta à Palestina, Erekat conversou com os jornalistas estrangeiros, em Santiago. Leia os principais trechos da entrevista coletiva:
Como é viver na Palestina hoje?
Saeb Erekat: Hoje vivemos sob ocupação, e isso significa um estado constante de destruição, de atropelo dos direitos básicos e falta de insumo básicos. A maioria dos lares de Gaza não tem energia elétrica, faltam alimentos, medicamentos e água. É o que acontece quando se vive sob ocupação. A ocupação é a pior forma de terrorismo que existe.
Como a OLP trabalha para mudar essa situação?
SE: Diplomaticamente. Primeiro, a Palestina tem se organizado politicamente de forma correta, realizando eleições e mostrando sua capacidade de criar uma sociedade democrática, apesar de todos os problemas. Depois, contamos com o reconhecimento dos demais países. Escolhemos a América do Sul para esta primeira viagem justamente porque recebemos aqui um reconhecimento quase unânime, e um apoio à tese dos dois Estados, que é a que nós defendemos.
É curioso que a sua viagem seja ao Chile, país com a maior comunidade palestina do continente, e antes à Argentina, que tem uma das maiores comunidades judaicas.
SE: E não há problema nenhum nisso. Eu diria mais, não teríamos nenhum problema em nos reunir com as comunidades judaicas em qualquer país, e temos o apoio de muitas organizações judaicas em vários países, e também de judeus que vivem em Israel. É bom deixar claro que o judaísmo não é nosso inimigo. O judaísmo é uma das religiões mais importantes do mundo. Nem mesmo Israel é um inimigo, porque a solução que buscamos é a de que existam dois Estados. Viemos até aqui porque Argentina e Chile são dois importantes aliados, como também é o Brasil e quase todos os países da América do Sul, e dezenas ao redor do mundo.
É possível esperar um acordo a favor dessa tese? Em quanto tempo?
SE: Não podemos ter certeza, mas podemos ter esperanças. Já recebemos o reconhecimento oficial de 136 estados. O último deles foi o Vaticano, que veio junto com o apoio de uma figura importante como o papa Francisco.
No entanto, ainda falta o reconhecimento dos Estados Unidos.
SE: O reconhecimento dos Estados Unidos chegará. Eu tenho uma convicção. Creio que o presidente Barack Obama é um homem de paz, dedicado às grandes soluções pela via diplomática. Os avanços que a política externa estadunidense conseguiu recentemente com Cuba e com o Irã são prova disso, e prova de que ele não se importa com o quão complexo seja o tema. Tenho a convicção de que ele também dará prioridade à questão da Palestina, e que trabalhará por um acordo definitivo até o final do seu mandato.
Mas como fazer esse acordo valer sem o apoio de Israel?
SE: Esse é o principal problema. Não Israel em si, porque, como disse, nós buscamos uma solução que não desconheça o Estado de Israel, mas sim o seu primeiro-ministro. Eu tive a sorte de presenciar vários acordos entre palestinos e israelenses nos últimos vinte anos, e Benjamin Netanyahu foi o principal obstáculo para que eles pudessem ter sucesso na prática. Ele vem fazendo de tudo para sabotar todos os esforços, com um comportamento contraditório: assina acordos e depois não os reconhece, promete frear a ocupação enquanto fortalece e fomenta a expansão das colônias.
Recentemente, dois artistas brasileiros, Caetano Veloso e Gilberto Gil, fizeram um concerto em Tel Aviv, apesar do apelo da campanha pelo boicote aos produtos das colônias. Que opinião você tem sobre esse caso e o que pensa da campanha pelo boicote.
SE: A campanha é importante. Quando uma pessoa compra um produto das colônias, está comprando sangue palestino. Por isso, a postura de alguns países da União Europeia, onde os produtos da colônia tem uma etiqueta de aviso, ajuda muito nessa campanha. Eu não posso condenar artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, mas conto com a determinação deles e de todos os artistas do mundo por saber a verdade, por ir aos territórios ocupados e ver as milhares de casas destruídas, a falta de recursos mínimos, as crianças que não tem chance de aproveitar a infância. É muito difícil ser palestino em qualquer lugar do mundo, mas é muito pior na Palestina. Os artistas que já foram aos nossos territórios sabem que é urgente a necessidade de se criar um lar para os palestinos, um que seja respeitado.